quinta-feira, 8 de março de 2018

Trump: o imbroglio nas tarifas


                                

         Não vale a pena repetir os erros de Donald Trump, como se estivessem surgindo por um determinado e lamentável equívoco.  Tampouco se devem fazer ilusões sobre determinadas questões, como se fossem distintas. Porque se enganam aqueles que acreditam na possibilidade de que algo de bom e aproveitável possa sair de uma personalidade como a do atual presidente estadunidense.
         À falta de preparação administrativa e governamental, se juntam outros fatores que não dissipam as inevitáveis dúvidas e os consequentes temores  de situação tendente a introduzir não a impessoalidade da Lei mas  inquietante e progressiva   falta de controle.
          Muitos já esqueceram a negativa avaliação por ele recebida de parte dos psicólogos americanos, quando estourou - ainda nos pródromos da respectiva candidatura - uma crise que levara a respectiva associação a emitir parecer assaz negativo sobre a sua personalidade e consequentes perspectivas de um governo Trump. Na época, a dúvida ainda era válida saída de emergência para o problema que se estava gestando, o qual poderia ser jogado na lata de lixo da história se Trump fosse derrotado na eleição então pendente.  O que importa nesse primeiro caso isolado é que a avaliação psicológica  não o recomendava absolutamente para os enormes desafios do cargo.
           Além do grande problema que deverá enfrentar - e me refiro, como é óbvio, à investigação que está sendo realizada pelo Conselheiro especial Robert Mueller III - Trump vem perdendo - e bastante cedo na própria Administração - um número inquietante de bons auxiliares, como o seu principal assessor econômico, Gary D. Cohn, que já disse nesta terça-feira que vai deixar a Casa Branca.
            Pensava-se que as guerras tarifárias eram coisa do passado, sendo a questão importante demais para ser tratada unilateralmente. Para tanto, existe a Organização Mundial do Comércio, para resolver os problemas tarifários do comércio internacional.
             Que a Superpotência esteja nas mãos de alguém  que não tem preparo, nem uma visão inclusiva dos problemas mundiais - como é a regra manifesta nas relações internacionais - só tende a agravar o problema, mormente pela própria condição dos EUA de dependerem de tal Presidente. Como indicado por esta frase, é desastroso que os problemas multilaterais do comércio internacional - e tal é apenas um dos aspectos em que a participação de Trump é de grande relevância, por representar Washington - venham a ser atingidos pelas ideias abstrusas e superadas do Presidente americano. A esse propósito, como autor desse artigo estou apenas chovendo no molhado. A politóloga de nomeada, Elizabeth Drew, por artigos em The New York Review of Books já chamara a atenção sobre a ameaça que Donald Trump representa para o mundo e para os Estados Unidos, em especial.
                A imagem da Caixa de Pândora não poderia ser mais adequada.  Lançada a ideia, já se adianta que as tarifas sobre o aço, antes consideradas de aplicação geral e sem exceções, já viriam à luz de uma forma diversa, eis que, por ora, se excluiria do exercício o Canadá e  o  México. Na visão do estadista  Trump, essa cláusula que beneficia os dois vizinhos dos Estados Unidos  não seria permanente, a menos que os dois países concordassem com um grande ajuste na presente renegociação  do NAFTA.
               Como se verifica, a eleição e já o primeiro ano de governo de Mr Trump nos mostram alguém que muito tem contribuído para os dramas de tantos imigrantes que, de repente, por sorte madrasta, se vêem diante de quem tem tantos preconceitos contra esses viajantes existenciais que, muita vez tangidos pelo infortúnio, vieram bater à porta estadunidense, animados como uma legislação que  lhes acenava como a terra do acolhimento e da boa oportunidade.  Nesse filme, o herói - na verdade a heroína - é  a democrata Sally Yates, que em audiência de um subcomitê do Senado americano deu antológica resposta ao Senador Ted Cruz (Rep. - Texas), que pensara colher lã e saíu tosquiado pela brava funcionária que cuidara da Secretária da Justiça, então acéfala,  despachando as questões com a segurança de uma titular.  Não espanta que haja sido prontamente exonerada pelo novel Presidente...
                    Mas voltemos à causa geral do presente pandemônio. Fundado na própria ignorância, Trump não hesita em abrir caixas de Pandora, e inventar o que pensa serem mágicas soluções para questões que mal conhece e das quais tenha uma visão preconceituosa e simplista (como agira no intróito do próprio governo, com mudanças desastrosas na questão da imigração) .
                   A superficialidade constitue outro grande risco das medidas de Trump. Definir a abertura de uma guerra comercial, como qualquer coisa de bom e de fácil solução (sic), é demonstrar monumental ignorância quanto ao  problema e uma leviandade que a História pespega em poucas criaturas, como foi  o caso da consorte de Luis XVI, Maria Antonieta, que acabou, a pobre, na guilhotina, mostrando que na política,  a imagem pode ser por vezes mais danosa do que a realidade fática...

( Fontes:  Elizabeth Drew in The New York Review,  The New  Yorker.)

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