sexta-feira, 29 de março de 2019

Guaidó cassado por quinze anos ?


                  

         O chavismo determinou ontem, 28 de março, que o líder opositor venezuelano Juan Guaidó não poderá exercer cargos públicos por quinze anos.
           Esta é a terceira medida contra Guaidó e seu entorno, em uma semana, tomada a reboque do chavismo, sob o mando de Nicolás Maduro, que intenta ignorar a pressão dos EUA contra ações que prejudiquem o opositor.
           Apesar de advertido pelo governo estadunidense de "consequências" caso o regime aja contra o presidente interino, desde a semana passada Nicolás Maduro acirrou a ofensiva contra Guaidó.
            Nesse contexto, Roberto Marrero, que é o chefe de gabinete do deputado, foi preso. Outrossim, a esposa de Guaidó declarou nesta quarta-feira que o regime vem intimidando  parentes de Guaidó, entre os quais o seu irmão.
              O acosso chavista  continua em outros níveis: Elvis Amoroso (sic) controlador-geral da república, aponta "inconsistências" em suas declarações de renda.  Ainda consoante a mesma autoridade, Guaidó teria recebido dinheiro "de instâncias internacionais e nacionais", que não foi declarado, para pagar diárias de hotel e viagens no interior da Venezuela e fora do país, desde que foi eleito deputado em 2015.
                Guaidó declarou que vai ignorar a punição:  "Ele nem é controlador, uma vez que quem designa o controlador é a Assembléia Nacional".  E o opositor aduziu: "Estão tentando meter medo nos hotéis que nos hospedam."  Assinale-se que o presidente interino da Venezuela está em uma caravana pelo interior do país, para preparar  uma grande marcha contra o regime, no próximo dia seis, para pedir a renúncia de Maduro. E acrescentou: "Seguiremos em nossa viagem."

                 Dentro da nova tática do regime, o controlador chavista disse também  que Guaidó conspirou com governos estrangeiros contra a Venezuela,  o que justificaria a pena máxima de perda de direitos políticos.  Constitucionalistas venezuelanos afirmam, no entanto, que o rito para o caso não foi respeitado pela Contraloria.
                    Se os trâmites cabíveis no caso fossem observados, o Tribunal Supremo de Justiça teria de apresentar um pedido à Assembleia Nacional para julgar a perda de imunidade de Guaidó. Tal pedido teria também de ser referendado pela Procuradoria Geral da República. Segundo analistas, o desrespeito a tal rito é indicativo de que o regime chavista não mais  respeita as instituições nacionais.
                    A tática de cassar os direitos políticos de lideres populares da oposição é prática comum no chavismo.  Tratamento igual fora dispensado ao renomado opositor Leopoldo López, nas eleições de 2012, quando ele articulava campanha contra o então presidente Hugo Chávez. Henrique Capriles sofreria o mesmo tratamento na campanha contra Maduro, em 2018.
                     No contexto do drama do apagão, Guaidó convocou novos protestos para amanhã, contra os apagões que infestam o país desde o dia 7 de março. Em resposta, Maduro pediu aos chamados "coletivos" - grupos chavistas, que na verdade são paramilitares, além de integrados por elementos da mala-vita - "tolerância" zero com protestos violentos e bloqueios de rua. Para o governo, a energia já teria voltado para a maior parte da Venezuela.
                        Assinale-se que o imperante chavismo anulara a competência legislativa da Assembleia Nacional poucos meses depois da vitória da Oposição nas eleições de 2015. Para tanto, se serviu do sólito argumento das ditaduras contra os órgãos democráticos de oposição. As tais "fraudes" nunca foram comprovadas, mas serviram de pretexto para a "convocação" da chamada Constituinte dos Bairros,  que foi eleita fraudulentamente - o chavismo serviu-se dos ditos "barrios" e de outros redutos do regime para a empulhação da chamada Assembleia Constituinte, que está sob controle da notória Delcy Rodriguez.  Para desmoralização desse regime espúrio, a criação e eleição da dita Assembléia Constituinte contrariou a todas as regras da democracia - a começar pela universalidade do sufrágio e ambiente livre de fraudes e de coações - como de resto atestara a empresa europeia encarregada da realização do processo, que para vergonha do chavismo foi taxado de fraudulento.
                        Com a "reeleição" de Maduro, em 2018, marcada tanto pela coação da oposição, que fora impedida de concorrer,  quanto pela sólita pluralidade da fraude cada vez mais desavergonhada,  essa mesma oposição muda de estratégia.  Invocando dois artigos da Constituição - que tratam da vacância da Presidência - Guaidó, o novo presidente da Assembleia, declarou-se chefe de estado interino.
                 Em termos jurídicos, tal ocorreu porque na visão dos membros da Assembleia Nacional, ao vencer uma eleição manchada pela fraude generalizada, o candidato do chavismo não poderia assumir o cargo de Presidente,  que estava ipso jure vago.
                  A reação internacional, liderada pelos Estados Unidos, reconheceu a ilegalidade da investidura de Nicolás Maduro, e a consequente legalidade de o que é reivindicado pela Oposição, notadamente a validade da postulação de Juan Guaidó, como presidente da Assembleia Nacional, e por conseguinte presidente, interino, da Venezuela.Mais de cinquenta países reconhecem a validade dessa titulação, dentre eles o Brasil.
                    Assinale-se que o candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad censurou a então presidenta do PT Gleisi Hoffmann, por ter ido à cerimônia da  posse de Nicolás Maduro, malgrado as condições de fraude que presidiram a tal processo eletivo.

( Fontes: O Estado de S. Paulo; Vide também blogs anteriores do autor sobre o tema)

Nenhum comentário: