De onde está, Marielle
Franco há de contemplar com favor e, sobretudo, emoção a enorme efusão popular
que o seu bárbaro assassínio provocou, juntamente com o motorista Anderson
Gomes.
Nem sempre é fácil intuir a psicologia
das multidões. No entanto, a vida de Marielle, sua disposição para ajudar os
mais necessitados, assim como defendê-los em existência que de fácil nada tem, eis
a faísca que colheu em cheio a abertura das gentes para expressar a própria condenação
da covarde e revoltante eliminação física, que revista na sua preparação, colheu
façanhuda o seu covarde, lúrido propósito, que é a expressão hedionda da gente
da tocaia, que dentro do horrendo ritual da resfolegante baixeza arremedam no silêncio da noite suja,
arrastando-se no pescoço e nos longos braços o brilho incômodo e luzidio dos
anéis da serpente, com seus largos traços que nas cores grosseiras,
agressivas, embaçadas, carregam consigo
a maléfica, sinuosa mensagem que de
soslaio se arrasta, trazendo nas cores da traição, o maldito ritual de um crime
sem volta nem perdão, qual triste, desprezível matador de aluguel, que segue
lentamente, arrastando-se com a lúgubre missão da morte, pois a gente da tocaia
mata mais de uma vez, ao mergulhar no ritual do crime, seguindo lentamente como
serpente que se acerca da vítima de cada noite, coleante, indistinta e horrenda
nos luzidios anéis, enquanto minaz avança nos anéis e nas cores que chocalham
agressivas - e que muitos sentem horror ao referi-las. Não tardará que a gente maldita - que como cobras
colocam o ventre estirado na terra áspera -
e só delas ouvirás os grosseiros
riscos que traz o silvo do mal e em se acercando, como que se assusta e se
transmuta em cores agressivas o silvo súbito e insensível do mal que se dissimula.
Marielle, a expressão do bem e do
sorriso, não tinha outra ambição senão a de levantar-se pelo próprio Povo. Que
grande perigo causaria com a força em favor do bem, a sorridente simpatia,
junto com o abraço envolvente que acredita no próprio engenho que a circundante
injustiça afasta! Que ameaça de alegria
e coragem tão grande e poderosa ela apresenta, que faz surtarem os poderes desse
mal, a ponto de que decidam buscar eliminá-la com a torpe armadilha da morte, a
que quais bestas-fera a despejam sobre ela e o próprio companheiro no trabalho?!
Por que sentem tanto medo dessa jovem mulher que está junto do Povo e que com
ânimo alegre e confiante a mão quão delicada quanto dedicada se empenha em
estender à gente carente da faina de cada dia? Por que tanto temem os mensageiros
do bem? Por que, ao invés, os mensageiros do mal lhe preparam a torpe armadilha,
de que as estúpidas, entranhadas rajadas cuidam de intentar escorraçá-la, e
para sempre, como esses estúpidos acreditam possível ?!
Que bestas-fera têm como protetores, para que montem esse
maldito, horrendo e desgraçado atentado? E por que tem dela tanto medo, a ponto
de se arrastarem por becos sujos, por vielas escuras, como únicas cegas
testemunhas das torpes, estúpidas, entranhadas rajadas que vão despejar, como
se temessem qualquer testemunho, mesmo o do mendigo e do infeliz que, também de
tocaia, espera a passagem de algum indefeso, para a bolsa antes da vida
tirar-lhe. Pois a miséria se acompanhada da solitude é um pátio dos milagres às
avessas. Lá o bom deve estugar o passo, e
hás de pensar que a terna criança não passa de isca para o transeunte, e será
bom que tais ínvios tugúrios evites, para de ti poupares a inútil queixa-crime
diante de entediado comissário, ou fazer a teus parentes a má treta de uma
noturna visita ao necrotério.
Mas voltemos à Marielle, que todas as
homenagens merece, porque é bom e justo que quem pagou tão desmesurado e
escorchante preço por trazer tanto bem a essa gente que, em silêncio, sofre para chegar em casa, venha a colher lá
de cima homenagens sempre maiores, não porque são oportunas para os políticos,
mas por trazerem a leve aragem que aos
pobres conforta na sua dura, pesada transumância de cada dia. Por que têm tanto medo dela? Por que há gente
que a vida pendurou alto e confortável, e, sem embargo, nela despeja gratuitas
e boçais ofensas? Por que só o povo a
compreendeu e acorreu multitudinário às praças regurgitando de gente, livres
por uma vez dos figurões ausentes que, trêmulos, buscaram dos palácios as paredes e as torres,
enquanto comovidos assistem pela tevê as solenes exéquias de Marielle Franco e
do motorista Anderson Gomes.
(
Fontes: TV Globo, O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo )
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