Em geral, não
é o melhor início de uma campanha começar a atacar o técnico - ou a técnica - do team
adversário, com a promessa de afastá-la da chefia.
Sim, leitor, eu estou me referindo
exatamente à situação da deputada Nancy
Pelosi, democrata de boa cepa, com
grande experiência na Casa de Representantes e que garantiu, logo no início do
mandato de Barack Obama, que a sua Reforma da Saúde fosse aprovada pela Câmara.
Depois, vem a reação republicana, com
recuperação da maioria no Congresso, e a seguinte formação na Câmara de
Representantes da preponderância do GOP,com o sólido apoio do Tea Party, e porque não de um saudável gerrymander pelo que havia sido o
Partido de Lincoln.
Agora, parece que os ventos mudaram.
Com o grande Donald Trump como
estrela guia e o Speaker Paul Ryan, enquanto válido ajudante,
não é que o longo inverno parece em vias de terminar, e, por fim, se anuncia o
provável retorno do carrossel da democracia, quando as maiorias, enquanto
durem, cessem de ser eternas e mostrem sinais de que a alternância no poder
legislativo - e, em especial, na Câmara de Representantes - esteja para voltar.
Com efeito, não é bom para a festa
da democracia, que as maiorias se eternizem no poder. Como para o Senado, cujos
membros são eleitos pelo voto majoritário dos Estados, fica algo complicado
garantir vitórias automáticas para
colégios individuais, democratas e republicanos aí combatem e as maiorias na
Câmara alta se alternam entre o partido
de FDR e John Kennedy e aquele de Eisenhower e Richard Nixon. A Câmara de
Representantes, no entanto, pela inexperiência do jovem Obama e de seus
seminários na Casa Branca, na alvorada dos seus dois mandatos, acabaram criando
as condições desse longo inverno de domínio do GOP, que só agora parecem haver
entrado no Sunset Boulevard.
Um magno sinalizador dessa
auspiciosa tendência se confirma agora, com o triunfo na Pennsylvania de Conor
Lamb. O triunfo desse deputado democrata veio acompanhado de promessa
arrancada pela chantagem de uma campanha desesperada naquele estado - votar no
democrata equivaleria a que ele se juntasse ao bando liberal de Nancy Pelosi.
Nesta má-fé republicana, consigo, no entanto, entrever um lado positivo.
Os tempos mudaram. A política,
que é volúvel por natureza, terá nesse longo inverno na Câmara de
Representantes exagerado um tanto, lá assegurando por artes do gerrymander o
feudo do GOP. Tudo indica que com a ajuda da Administração Trump e suas
confusões a aurora próxima não mais seja republicana, mas sim democrata, e em
especial na Câmara.
Iniciou-se, por conseguinte, a caça a
Nancy
Pelosi. Não será, no entanto, a torpe chantagem a um novato, que há de
abrir o caminho para a confirmação de republicano como Speaker
na Casa de Representantes.
Os republicanos são mestres na
capacidade de demonizar os adversários. Pois Trump não chegou a inventar que
Hillary Clinton merecia ir para a cadeia? Logo ele, que hoje tem um Conselheiro
Especial a examinar-lhe os podres?
Trump
com as suas confusões e incompetência surge como um grande valor para
contribuir nas próximas eleições intermediárias para a vinda de Senado e Câmara
com maiorias democratas.
Nesses termos, e com os novos,
alvissareiros ventos, não é difícil
prever para o Senado, como líder da maioria, Chuck Schumer, e na Câmara de
Representantes, tenho um palpite de mulher para Speaker. Será a velha peripeteia
administrando um cala-boca a quem, por inexperiência, vai cedendo o que não lhe
compete.
( Fonte: The New York Times
)
Nenhum comentário:
Postar um comentário