quinta-feira, 28 de março de 2019

Questão de Responsabilidade


                                   

        É difícil de entender os ires e vires da polêmica sobre a Previdência entre os Poderes da República.
          Por onde se examinem as atitudes dos Poderes da República, se tem a impressão de que o desafio da Previdência não está sendo encarado com a seriedade que a questão faz por merecer.
           De longe, um observador teria uma visão de confronto de egos, que parecem ignorar a questão maior de que deveriam tratar, e lançar-se, ao invés, em inúteis e contraproducentes polêmicas, que a nada levam, a par de tornar mais difícil seja o exame do problema, seja a necessidade de resolvê-lo de modo a que venha a mostrar para as gerações futuras que os atuais poderes têm plena noção do desafio que lhes confronta, e da necessidade de encontrarem uma solução de consenso.
            Por onde se encare tal questão, tem-se a impressão de o que mais importante estaria em jogar pedras e outros obstáculos, de o que superar o nervosismo reinante, e a consequente insegurança, e criar condições para o exame e o devido encaminhamento do problema, que carece de ser resolvido, de forma abrangente e equilibrada, e, por conseguinte, em termos satisfatórios para a Sociedade.
             A república romana criara para encaminhar a solução de grandes problemas a figura do ditador - que nada tem a ver com a versão do termo na atualidade - eis que se tratava da escolha, por um período determinado, de uma grande personalidade que, pelas suas próprias qualidades, estivesse em condições de encaminhar e criar soluções para uma crise ou uma determinada situação que devesse ser atendida com a necessária urgência.
              Dentro do vezo atual de embaralhar e confundir, ao invés de encaminhar a questão - ou o desafio, em termos toynbeeanos - o que se impõe no presente momento é que as partes se compenetrem e, por conseguinte, se convençam do imperativo de um metafórico geral desarmamento.
               Dessarte, se pediria ao Presidente da república e ao Presidente da Câmara de Deputados, que desarmem os espíritos respectivos, e que, ao conscientizar-se da relevância da questão, procurem contribuir para a atmosfera conducente a criar condições para o exame da matéria, o seu devido encaminhamento e a consequente solução.
                Em outras palavras, ao invés de farpas, se criem condições para uma atmosfera compatível com o exame das questões e sua respectiva solução.
               Se me permitem uma linguagem toynbeeana,  os grandes desafios só são enfrentados, equacionados e, por fim, resolvidos, se a sociedade confrontada mostrar ter condições de resolver o problema de  forma duradoura e equânime. Aqui não se trata de imposição, mas sim de um debate amplo e respeitoso, em que as Partes confrontadas mostram estar à altura do desafio e, por conseguinte, de encontrar meios e modos de resolver o problema.
                  Como se trata de problema que confronta a sociedade em geral, a seriedade e o empenho de resolvê-lo deve ser acompanhado do respeito pela contraparte, o que é uma pré-condição que se aplica a todas as Partes que participam de sua discussão e encaminhamento desse desafio (para utilizar um termo empregado por A.J. Toynbee, que mesmo nos dias que correm conserva toda a relevância e pertinência).
                   Recomenda-se,  portanto,  às  partes envolvidas o desarmamento dos espíritos. Provocações e farpas não são os melhores instrumentos para colocar uma questão em julgamento. Assim, esse desarmamento se aplica a todas as Partes e constitui na verdade o ambiente ideal para a discussão ampla e bem-intencionada do problema e de suas soluções.
                    Ao Brasil interessa que se crie a ambiência apropriada e o consequente desarmamento dos ânimos para que a nossa sociedade encontre os meios necessários - sempre através do diálogo bem-intencionado - para equacionar os diversos problemas e eventuais desafios, como v.g. a questão da Previdência. Temos de ter presente o que interessa à sociedade como um todo, encarando os diversos problemas como desafios a serem resolvidos, com ânimos desarmados  e o consequente propósito abrangente de contribuir para as soluções respectivas.
                       Nesses termos, o respeito às instituições deve sempre prevalecer. Não aproveita a ninguém que, v.g., o Poder Legislativo recorra às chamadas "maldades" , ou às pautas-bomba, e sim legisle guiado pelos melhores princípios para que o bem-comum seja implementado. O respeito é uma condição sine qua non que se aplica a todas as Partes, e sob a óbvia premissa que o bem geral da comunidade deva ser atingido e implementado.
                        Nenhuma autoridade está excluída de tal imperativo, a começar pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República, a quem incumbe a criação das melhores condições para a nossa República e o Povo brasileiro em geral. A Sua Excelência e às demais autoridades. tanto do Poder Executivo, quanto do Legislativo e do Judiciário, é de esperar-se que a sua atuação se paute pelo respeito aos demais Poderes, e, por conseguinte, ao Povo Brasileiro que - e não por acaso - está no Preambulo da Constituição da República Federativa do Brasil, de cinco de outubro de 1988, assinada que foi por Ulysses Guimarães, enquanto presidente da Assembléia Nacional Constituinte.             
              
(Fontes:  Constituição da República Federativa do Brasil (1988)
Arnold J. Toynbee,  A Study of History )

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