De todos os líderes democráticos na
Venezuela, Leopoldo López é o que tem mais carisma, e o que mais sofreu nas
enxovias do regime. Por isso, padeceu a tortura, o isolamento, e as brutais
variantes aplicadas pelos cruéis regimes carcerários hoje ministrados nos porões
da ditadura chavista. Na penitenciária de Ramo Verde, um dos mais duros calabouços
do sistema prisional da Venezuela, passou por horas muito difíceis, sendo
submetido a todo tipo de tratamento, inclusive tortura.
Hoje, após negociação com o governo
ditatorial, ele se acha em prisão domiciliar na companhia da esposa e dos
filhos menores. Está na própria residência, em bairro elegante de Caracas. Por ordens da ditadura, não pode
receber ninguém, e a casa é cercada pelo serviço secreto. Hoje, nesse cárcere residencial, em que ao conforto do lar
acompanha a perene ameaça da própria perda, caso sejam desobedecidas as
condições impostas pelo Poder chavista, haverá sempre nessa atmosfera doméstica
a tensão que a esposa Lilian sente, mas
não as alegres crianças que correm pela residência. Se as condições do
carcereiro-mor forem desobedecidas, o inferno do ergástulo de Ramo Verde pode
voltar e fazê-lo desaparecer uma vez mais, com todas as implicações de
padecimento físico e psíquico que tal costuma exigir.
Nessa estranha prisão, em que a
tortura se aninha em condicional ameaça, será dificil ao ser humano ignorá-la
de todo, mas a pressão psicológica tenderá a crescer se o indivíduo já a sofreu
em passado recente, e terá verificado dos próprios limites da respectiva
capacidade de suportá-la, sem a quebra da própria consciência e das
consequentes potencialidades de resistência psíquica, vale dizer até que ponto
a sua razão irá suportar o desafio da tortura, na sua ampla gama de sádicos,
miseráveis recursos. Em outras palavras, diante do torcionário([1])
do regime chavista, quais serão as próprias potencialidades de superar o "desafio"
de arrancar-lhe segredos.
Como refere o artigo de Willian S
Hylton, Leopoldo López suportou quatro anos de cativeiro e nove meses de
confinamento solitário. Assim, as lições de Martin Luther King Jr. podem não
parecer as mais óbvias para a leitura de López, mas se lermos a mensagem de
King da cadeia de Birmingham, entendemos porque López as sublinhe com tinta
verde: "Nós que nos engajamos em ação direta não-violenta não somos os
criadores da tensão. Nós trazemos apenas para a superfície a tensão oculta que
já existe". E o pastor King escreve uma frase conclusiva, que López sublinha
"A injustiça tem de ser exposta, a despeito de toda a tensão que a sua
exposição possa criar."
Leopoldo López foi preso em fevereiro de 2014, após liderar marcha de
protesto público em Caracas. Embora, ele não haja participado da violência, ele
teria dado margem, segundo acusaram os promotores chavistas, de incitar outros
a ódio e violência. Antes da sua prisão,
ele estava entre os mais proeminentes e populares líderes da Oposição. Os
promotores chavistas no processo organizado pelo governo Maduro, reconheceram
que técnicamente ele foi pacífico, mas teria incitado outros ao ódio e à
violência. De toda maneira, tal acusação
não poderia justificar, pela sua falta de provas, que ele fosse sentenciado a treze
anos e nove meses de prisão. Ditadura e a absoluta falta de equidade são
evidenciadas por sentenças como esta, fundadas menos em provas, do que no
cínico interesse do poder dominante, que, se a razão não existe, ele trata de
criá-la.
Desde então, ele se tornou o mais
proeminente prisioneiro político na América Latina, e mesmo talvez no mundo. O
seu caso tem sido objeto do empenho das principais organizações de direitos
humanos no mundo. Ele é representado pelo advogado Jared Genser - que é
conhecido como o "extrator" pelo seu trabalho com prisioneiros
políticos como o finado Liu Xiaobo, Mohamed Nasheed e Aung San Suy Kyi, hoje
líder política em Mianmar, a notória ditadura militar.
Dentre os líderes políticos
mundiais que pediram ao Governo Maduro que liberasse López estão Angela Merkel,
Emmanuel Macron, Justin Trudeau (Canadá) e até Theresa May (Reino Unido). Como assinala William Hylton, é um dos raros
exemplos em que Barack Obama e Donald Trump estão de acordo.
Na Venezuela, López é uma espécie de
símbolo. O seu nome e rosto aparecem em cartazes, T-shirts e bandeiras - mas segundo assinala Hylton há amplo
desacordo sobre o quê ele significa. O
Governo chavista o menospreza de forma rotineira, como um reacionário de
direita da classe dirigente que deseja reverter o progresso social do chavismo
e restaurar no poder a aristocracia mega-proprietária de terras; por sua vez, a
direita venezuelana considera López um neo-Marxista, cuja proposta de
distribuir a riqueza petrolífera do país entre o povo só aprofundaria a agenda
chavista.
Durante três anos e meio de
prisão, López não permitiu que alguém falasse em seu nome. Ainda que estivesse proibido de
conceder entrevistas ou dar declarações públicas, e até denegado acesso a livros, papel, esfereográficas e lápis, ele
conseguia escrever mensagens em pedaços de papel para que sua família
(notadamente a esposa Lilian Tintori) repassasse ao público. Chegou mesmo a
gravar um punhado de clandestinas
mensagens de áudio e video, denunciando o governo Maduro.
López foi libertado e
transferido para prisão domiciliar em julho passado, sob a condição de manter
silêncio. Prontamente, ele galgou a cerca por trás de sua casa, para discursar
a um público crescente. Em seguida, transmitiu uma mensagem em video pedindo
aos seus seguidores que resistissem ao Governo. Três semanas depois, ele estava
de volta na cadeia. Depois, de quatro dias foi libertado novamente.
E, no entanto, para a grande
perplexidade de seus apoiadores, López desapareceu das vistas do público. Quando seu país afunda em uma crise sem precedente -
com o mais alto nível mundial de inflação,
falta extrema de alimentos e remédios,
repetidos, constantes mesmo apagões de luz e energia, milhares de
crianças morrendo de desnutrição, crime em alta em todas as províncias, saques,
assaltos e motins nas ruas - e López não diz nada.
Hoje os seus críticos incluem não só a linha
dura da esquerda e da direita, mas também a grande maioria que antes o via como
um futuro presidente. Eles não entendem o que López está fazendo dentro de casa, metido naquela
rua sombreada de árvores nos bairros ricos
de Caracas, mas eles suspeitam que ora se sente confortável na sua casa, reunido
com a sua mulher, Lilian, e os filhos; que a sua riqueza familiar o protege da
crise econômica; que a polícia secreta que cerca a sua residência o protege do
crime em alta; e eles não conseguem não pensar se por acaso Leopoldo López
acabou desistindo.
No entanto, eles sabem, tanto
quanto ele sabe, que se ele fizesse uma
declaração pública ou divulgasse outra mensagem por video, se ele subisse na
cerca atrás da casa para discursar para os seus partidários, a polícia secreta
logo trataria de levá-lo de volta para a prisão. Mas o problema está em que López nunca
permitira no passado que o risco de
prisão o impedisse de agir. Ele teria ao menos uma chance de falar em público,
e eles se perguntam por que ele não faz nada.
O reporter do Times contactou Leopoldo através
de um intermediário, e para tornar menos inseguras as comunicações, ambos
utilizaram um obscuro serviço de vídeo, muito menos conhecido do que o Skype ou FaceTime, além de outros macetes para garantir maiores garantias
nas comunicações. Mas as intervenções da Polícia nas suas diversas encarnações
eram amiudadas, e as atrapalhavam bastante.
O remédio era ter paciência e aguardar o tempo necessário para
realizá-las.
Fala-se muito das diferenças
entre o fundador da dinastia chavista, Hugo Chávez, e o seu herdeiro, Nicolás
Maduro. Na verdade, se Hugo tinha
carisma, atributo que Maduro não tem, as diferenças entre um e outro são mais
de grau do que de natureza. Depois de sua primeira eleição democrática - após o
golpe fracassado de 1992 - Chávez, uma
vez eleito, em 1998, prometeu combater a
corrupção, diminuíu pela metade o
desemprego, dobrou o PNB, baixou a
mortalidade infantil por um terço, e reduziu o nível de pobreza quase pela metade.
Por trás disso tudo, estava
o aumento do barril de petróleo (multiplicado por dez). A desigualdade na
Venezuelal caíu para um dos níveis mais baixos no Hemisfério Ocidental. Era
popularíssimo entre os pobres e punha as suas propostas para serem votadas em
referenduns a cada ano. Nesse sentido, ele introduziu os referenda por pressão
de polegar e um recibo impresso, num sistema eleitoral que Jimmy Carter
definiria "o melhor no mundo".
Sem embargo, Chávez também
possuía um impulso autocrático que era,
desde o início, inquietante. Durante os
seus catorze anos no poder, ele desmantelaria as instituições democráticas uma atrás
da outra.
O articulista do Times se pergunta como
chamar um líder que destrói a democracia com apoio democrático. É possível
assim ver a Chávez como um totalitário
ou tirano, pela supressão de seus opositores, mas ao mesmo tempo
rejeitar o termo "ditador" para descrever esse presidente
popular.
Chávez não fazia segredo
do seu menosprezo pelo então sistema político da Venezuela. Não podia sequer conter-se no seu primeiro
juramento constitucional na sua posse, sem improvisar uma promessa de
reescrever a Constituição. Promessa
feita e logo cumprida, consolidando o poder chavista em detrimento do
Legislativo e das Cortes Judiciais.
Qualquer limite que
Chávez estivesse disposto a aceitar sobre o seu poder, de repente sumiu no ar,
em abril de 2002, quando uma Junta militar e um grupo de líderes de direita
tentaram derrubá-lo em um golpe. Por
cerca de 36 horas instalaram no poder como presidente alguém chamado de Pedro Carmona, que era o principal
líder empresarial do país.
Mas a velocidade
impressa à subversão das instituições foi tal que faria ruborizar o próprio Hugo Chávez. Nessa única jornada, ele dissolveu o
Congresso e a Suprema Corte, rasgou a Constituição, e começou a expurgar os
militares daqueles leais a Chávez.
Era demais, mesmo para
os críticos do chavismo. As ruas de Caracas explodiram em protestos, e a
multidão baixou sobre o Palácio Presidencial.
Dessarte, logo Chávez
estava de volta ao poder, um pouco abalado é verdade pelo susto que passara, mas
logo cuidando de consolidar-se o mais rápido possível. Mas na sua reação,
arremedou Cármona, perseguindo os rivais, pondo a Justiça em cima de seus
rivais, e impondo tantas restrições na indústria que o setor privado tenderia a
desaparecer.
No entender de William Hylton
pode-se ver a década entre o golpe de Carmona e a sua morte em 2013, como um
processo gradual de sangrar os recursos públicos para o consumo do Povo. No
entender de Hylton, Chávez não era muito
bom na direção da economia. O seu
orçamento gastou a renda das cotações do petróleo, então nas alturas, bem como
o seu controle do organismo estatal do petróleo venezuelano se mostraria
desastroso. Para Chávez as reservas de petróleo eram um recurso finito, e por isso fazia sentido restringir a produção e fazer
subir a cotação de cada barril. Essa maneira de pensar é muito
debatida, e, na verdade, desmentida. Os
produtores estão constantemente desenvolvendo novos meios de encontrar e
acessar o petróleo. Entre a revolução americana no xisto e a concorrência
crescente da energia alternativa, a maior parte das companhias petroleiras na
atualidade desejam extrair o petróleo na
maior quantidade e tão rápido quanto possível.
No entanto, Chávez
não era um bom administrador. Quando assumiu o poder na Venezuela, a companhia
estatal produzia cerca de 3,4 milhões de
barris diários. Era seu plano dobrar tal produção. No entanto, através de uma combinação de suas
confusas teorias e a omissão de investir na companhia, além de confiá-la a seus
capangas e não a gente do métier, a produção de petróleo da Venezuela cairia
pela metade! Para completar o cenário
desfavorável, as cotações do petróleo também caíram de forma considerável nos
últimos anos, por uma sucessão de fatores - superprodução, luta pela hegemonia
entre outros gigantes do petróleo, como Arábia saudita, etc.
Como pelas razões acima
expostas, a Venezuela não dispõe de produtos de igual monta para vender
(segundo as estatísticas, o petróleo corresponde a cerca de 95% das rendas de
exportação da Venezuela). Dessarte, muito desse petróleo é exportado para a
Rússia e a China, em troca de pagamentos para a dívida nacional da Venezuela.
Compreende-se que esses dois países detenham o direito a receber parcelas
crescentes da produção venezuelana... de petróleo. Por mais desesperado que fique
o regime de Maduro, tanto melhor para Moscou e Beijing.
Então, como explica
William S. Hylton, temos uma cascata de dominós: cada vez menos petróleo, em
cotações cada vez mais baixas, com nada mais para vender, e uma dependência das
divisas estrangeiras sob o compromisso de rendas futuras prometidas. A última ficha nessa cascata é a divisa
nacional da Venezuela. Como a renda nacional mergulhou, deixando um vazio no
orçamento anual, Chávez e Maduro recorreram ao Banco Central para imprimir mais
dinheiro. Por isso a quantidade de bolívares venezuelanos cresceu
exponencialmente nos últimos anos.
Quando Maduro
assumiu o poder em 2013, a base monetária da Venezuela era de cerca 250 bilhões
de bolívares. Hoje, é superior a 60
trilhões.
Se é norma
não-escrita, mas geralmente respeitada, a maior parte dos países publica
relatórios oficiais da inflação. O
Governo da Venezuela cessou na prática qualquer comunicação a respeito. O
professor Steve Hanke, da Universidade John Hopkins, tem assessorado governos
sobre a inflação fora de controle, como o fez com a Venezuela em 1995. Hanke
tem acompanhado de perto a economia venezuelana pelos últimos cinco anos,
publicando uma estimativa diária da inflação anual do país. Na data do
escrito de Hylton, a sua estimativa mais
recente é de 5,220 porcento. O IMF prevê
que a inflação na Venezuela alcançará 13,000 % neste ano.
Segundo
descreve o New York Times, é isto que
o observador vê nas fisionomias das pessoas na ponte deixando a Venezuela.
Vê-se gente tentando escapar de um país em que os produtos básicos são quase impossiveis de
encontrar e caríssimos (o que V. pagaria por um carro há poucos anos atrás, não
compraria um pedaço de pão hoje). Há famílias com bagagem de porão e sem planos
para regressar, e crianças que estão cruzando a ponte por um dia, sem nada mais
que um cacho de bananas. Elas venderão as bananas por uma miséria em pesos
colombianos, e voltarão para casa para converter aquele dinheiro em uma pequena
fortuna em notas venezuelanas - pelos menos, por alguns dias, até que o seu
dinheiro perca qualquer valor de novo.
Biografia de
Leopoldo López
Ele nasceu nos ricos
enclaves a nordeste de Caracas.Seu pai, Leopoldo Lopez Gil era chefe de um
programa de bolsas, que era um dos membros da junta editorial de um jornal de
centro-esquerda. Sua mãe, Antonieta Mendoza, era parente distante do primeiro
presidente da Venezuela, Cristóbal Mendoza e de Simon Bolívar. Cada ramo da família tinha longas tradições
de ativismo político e de oposição. López cresceu ouvindo histórias dos
dezessete anos de seu bisavô na prisão e
do papel de seu avô na resistência clandestina. "Sempre ouvimos essas
estórias", a sua irmã Diana me disse. "Penso que estavam sempre na
memória de Leo." López disse que gostava
da história em parte porque parecia tão estranha, fotos de um país que
ele não podia imaginar. "Eu a via como de um passado longínquo em fotos em
preto e branco". me disse Leopoldo. "Nunca pensei que no 21º século,
minha própria realidade poderia ser parecida".
A Venezuela que López habitava era
o país mais rico na América Latina.
Recebia dezenas de milhares de imigrantes a cada ano e era uma democracia desde
1958. Praticando o skateboarding, nadando, louco por garotas, López com treze
anos estava muito afastado das desigualdades sistêmicas do país. Ele estava em
uma viagem do colégio para o estado rural de Zulia, atravessando os campos de
petróleo da região, quando se descobriu de repente movido pela pobreza ao seu
redor. "Fiquei chocado com o nível de pobreza," ele recordou, "e
o fato que debaixo daqueles barrios muito humildes e a dramática pobreza, nós
tinhamos um enorme potencial."
Diana me contou que López começou a fazer viagens para a Caracas
ocidental "para tentar entender as dinâmicas da cidade." Na escola, ele mergulhou na liderança
estudantil, tornando-se vice-presidente do governo estudantil e capitão do time
de natação.
Depois da universidade, López
entrou por breve tempo na Harvard Divinity School mas a deixou depois de um semestre
para alistar-se na Escola Kennedy de Governo, em Harvard. Ele terminou uma tese
de mestrado sobre a estrutura legal e econômica da produção de petróleo na
Venezuela, e viajou pela Nicarágua e Bolívia para estudar o impacto dos
micro-empréstimos. Em 1996, voltou para casa por uma colocação no escritório de
planejamento estratégico da companhia estatal de petróleo.
Observando a ascensão de
Chávez em 1998, López não ficou impressionado. "Desde o estabelecimento da
república venezuelana em 1830, tivemos
na maior parte militares no governo," ele me disse. "E isto criou uma maneira
militarista de governar." Perguntei a López se houve algum ponto em que
ele reconsiderasse a sua opinião sobre Chávez. "Por um dia", me disse
ele com um riso. "Quando ele falou sobre microcréditos para os
pobres."
Quando Chávez assumiu o poder
e começou a fazer planos para reescrever a Constituição, López fez campanha por
uma cadeira na Convenção constitucional. Aquela eleição ele perdeu, mas juntou-se
com dois outros candidatos não eleitos para criar um novo partido, e então fez a
campanha em 2000 para prefeito do burgo mais rico da cidade. Venceu com 51% dos
votos.
Nos próximos oito anos,
López ganhou atenção internacional como prefeito de Chacao. Começou por elevou
as taxas dos negócios, enquanto oferecia incentivos para que companhias
entrassem no distrito. Com a renda para cima, começou uma série de obras
públicas, construindo clínicas de saúde e escolas, um teatro, um mercado
público e um centro de recreio. Ainda solteiro, e entrando nos trinta, ele
surgia como um trabalhador comicamente engajado, sempre enrolando as mangas da
camisas em cerimõnias de inauguração de obras, e aparecendo em cenas de crime
de madrugada, em consultas com detetives nas luzes vermelhas piscantes. Em uma cidade tristemente famosa pelos
crimes, ele desenvolveu medidas de policiamento que eram populares nos Estados
Unidos - pensem "tolerância zero" e "janelas quebradas" e
uma análise com muitas variades comparativas de estatísticas. A sua plataforma,
então, uma mistura heterodoxa de
iniciativas, que cobriu o arco político, de medidas esquerdistas como a
elevação das taxas corporativas para modelos conservadores de policiamento. Os
residentes gostaram muito. Em 2004, ele foi reeleito com 81% dos votos, e
durante o seu segundo mandato ele encontrou-se e casou com uma proeminente
personalidade televisiva Lilian Tintori. Em 2008, López deixou o encargo com
aprovação de 92% e uma colocação pela Fundação Prefeitos Citadinos como o
terceiro melhor prefeito no mundo.
Deslizando por essa
sua ficha, pode-se compreender porque a gente amiúde vê López em uma atraente
meia-luz, mas mesmo quando ele crescia como prefeito de Chacao, ele se estava
tornando uma figura polarizante. No fim
de seu segundo mandato, ele já era um dos mais prometedores jovens políticos na
Venezuela, e um dos menos capazes de dar-se bem com os outros. No movimento de oposição, López representou a
ala radical. A palavra
"radical" é muita vez empregada acerca de López de um modo
enganoso. Ele favorece um modelo
econômico misto de amplos serviços sociais em assistência à saúde, educação e habitação, que é contrabalançado
por um grande setor privado de manufatura e indústria. Na faixa da política
americana, ele provavelmente iria para a ala progressista do Partido Democrata.
Onde se pode
descrever López como um radical é a maneira pela qual ele encara a atividade política. Ele acredita em uma campanha incessante de
demonstrações de rua e de desobediência civil como método essencial para
desafiar um governo autoritário. Em qualquer dia de 2002, alguém que caminhasse
através de Caracas dispunha de uma boa chance de localizar o prefeito de Chacao
de pé em um banco de parque público, gritando para uma multidão por meio de um megafone. Da
utilidade desse método para o projeto de
construir um partido político sólido e com potencial de governança é uma
questão de opinião, mas López acreditava que o movimento não iria progredir se
se baseasse em respeitos mecânicas partidárias.
Um modo de medir o
sucesso de uma estratégia é estudar a sua resposta. López tornou-se alvo de
frequentes ataques físicos e administrativos. De 2002 a 2006 houve três importantes ataques contra a sua
vida, um dos quais o deixou segurando um guarda-costa de um tiro que visava a
ele López. Durante o seu mandato de
prefeito, ele foi acusado pelo tribunal de contas de pagar as despesas
municipais com a parte errada de seu
orçamento e proibido de pleitear cargos públicos até 2014. López apelou da
decisão e se preparou para concorrer a prefeito de Caracas. Ele liderava a
apuração com 65% dos votos, quando o Tribunal Supremo ratificou a decisão do
controlador de contas. A Corte Inter-americana de Direitos Humanos julgou como
ilegal a proibição e ordenou ao Governo da Venezuela que permitisse que López
concorresse, mas o Governo Maduro ignorou a ordem e López está proibido de ocupar cargo público
desde então.
Em 2008, ele teve choque
com outros líderes oposicionistas. Deixou o partido que ajudara a fundar, associou-se a outro e em breve tinha questões
também com a sua liderança. Em agosto, esse partido o expulsou, e ele começou a
fazer planos para criar outro. Os diplomatas americanos em Caracas tinham
dificuldade em avaliar López. Um
telegrama confidencial para Washington descrevia sua "muito falada
rebeldia", observando que López "não hesitará em romper com seus
colegas de oposição para conseguir o que quer." Outro referiu a ele como
"uma figura divisiva" que era "muita vez descrito como
arrogante, vingativo e ambicioso."
Em 2012, ainda proibido
de concorrer a cargo público, López apoiou um candidato de oposição na eleição
presidencial. Chávez venceu aquele candidato por uma margem de dez pontos percentuais,
mas morreu logo depois, abrindo a porta para uma nova campanha contra
Maduro. Quando a junta eleitoral
anunciou que Maduro vencera por um único ponto percentual, López suspeitou de
fraude. Ele se empenhou para que a Oposição realizasse uma demonstração
pública. A maior parte dos líderes opositores foi contrária, mas em janeiro de
2014 López convocou os seus partidários que fossem para a rua.
Em fevereiro, protestos
começaram a repontar em todas as províncias. A doze de fevereiro, López
juntou-se a milhares de estudantes nas bordas de um parque em Caracas. Depois
de seu discurso, eles se dirigiram para o escritório do Procurador-Geral, a um
km e meio do local. Alguns dos
manifestantes começaram a jogar pedras contra o edifício. Agentes de segurança
apareceram, e dois manifestantes foram atingidos. Mesmo que López já tivesse
partido antes que a violência começasse, funcionários o acusaram de ser o "autor intelectual" da
escaramuça, e o Procurador-Geral não perdeu a ocasião de expedir o mandato de sua prisão.
López e Tintori
buscaram refúgio em apartamento de um amigo. Eles gravaram então uma mensagem
de vídeo para o público. "Quero
dizer para todos os venezuelanos que não me arrependo", disse López. Passou alguns dias escondido, e então gravou
outro vídeo pedindo a seus partidários que se juntassem em uma praça do centro
da cidade a dezoito de fevereiro, vestido de branco em um sinal de paz, mas
prestar testemunho no momento em que ele se entregava.
Naquela manhã, ele
montou numa motocicleta e andou pela cidade. Grande multidão já estava se
formando, e a polícia tinha colocado pontos de controle para o
interceptar. López buscava achar um
caminho em volta dos pontos de controle, mas não conseguia. Por fim, ele se dirigiu para um grupo de oficiais de polícia
do distrito de Chacao e removeu o capacete. Os oficiais o reconheceram, o
saudaram e lhe deixaram passar. López viu a multidão se espalhando em todas as
direções. Milhares e milhares de pessoas se tinham vestido de branco. Ele
passou através deles até uma estátua do herói da independência cubana José
Marti e subiu no pedestal para olhar através do mar de rostos. Alguém lhe
passou um megafone e ele o levantou: "Se a minha prisão ajudar a despertar
o Povo", ele exclamou, "então valerá a pena da infame prisão que me é
imposta."
Depois de um
breve discurso, ele desceu do pedestal, onde soldados o esperavam para
prendê-lo. Eles o puseram dentro de um veículo blindado, mas a multidão
avançou, e começou a sacudi-lo. Passaram minutos, depois meia-hora. O caminhão estava preso no meio da multidão.
Alguém deu a Lopez um microfone conectado com os alto-falantes do veículo. Ele
então falou para a multidão que estava seguro e que eles deviam dar passagem
para o caminhão ir em frente. Lentamente, quase contra a vontade, eles se
afastaram para que López fosse para a prisão.
Os
funcionários colocaram López numa torre de concreto numa base militar fora da
cidade, o acusaram de terrorismo,
tentativa de incêndio e homicídio.
Amnesty International condenou a promotoria como "uma afronta à Justiça", e uma
tentativa politicamente motivada para silenciar o dissenso". Para a
audiência inicial de acusação, ele foi retirado da sua célula no meio da noite
e forçado a encarar um juiz em um ônibus. O restante da "audiência"
realizou-se no Palácio da Justiça em Caracas, um edifício de 5 andares que se
estende por uma enorme distância (um milhão e meio de pés quadrados) no centro
da cidade. Nos dezenove meses seguintes, ele foi transportado a esse lugar
cerca de cem vezes, em cortejo de S;U.Vs
blindadas, vestido um colete a prova de balas, com as suas mãos
manietadas juntas com grilhões, apertado entre dois guardas armados de metralhadoras
e mais dois outros atras deles. Cada vez que López entrasse na corte, o Palácio
de Justiça era fechado ao público.
O processo
contra ele se articulou com a palavra. Ninguém acusou López de ser ele próprio violento.
Promotores diminuirão o diapasão das acusações, arguindo que ele inspirava
violência em outros. Eles trouxeram um experto linguista para examinar
transcrições de seus discursos e pretextaram que a sua mensagem de protesto
pacífico disfarçava uma chamada "subliminal" à violência. Eles
introduziram mais de cem testemunhas, algumas que testemunharam que tinham
recebido mensagens "subliminais". López tentou introduzir as suas
próprias testemunhas, mas o juiz não permitiu.
Algumas palavras sobre a juiza que assinou
o certificado de prisão, o promotor principal e a Procuradora-Geral: Todos eles se arrependem. A juiza que assinou o documento determinando a
prisão, mais tarde admitiu que ela tinha sido forçada a fazê-lo. O Promotor
Principal, depois de fugir do país, denunciou o caso contra López como
"uma farsa", dizendo que "cem por cento da investigação foi
inventada". A Procuradora-Geral, Luisa Ortega, fugiu para a Colômbia no
verão passado e disse que o
vice-presidente do partido de Maduro a
instruiu (sic) para acusar judicialmente López.
Logrei achar a Procuradora Ortega
há poucas semanas atrás, e nos encontramos para um café em Bogotá. Quando
lhe perguntei sobre as acusações penais
contra López, ela sacudiu a cabeça consternada. "Sem qualquer
dúvida", ela disse, "Leopoldo López é um prisioneiro político."
A (Procuradora)
Ortega disse ao autor William S. Hylton que tinha sido ilegal manter um civil
como López em uma prisão militar. Ao longo de três anos, as suas condições
foram ficando progressivamente mais graves.
Na primeira fase inicial, lhe foi permitido ler e escrever, e uma
universidade local preparou-lhe um programa de estudos. Ele leu poetas
venezuelanos, Ralph Waldo Emerson, o diário de Ho Chi Minh e uma biografia de Nguyen Van Thuan. Ele estava consumindo vários volumes por
semana, até que os funcionários começaram a restringir o que ele podia ler. No
fim, eles proibiram tudo, com exceção da Bíblia. López a leu do Gênesis até a
Revelação. Então, eles também, tiraram a Bíblia de circulação.
Começou então a
sua movimentação nas celas. Passou meses
em confinamento solitário em um espaço de lm.80 por dois metros e meio. Ele se
sentaria em silêncio rezar ou meditar e buscando encontrar algo para agradecer:
que ele podia ouvi-lo respirar, que a sua esposa e filhos estavam seguros, que
através da janela ele podia ouvir a movimentação do mundo exterior - um
caminhão passando, o vento, algum pássaro mais enfático.
Sem seus livros,
ele refletia naqueles que tinha lido. Recordou as biografias de líderes adeptos
da não-violência, e da carta de Martin Luther King de Birmingham, e começou a
refletir se o que eles tinham em comum não era um empenho para a resistência
mas alguma observação mais profunda sobre o caráter da História. Isto de resto
se manifestava muito claramente em King. O seu objetivo não era nunca provocar
ou confrontar. Era sim localizar o elusivo fulcro entre o conflito e a mediação
- produzir um avanço da pressão que forçasse os funcionários a reagir, enquanto
preservasse uma fé quase irracional na sua capacidade para a boa vontade.
Fonte: The New York Times. A transcrição foi feita, com a
necessária tradução, dada a relevância do texto,e a sua importância para
mostrar o que é o Governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, notadamente no que
concerne à perseguição de Leopoldo López, e a cruel prisão que lhe foi imposta
por um processo que é fraudulento em todas as suas partes. Sem falar da
covardia dos magistrados que a ele presidiram, como documentada pelas próprias
confissões da juíza, do promotor-chefe e da procuradora-geral. Se Leopoldo
López é um herói (assim como sua esposa, Lilian Tintori), que dizer desses
altos funcionários da Justiça?
[1]
com perdão do galicismo
"tortionnaire", alguém que tortura para obter de uma pessoa
confissões ou dados secretos.
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