domingo, 3 de março de 2019

Moro e as contradições do Poder


                              

         Terá atraído tanto a dourada oferta do Presidente Bolsonaro do posto de Ministro da Justiça ao Juiz Sérgio Moro, que Sua Excelência não hesitou em desvencilhar-se dos austeros ônus da magistratura - através da qual e de uma pluralidade de sentenças, ganhara  a admiração de muitos brasileiros - e assumir o cargo ministerial de maior antiguidade na escala da República, e que veste o consequente resplendor hierárquico.
             Esqueceu-se, porém, que, com os ouropéis do mando governamental,  o magistrado se despedia da liberdade anterior de ditar sentença, conforme aos respectivos princípios, para tanto consultados apenas a Lei e o próprio autônomo sentir.
               Em verdade,  com o ouro e o incenso com que lhe visitava o Poder, ao mesmo tempo lhe retirava, no instante da elevação, ao lhe revestirem os ouropéis do alto cargo executivo,  na emoção de tal honraria, a antiga liberdade, submetido que estava agora a um poder mais alto.
                Em outras palavras, a velha fábula do cachorro nédio e lustroso, mas com coleira, e do cão magricela que ronda as ruas, sem argolas a lhe tolher o livre movimento. De que vale o pomposo, mas enganoso cargo, se não se é mais senhor do próprio nariz?    

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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