quinta-feira, 14 de março de 2019

Estamos virando Estados Unidos ?


                                 

        Em um de seus filmes sobre a tragédia das matanças estudantis nos Estados Unidos, intitulado Bowling for Columbine, Michael Moore, com a sua carteirinha de membro da associação vai visitar Charlton Heston, que era o diretor de pessoa jurídica que é a defensora do armamentismo americano sabe-se lá contra quem.  A cena,  na verdade, é tragicômica porque a tal associação tem apoio garantido no Congresso americano, que teme o lobby das armas e a própria cínica defesa de uma das primeiras emendas da Constituição estadunidense, dos tempos primevos em que os cidadãos da jovem república das Américas se armavam para defender-se contra os selvagens indígenas, que buscavam, cruéis, defender as próprias terras.  
          Ao ver na tv ontem, e hoje nos jornais, dir-se-ía que voltamos a imitar os States, com os velhos rancores de antigos alunos que retornam à escola para ajustar macabras contas, sabe-se lá porquê, como acaba de suceder em Suzano, na grande São Paulo, em que uma dupla de ex-alunos invadiu a escola para liquidar estudantes e funcionários do colégio, culpados que seriam de uma vivência comum, povoada de rancor e ressentimentos.

            Que velhas, intratáveis raivas a dupla queria exorcizar, matando a torto e a direito? Pois um adulto e um adolescente assassinaram pelo menos sete pessoas  - cinco estudantes e duas funcionárias, além de ferir mais onze em ataque contra a escola estadual Professor Raul Brasil, na manhã de ontem, treze de março.

              Com a chegada da polícia, a terrível reinação acaba como sóem findar tais reinações - o adulto, Luis Henrique de Castro, com vinte e cinco anos, mata  o adolescente Guilherme Monteiro,de dezessete anos, e, em seguida, se suicida.
  
             Na macabra preparação do massacre - que semelha cópia-xerox de desatinos que se tinha a impressão só pudessem ocorrer nos Estados Unidos da América - deparamos um ritual se desenrolar: a doentia maquinação  de uma eliminação coletiva de pessoas que terão para os autores-vítima, decerto cargas pesadas, que despertam rancores que, pelo visto, só podem ser lavados em sangue. Que fundas mágoas são essas que estão na raiz dessas raivas incontidas e selvagens, encenadas em ambiente em geral confundidos com doces, irrelevantes memórias infanto-juvenis?
  
             Que fundos ressentimentos levaram tais assassinos a chegar ao requinte de eliminar também bedéis e, porventura, os mestre-escola, como se até essas anônimas  criaturas contaminassem pela respectiva presença - e quem sabe até conivência - as ofensas e os delitos que os ex-alunos anseiam agora lavar com o profundo desespero dos rancores da adolescente  violência e o sangue dos massacres, que carregarão para o dantesco inferno as maldições de tempos que outros, com a sua deformada memória, carimbam de próprios para jogar na vala comum de recordações sem outra estória do que aquela por que passa o rio do Letes?      
                    

( Fontes: Folha de S. Paulo; Inferno, da Commedia de Dante Alighieri , AMB)


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