Até pouco tempo, a NRA podia continuar com o seu cínico e mortal sorriso, que se
escudava em uma das primeiras emendas à Constituição americana, aquela que dá
direito ao cidadão para armar-se por causa das perigosas incursões de
indígenas, incompreensivelmente em revolta diante da ocupação de suas terras
pelos colonos americanos.
De tudo houve nessa luta para impedir
que a NRA continuasse a vender armas
à tripa forra, sem qualquer limitação, mesmo aquelas espicaçadas pelos inúmeros
massacres de jovens, menos jovens, e até crianças, como no episódio de
trucidamento de inocentes por um bandido fortemente armado, no Leste Americano.
Foram os infantes que morreram que
fizeram Barack Obama ir a tal escolinha em Rhode Island, e fazer choroso,
plangente apelo à National Rifle Association e ao Congresso americano, para que
afinal baixassem alguma determinação de bom senso para controlar aquele cínico
massacre.
Que fosse massacre a palavra era
inteligível até para cínicos legisladores. Mesmo assim, diante do absurdo de
que psicopata realizasse massacre em uma instituição para crianças e infantes,
nada disso foi suficiente para que os todo-poderosos da National Rifle
Association fizessem qualquer movimento para retirar dos americanos todos,
inclusive bandidos e psicopatas, o imundo direito de servir-se das armas para
matar crianças e toddlers.
Mas parece que agora surge gente de
outra têmpera, que saberá transmitir mensagem que a NRA e toda a cáfila dos
portadores de arma, e por isso potenciais matadores, como o penúltimo de Las
Vegas e o último na Escola Ginasial, em Parkland Florida, como Emma González.
Com quatro minutos e 26 segundos de
silêncio, antecipando as próprias palavras a estudante Emma González, falou
perante dezenas de milhares de Demonstrantes na
Marcha por nossas vidas, em Washington, DC. Descreveu os efeitos da violência armada, e
recitou os nomes dos colegas que foram mortos.
Precederam-lhe a fala os citados quatro minutos e 26 segundos,
o tempo gasto pelo assassino que deixou dezessete alunos estupida e
selvagemente mortos.
É tempo para que cessem os apelos
chorosos, que a NRA e sua malta cinicamente desconhecem. Depois de cessar de atirar, o matador da vez
largou o rifle e se misturou com os alunos que corriam, pensando escapar da
fúria assassina. Ele caminharia livre por uma hora, até ser preso.
"Lutem por suas
vidas, antes que isso vire trabalho de outrem", e depois Emma González desceu
do palco.
Em assembléias reunidas através dos
Estados Unidos, muitos oradores - a maior parte, estudantes - denunciaram a
violência das armas de fogo e se comprometeram
a não deter-se "diante de nada" antes que seus líderes eleitos
agissem para prevenir a violência pelas armas.
E as fotos tomadas das manifestações de
protestos tendem a indicar que as chamadas dos cidadãos por ações contra a
violência pelas armas podem estar crescendo e se avolumando em modos e maneiras
que não foram vistos ao ensejo de outros fuzilamentos de massa.
Em outras palavras, ver e ouvir
seus jovens colegas, inocentes e desarmados, serem abatidos por psicopatas
armados pode afinal estar conscientizando a gente jovem americana, cansada pela
covardia dos parlamentares diante da National
Rifle Association e das numerosas e cínicas deturpações do alegado direito
às armas - sem qualquer limite, como comprovado em Las Vegas, pelo psicopata da
vez - está pronta a fazer sentir o próprio Basta! a tamanha hipocrisia - que
encobre tantas mortes estúpidas, que também respingam sobre os políticos - de
presidente a legislador, escada abaixo - que mais se assinalam pela
covardia e o cinismo que é um outro nome de quem lava as
mãos, com as cínicas lágrimas respingando na bacia de Pilatos.
(Fontes: The New York Times; Rede Globo )
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