Vladimir
Putin aspira a recuperar a antiga posição da União
Soviética. Recordo-me de uma frase do Presidente Barack Obama, em que, com jeitão de quem põe um interlocutor no seu
lugar, dirigida a Putin, em que o
americano lhe dizia: "A Rússia é hoje um poder continental". A implicação óbvia é que esse enorme país
deixara de ser a potência mundial que era a União Soviética.
Putin não costuma sinalizar golpes
recebidos. Com expressão impassível, assim ele continuou.
É raro pescá-lo denotando irritação.
Talvez, um leve sorriso, embora a
posteriori duvidar-se possa que ele tenha evidenciado algum indício de afeto (a palavra aqui é técnica, e nada
tem a ver com a usual emoção ).
Por isso, quando o presidente Bush (o
da guerra do Iraque) disse, ao cabo de uns primeiros encontros pessoais com o
jovem presidente russo, que fitando no fundo de seus olhos, ele George Bush
lograva captar no que pensava.
Quando os repórteres russos souberam
da frase de Bush, não puderam conter o riso, como se tal fosse realmente uma
piada.
Putin, antigo sub-prefeito de Leningrado, ao receber o poder de bandeja de Boris Ieltsin - que então já não tinha
mais condições de governar - o seu grupo de oligarcas pensava que poderia
manipular aquele antigo agente do KGB. Da história de Putin, duas mulheres
escreveram livros corajosos sobre esse novo fator político na
Rússia e alhures: de Masha Gessen, O Homem sem Face (ou a
Improvável ascensão de Vladimir Putin); e
da professora Karen Dawisha, A
Cleptocracia de Putin (Quem é dono da Rússia?). O primeiro, escrito pela russo-americana,
Gessen, se ocupa, sobretudo, de seu tempo na antiga Leningrado; o segundo, como
o título desvela, trata dos métodos financeiros do líder russo.
Agora o Estado publica entrevista do presidente russo sobre o novo arsenal
de mísseis nucleares. A publicidade é
para fim eleitoral - a Rússia está às vésperas da eleição presidencial. Afastado por um conveniente processo em um
juizado interiorano, o popular e
corajoso opositor de Putin, Boris Navalny, é difícil imaginar
que algum dos candidatos remanescentes terá condições de pôr em perigo a sua
anunciada reeleição.
Ganhou a condição de Primeiro
Ministro de um já enfermo Bóris Ieltsin (para tanto colaboraram os oligarcas,
como Berezkovoi, que pensavam manipulá-lo e foram todos jantados por ele) em
2000 e já está há dezessete anos no
Kremlin, em nenhum ano fora do poder, embora tenha sido Primeiro Ministro de
seu lugar-tenente Dmitriy Medvedev (presidente da Rússia entre 2008 e 2011 por razões táticas para minorar o então
desgaste político-diplomático de Putin, como Presidente da Rússia).
( Fontes: Putin's Kleptocracy, de Karen Dawisha; e The Man without a
Face, de Masha Gessen; O Estado de S. Paulo )
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