Vladimir Putin deverá
ser reeleito amanhã, domingo, dia dezoito de março. Há poucas dúvidas sobre tal resultado. Os seus eventuais adversários não passam de
nulidades.
O maior rival do atual presidente não
está entre os nomes que possam ser votados.
Nesse campo se acham comprovadas nulidades, partícipes de uma
tragicomédia na qual esses 'adversários' estão presentes para fazer número.
Seria como se houvesse um script oficial, em que luz a personalidade
do grande estadista russo, que acumula presidências como se fora um ás da
política, e que está predestinado pelo esquema de poder a assumir uma vez mais
o encargo de máxima autoridade da Federação Russa.
Se contemplarmos o campo oficial dos
candidatos à Presidência, há diversos concorrentes que constam do quadro dos
que postulam essa grande honra, mas todos seriam joãos (na expressão de
Garrincha) ao lado do presidente em exercício - Vladimir V. Putin - que, para
júbilo oficial e uníssona comemoração dos órgãos do regime, continuará a ser
tão logo ultimado esse pleito de fachada nenhum outro que o próprio Putin.
Sem embargo, esta eleição de fachada
exigiu muito trabalho para que afinal, quem sabe já pouco depois de abertas as
primeiras urnas ele possa comemorar o seu falso triunfo.
A oposição ainda tem um grande nome
na Rússia, com carisma e coragem - é indispensável tê-lo para concorrer contra
esse grande presidente, que foi trazido para o Kremlin pela curriola de Boris Ieltsin, já decadente, e que por
isso ameaçava os privilégios dos oligarcas pelas sombrias perspectivas de
governo futuro. De nada lhes serviu trazer Putin para o poder, pois ele, na
realidade, era igual a eles, ou até melhor do que eles. Por isso o vento forte do poder, nas mãos do ex-KGB Putin, os levaria todos.
Mas esqueçamos a memorável
trajetória inicial do Putin neo-governante. No caminho dos tiranos, sói surgir
sempre um novo desafiante, e o atual Alexei Navalny é um paladino da democracia - que também o vento de Putin levou. Não sei
quantas eleições enfrentou esse grande russo, e como as outras, esta lhe deu
muito trabalho.
Não, caro leitor, não é erro do
redator. A eleição será amanhã, mas tudo o que conta já está decidido.
Explico-me. Putin - ou sua curriola - obteve da dócil justiça russa a
condenação de Alexei Navalny. O rival
foi condenado no fim de 2017 por
apropriação indébita e danos ao Erário. A denúncia se refere a serviços de
consultoria prestados pelo advogado Navalny ao governo de Kirov, cidade de quinhentos mil habitantes a cerca de
mil km de Moscou. Segundo a promotoria, Navalny tentou desviar 16 milhões de rublos (cerca de R$ 915 mil) da
Kirovles, empresa estatal que vende madeira. A primeira condenação, em 2013 -
com Navalny candidato à prefeitura de Moscou - foi anulada pela Corte Europeia
de Direitos Humanos, por irregularidades no julgamento.
No entanto, a questão foi
retomada e o caso voltou a ser julgado em 2017. O juiz Alexei Vtyurin, da Corte
Distrital de Leninsky, tribunal de primeira instância, proferiu contra Navalny
uma sentença condicional - que pode ser cumprida em liberdade - de cinco anos.
Foi o suficiente para que o
registro de sua candidatura fosse negado pela Comissão Eleitoral Central da
Rússia. Desde esse veto do regime,
Navalny vem pedindo a seus partidários - e são muitos - que não votem em
candidato algum.
Como por virtual falta de
concorrentes válidos - e não apenas figurantes - o relevante é evitar que Putin
tenha votação expressiva. Por isso
Navalny cuida de aumentar o número de fiscais populares para cuidarem de impedir
falsificações. Nesse sentido, de acordo com a equipe de Navalny, cerca de
sessenta mil pessoas se registraram no site
do ativista para atuar como observadores.
Alijado o único desafiante da
campanha, o principal foco do comitê
passou a ser qualificar os voluntários para identificar fraudes, além de
distribuir fiscais para além de Moscou e de São Petersburgo. Dentro do mesmo
espírito, Navalny convocou um comitê para mandar 50 de seus observadores para a
Chechênia, onde o partido situacionista Rússia Unida teve 99% dos votos nas
eleições parlamentares de 2012.
Tampouco Navalny e seu grupo
descuram do Twitter (tem 2,1 milhões
de seguidores) e do Facebook (400
mil). Outro auxiliar voluntário de Navalny é Beryozkin. A respeito de seu
líder, este último especula: "Não tenho certeza se outra pessoa seria
capaz atualmente de organizar as pessoas da mesma forma que Navalny. Na Rússia,
temos o seguinte ditado: 'Um lugar pode ficar vazio para sempre'. Mesmo assim,
acredito que surgiria um substituto, caso Navalny fosse colocado fora do jogo,
com uma prisão, por exemplo. Foi o que aconteceu depois da morte de Boris
Nemtsov (opositor de Putin assassinado
em 2015). Navalny assumiu o lugar de
líder da oposição. Da mesma forma, alguém despontaria para manter o trabalho.
As pessoas estão cansadas deste governo.
(
Fonte: O Globo, Bernardo Mello )
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