A palavra encerra um quê de exagero e
despropósito. Em tais condições, seu emprego pareceria afastado, pela própria
circunstância de tratar-se do governante estadunidense.
No entanto, já entrados no seu segundo
ano de mandato, se nos detivermos para a análise dos procedimentos da
Administração Trump, forçoso será considerar a ambiência que o caracteriza, a
própria circunstância de que Donald Trump tem no pescoço o exame
pelo Conselheiro Especial Robert Mueller III das diversas irregularidades
que marcam a entrada em funções de seu governo, imperioso será reconhecer que
a característica dominante dessa presidência é, por assim dizer, a mudança pela
mudança.
A sua pretensa reforma do comércio
internacional, precedida pela inquietante declaração de Trump de que as guerras
comerciais são boas e costumam ser rápidas, conduziu a rápido exame dos
passados conflitos desse gênero, o que demonstrou que tais guerras não costumam
ser breves, nem trazerem bons resultados para os países respectivos, como exame
abrangente das conflagrações tarifárias realizadas no passado pelos Estados
Unidos conclui que nenhum delas terminou com os contornos otimístas que
presidiram ao início das 'hostilidades'.
No entanto, sucedeu-se em breve
espaço de tempo mais uma modificação no formato dessa suposta guerra
comercial. Conforme já transmitido, a
tal guerra não seria tão ruim, pela circunstância de que Brasil e outros países
e organizações (como a União Européia) continuariam a poder exportar o aço nas
mesmas condições anteriores, enquanto a artilharia se voltaria contra a China.
Tudo isso já foi referido pelo blog.
Mas as coisas com o Presidente Trump
não costumam ser tranquilas, e, por isso, tampouco
este caso discrepa da regra. E nada é como parece a princípio, consoante a
regra pirandelliana. Como é óbvio, o que motiva o presidente
americano nada tem a ver com o célebre dramaturgo italiano, mas sim com o próprio
caráter truculento. As consequências desse tipo de comportamento pela sua violência
e caráter imprevisível não nos ajudam muito em prever-lhes o resultado.
Há termo em português que ajudaria a
melhor compreender o mecanismo do comportamento do presidente americano. Sem
embargo, pode ser considerado, ainda nos liberais tempos da atualidade, como
demasiado vulgar, baixo mesmo e, portanto, seguirei sem torná-lo explícito,
embora ouse contar com a colaboração do leitor em captar o sentido básico de tal comportamento.
Como assinala o editorial de O Estado de S. Paulo, a segunda etapa da
situação desta incipiente guerra
comercial se caracteriza por duas ações simultâneas: (a) concentração da 'artilharia'
na China, escolhida como o grande inimigo; e (b) isentar das barreiras, mas só temporariamente, alguns parceiros
- Brasil, Argentina, União Européia, Austrália e Coréia do Sul (o México e o Canadá já foram isentos, desde
que cooperem com a Zona de Livre Comércio da América do Norte).
Incongruamente, a primeira reação quanto
a suposta mudança do regime Trump reflete efeito natural do comportamento
humano, que sempre tende a esperar bom senso da outra parte. No entanto, a
suspensão provisória das barreiras não é, como se pensou a princípio, um sinal
de bom senso do Regime Trump.
Eis que, na verdade, a suspensão
provisória das barreiras aduaneiras, longe de ser um benefício, é condicionada ao início de negociações. Como assinala o editorial do Estadão: é uma proposta
de início de conversas e de tratativas feita com a arma apontada para o
interlocutor.
Trump, na verdade, é um arcaismo vivo. Como
governante, o seu comportamento se molda
bastante naquele do fanfarrão de algum bairro. Dadas as lacunas -
numerosas - na respectiva cultura, ele costuma partir de presunções sem base na
realidade, ou de premissas toscas, sem maior fundamento. A começar, se
estudasse ou mandasse estudar, iria verificar que as guerras tarifárias e
comerciais, em geral encetadas em séculos passados, com grande otimismo,
terminaram sob o signo do malogro. Além disso, o aspecto mais negativo desse
tipo de atitude, é que o comércio internacional é um composto complexo que
depende de múltiplos fatores, e são muito raras as situações em que uma parte,
por mais forte economicamente que seja, detenha um controle a tal ponto
preponderante que os resultados tenderão a ser-lhe amplamente favoráveis. Em
geral, essas visões tipo estória da carochinha inexistem na realidade. Aliás,
para os novatos neste campo, basta leitura um pouco mais intensa para
determinar que, nas guerras comerciais, os prejuízos são muitos e
generalizados, e como o passado está aí para demonstrá-lo, ambos os lados saem
perdendo.
Como a história - as guerras
comerciais dos séculos XIX e princípios de XX - está aí para demonstrá-lo,
tais conflitos sóem começar com muita fanfarra e otimismo, para depois surpreender-lhes queda
geral no montante das transações comerciais e o consequente prejuízo (e até mesmo descalabro) para ambas
as Partes.
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, The New York Times, Luigi Pirandello )
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