Na virada do
século, saí de Argel e, nesse contexto, bem me recordo da longa audiência que
me concedera o presidente Abedelaziz Bouteflika, que então iniciava o seu
regresso ao poder na Argélia.
Apesar de um contato esparso - chefes de estado não são figuras fáceis -
depois de um couscous na residência
de um amigo comum, Bouteflika - que,
após uma longa eclipse, voltava à cima
do poder - haverá simpatizado comigo. Não terá atrapalhado o relacionamento as
circunstâncias que já estivesse faz
tempo na antiga colônia francesa e que nos encontrássemos na mesma faixa
etária.
Bouteflika despontara ainda na mocidade como um dos maiores valores na
nova geração de líderes argelinos. Pela própria popularidade, incomodava a
velha geração, e daí muitos dos problemas que teve para galgar o poder.
Pessoalmente, era de trato afável, mas hoje, pelas notícias, com os
protestos estudantis, a reação dos jovens a mais outros anos dele na presidência,
o levou a prometer que se eleito, renunciará a meio do mandato.
Ele está há vinte anos no poder. Ontem, prometera aos argelinos, em
carta lida na rede nacional de tv, que, se reeleito não terminará seu novo mandato e convocará eleições antecipadas, para então
se aposentar.
Segundo circula, ele
estaria hospitalizado na Suiça, em Genebra, onde passa por "exames médicos
periódicos".
Não há previsão de
regresso imediato ao país. Há outros líderes, como o general Ali Ghediri, já na
reserva, que apresentou a candidatura na manhã de ontem.
Por sua vez, o fantasma
da guerra civil, que Bouteflika encerrara em 2002, costuma ser levantado de
forma ritual, por vezes, como
empregado recentemente pelo primeiro
ministro Ahmed Uyahia, à guisa de alerta aos manifestantes quanto aos riscos da
radicalização dos protestos.
Nesse aspecto,
o temor permanece sobretudo no que tange ao comportamento das forças de
segurança, diante de um eventual crescimento das manifestações. Com elas, na Argélia, costuma estar a chave do poder.
(
Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo)
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