Peço mais uma
vez vênia aos meus leitores pela necessidade de trazer o passado recente de
volta, máxime no que concerne à desastrosa eleição de Donald John Trump, um personagem que mais caberia nos porões da História.
A
derrota de Hillary R. Clinton - e ainda por cima por ínfima margem - se
deve em parte a essa relíquia do século XVIII, que é a votação indireta e por
delegados dos Estados, do que a escolha
que se faz hodiernamente em todo o mundo democrático pelo voto direto.
Mas
deixemos esse fator já demasiado conhecido, e demos um pulo na votação direta,
embora ela não se traduza em poder nos Estados Unidos da América. Diga-se,
apenas, que, em qualquer lugar do mundo civilizado, Hillary teria sido eleita,
pois dispôs de maioria de cerca de três
milhões de votos. Esse escândalo de
escolher-se alguém, escudado em carta do século XVIII, quando sequer existiam
vias férreas, é um anacronismo burro e,
por muita vez, desonesto.
Veja-se, v.g., outro exemplo,
este que concerne um dos presidentes mais desastrosos para a União Americana -
George W. Bush. Com os clarins do
novo século, o descendente do então poderoso clã dos Bush teve menos votos
populares de que Albert V. Gore. Mesmo na eleição indireta, os dados não lhe
eram tão favoráveis, mas para sua perene vergonha, o clã dos Bush prevaleceria
através de hábil e maneiroso advogado político, que arrancaria da dita Suprema Corte um vergonhoso veredito
antecipado para essa espúria eleição, quando os juízes - na sua maioria
republicana - determinaram, e na prática, elegeram quem seria o Presidente,
quando mandaram interromper a recontagem dos votos na Flórida. Com tal medida abusiva e obviamente sectária, por vez primeira a Suprema Corte se erigiu em
grande eleitora, apontando como Presidente, o candidato minoritário George
Walter Bush, que se faria a seguir assinalar pela desastrosa guerra (aquela que
traria a democracia para o Oriente Médio,e em especial ao Iraque) contra Saddam
Hussein e as suas imaginárias armas de destruição em massa (WMD), que só
existiam na cabeça de Bush e da sinistra dupla que lhe dirigia as ações
guerreiras.
Se
a 'derrota' de Hillary não se fará nunca esquecer pela injustiça contra o Povo
Americano que ela significa, a cada erro
- e este senhor Trump abusa deste suposto direito - é importante resumir
em um parágrafo que seja os reais motivos da "derrota" de Hillary na
votação indireta.
O
principal fautor desse crime eleitoral chama-se James Comey, que a 28 de
setembro de 2016, levantou em cartas para o Congresso Americano a possibilidade
de que a investigação do computer do
marido (separado) de Huma Abedin pudesse levantar mais provas no que concerne
aos e-mails de Hillary. Essa inaudita
comunicação ao Congresso, em pleno momento da votação antecipada presidencial,
não poderia ser mais desastrosa para Hillary, mudando a tendência da votação, e
a ela que estava vencendo por maioria escassa, mas segura, determinou a
reversão em favor de Donald Trump.
Há muitos outros fatores que ajudaram a este demagogo que é Trump, e
basta citar a intervenção russa na internet,
com os seus bots, trolls e a avalanche de mentiras, por mais errada que seja, a sua investigação
pelo Conselheiro Especial Robert S
Mueller III, e a sua conexão com as providências que levaram à vantagem
dessa candidatura Trump sobre a adversária democrata.
Se é demasiado tarde para chorar sobre o lei derramado, não há a menor
dúvida que uma série de fatores contribuíu para a derrota - ainda que por
ínfima margem - por um dos candidatos mais inadequados para assumir a
presidência dos Estados Unidos.
Ele tem a agradecer essa vitória no photochart
(como se dizia dos cavalos que só venciam por ínfima vantagem) não só a uma campanha desleal com muitas
ajudas, das quais cito, no ataque, a intervenção russa, a instrumentalização da
grande mentira dos e-mails de
Hillary, em que pontificou o diretor do
FBI James (Jim) Comey, com a sua acintosa
mensagem de 28 de outubro - em meio à plena votação antecipada então favorável
a Hillary, que induziu parte dos eleitores a mudarem o próprio voto, cousa
antes jamais vista - e, por último, mas não com menos importância, a estranha apatia de Barack Obama, que
suportou a invasão do Comitê Democrata et.
al., sem ousar dizer palavra, como se tal fosse respeito à democracia.
Fala-se da decadência dos Estados Unidos. Já existem, inclusive,
especialistas do chamado decline.
Será que devemos atribuir à frouxidão
(ou sua estranha apatia, no que concerne a questões de interesse de Hillary) de
Barack H. Obama toda essa falta de reação às invasões cibernéticas de Vladimir Putin, por ocasião das últimas
eleições, questões essas que foram levantadas pelo Comitê de Hillary , mas que não mereceram sequer uma reação do
governo dos Estados Unidos, que pusesse a nu o que se estava fazendo contra a
candidata democrata?
Se hoje os Estados Unidos contempla um presidente totalmente despreparado
para a sua missão, enquanto pelas próprias ações vai alienando antigos aliados
e agora ameaça lançar o mundo em estúpida guerra comercial, ao ressuscitar medidas protecionistas que não
mais cabem no mundo civilizado, é de
perguntar-se de que valerá afastar esse senhor da Casa Branca? Trazer para o
seu lugar o vice Mike Pence servirá de algo? De que serve trazer um medíocre para
completar o trabalho de um louco despreparado?
( Fontes: What
Happened, de H. Clinton; The New York Times; The New Yorker; O Estado de S.
Paulo; e muitas outras a que peço desculpas por manter do lado de fora)
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