segunda-feira, 5 de março de 2018

Ameaça estratégica russa ?


                        

       Seja por falta de capacidade ou não, as ameaças - sejam vãs ou verdadeiras - de gospodin Vladimir Putin não provocam maiores reações na Administração Trump.
        A peculiar situação atual - a amizade dos dois chefes de Estado - cria uma indefinição entre os dois países.
        Muita vez, a postura de Trump entorpece de certa forma a reação estadunidense.  A explicação dessa estranha 'dormência' na eventual reação de Washington em situações sensíveis poderia ser encontrada nas declarações prestadas a comitê do Senado pelo tenente-general Paul Nakasone, o indicado pela Administração para dirigir tanto a Agência de Segurança Nacional, quanto o Cyber-Comando dos EUA.
        Nakasone confirmou, a respeito, que existem planos para retaliar Moscou por seu hacking eleitoral (para prejudicar a candidatura de Hillary Clinton).
        No entanto, com Mr Trump na presidência, os russos, assim como outros adversários dos Estados Unidos, não parecem dar muita atenção a tal possibilidade, segundo reconheceu o próprio Tenente-general Nakasone : "nesta ocasião eu diria que eles não pensam muito sobre o que lhes possa acontecer. Eles não têm medo de nós (EUA)".
         No dizer do Times, as ameaças russas e o vácuo estratégico em Washington pairam no ar,  sem provocar maiores reações dos Estados Unidos.
          É talvez ainda mais estranho que os Estados Unidos continuem na dúvida quanto ao emprego das armas cibernéticas nas quais dispenderam bilhões de dólares  para construir-lhes um arsenal.
          Há, no entanto, no ar muito mais do que os aviões de carreira da antiga charge do humorista Aporelly. Segundo refere o New York Times, "o Pentágono acredita que muitos dos novos planos que Putin anunciou na semana passada para reforçar seu arsenal - inclusive torpedos nucleares, mísseis de cruzeiro nucleares, e outras novas armas - têm alguns anos pela frente para serem utilizáveis." 
           Putin chamou os novos mísseis de "invencíveis", por poderem contornar defesas anti-missilísticas.
            Como pretexto para esse início de corrida armamentista, Putin culpou o fracasso estadunidense de implementar tratados de controle armamentista.  Mas o que na verdade o incomoda são as defesas anti-missilísticas dos Estados Unidos, que, no entender do governante russo, estão dirigidos tanto contra a Rússia, como contra a Coreia do Norte. Os responsáveis americanos não deixaram de sinalizar que essa asserção está muito longe de refletir as diferenças respectivas nas tecnologias alvo da defesa estadunidense.
               O desafio cibernético é o mais novo, e dessarte não é cativo das estratégias de gerações passadas. Não obstante, em afirmações públicas feitas nestas últimas semanas, os principais encarregados da Administração Trump na área da inteligência reconheceram que o presidente tem ainda de discutir estratégias com eles para evitar que os Russos venham a interferir  nas eleições intermediárias do corrente ano. E será que vai despertar estranheza que Mr Trump haja expresso pesadas dúvidas quanto ao fato de que os Russos intervieram em 2016, contradizendo as conclusões das autoridades americanas em inteligência ?...
                 Há quatro anos atrás, depois que ele assumiu o comando, o Almirante Rogers disse que um de seus objetivos era assegurar que os adversários dos Americanos  iriam "pagar um preço" por suas ações cibernéticas contra os EUA,  que "seria muito maior do que o benefício" derivado do hacking.  Ele igualmente tem dito frequentemente que a retaliação não careceria de ser necessariamente uma ação cibernética contrária, mas poderia também envolver sanções econômicas ou isolamento diplomático.
                  Sem embargo, na semana passada, o Almirante Rogers reconheceu  que o seu próprio teste não havia surtido efeito.
                   Questionado acerca de que pressão ele aplicara nos russos, ele disse: " Nós estamos tomando medidas, mas provavelmente elas não são suficientes". Ele também pôs de lado as sanções que o Congresso aprovara no ano passado - e que Mr Trump deixara de aplicar - como insuficientes para mudar "seja o cálculo, seja o comportamento" de Mr Putin.
                    Na audiência de confirmação do General Nakasone dois dias depois,  o Senador Ben Sasse,  republicano de Nebrasca, disse que "o problema não é técnico" mas político, se tomarmos em conta o impressionante arsenal cibernético dos Estados Unidos.
                     Continuando ainda em forma evasiva, declarou o Senador Sasse, que é do mesmo partido do Presidente Trump: "Nós não estamos respondendo de modo algum  que possa ser adequado para o desafio que se nos depara."
                    Quanto tempo ainda passará para que o Congresso americano e as demais autoridades competentes se atrevam a dizer que o rei está nu?

( Fonte: The New York Times )

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