sexta-feira, 2 de março de 2018

Ameaças ou Bazófias ?


                       
         
       Vladimir Putin aspira a recuperar a antiga posição da União Soviética. Recordo-me de uma frase do Presidente Barack Obama, em que, com jeitão de quem põe um interlocutor no seu lugar,  dirigida a Putin, em que o americano lhe dizia: "A Rússia é hoje um poder continental".  A implicação óbvia é que esse enorme país deixara de ser a potência mundial  que era a União Soviética.
        Putin não costuma sinalizar golpes recebidos. Com expressão impassível, assim ele continuou.
         É raro pescá-lo denotando irritação. Talvez, um leve sorriso, embora a posteriori duvidar-se possa que ele tenha evidenciado algum indício de afeto (a palavra aqui é técnica, e nada tem a ver com a usual emoção ).
         Por isso, quando o presidente Bush (o da guerra do Iraque) disse, ao cabo de uns primeiros encontros pessoais com o jovem presidente russo, que fitando no fundo de seus olhos, ele George Bush lograva captar no que pensava.
         Quando os repórteres russos souberam da frase de Bush, não puderam conter o riso, como se tal fosse realmente uma piada.
         Putin, antigo sub-prefeito de Leningrado, ao receber o poder de bandeja de Boris Ieltsin - que então já não tinha mais condições de governar - o seu grupo de oligarcas pensava que poderia manipular aquele antigo agente do KGB. Da história de Putin, duas mulheres escreveram livros corajosos sobre esse novo fator político  na  Rússia e alhures: de  Masha Gessen, O Homem sem Face (ou a Improvável ascensão de Vladimir Putin); e  da professora Karen Dawisha, A Cleptocracia de Putin (Quem é dono da Rússia?).  O primeiro, escrito pela russo-americana, Gessen, se ocupa, sobretudo, de seu tempo na antiga Leningrado; o segundo, como o título desvela, trata dos métodos financeiros do líder russo.
         Agora o Estado publica entrevista do presidente russo sobre o novo arsenal de mísseis nucleares.  A publicidade é para fim eleitoral - a Rússia está às vésperas da eleição presidencial.  Afastado por um conveniente processo em um juizado interiorano,  o popular e corajoso opositor de Putin, Boris Navalny, é difícil imaginar que algum dos candidatos remanescentes terá condições de pôr em perigo a sua anunciada reeleição.
           Ganhou a condição de Primeiro Ministro de um já enfermo Bóris Ieltsin (para tanto colaboraram os oligarcas, como Berezkovoi, que pensavam manipulá-lo e foram todos jantados por ele) em 2000 e já está há  dezessete anos no Kremlin, em nenhum ano fora do poder, embora tenha sido Primeiro Ministro de seu lugar-tenente Dmitriy Medvedev (presidente da Rússia entre 2008 e 2011  por razões táticas para minorar o então desgaste político-diplomático de Putin,  como Presidente da Rússia).


( Fontes: Putin's Kleptocracy, de Karen Dawisha; e The Man without a Face, de Masha Gessen; O Estado de S. Paulo )

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