segunda-feira, 26 de março de 2018

A Intervenção trará segurança ?


                          

          O ceticismo dos cariocas voltou depressa.  Quase que se teve a impressão de que, na verdade, a situação continua a mesma. Talvez seja pela natural desconfiança quanto a eventual mudança de um estado de coisas que se deixou consolidar.
           Assim, segundo comenta reportagem do Estado de S. Paulo, apesar de estar em vigor há pouco mais de um mês, a intervenção federal na segurança do Rio, cujo objetivo oficial é reverter "o comprometimento da ordem pública no Estado", em verdade, não mudou o sentimento de insegurança na população. A rotina de tiroteios e mortes se mantém em algumas regiões cariocas, em especial nas zonas norte e oeste.
           Na zona oeste, entre as favelas com mais tiroteios nos 27 primeiros dias da intervenção, estão Cidade de Deus (20) e Vila Kennedy (19), considerada pelos militares um "laboratório" para ações futuras. Na zona norte, um exemplo é o Complexo do Alemão (10), onde morreu há dez dias o bebê Benjamin por bala perdida. Este foi também o destino nesse mesmo dia de dois outros moradores.
           Assim, a criança, de um ano e sete meses foi atingida na cabeça, enquanto a mãe comprava algodão doce. "A intervenção não está funcionando. Essa estratégia precisa ser revista", reclama o pai, Fábio Antônio da Silva, de 38 anos. "Não adianta a polícia entrar na favela e trocar tiros com os vagabundos. Quem paga é o inocente. É preciso ter outra forma que não deixe a população no meio dos tiros."
           O caso de maior repercussão foi o assassínio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. A violência ainda voltou a locais que tiveram dias mais calmos. Um exemplo é a Rocinha, na Zona Sul, Na quarta-feira, morreram  um PM e um morador, durante troca de tiros. Anteontem, operação policial na favela acabou com oito mortos. Além disso, em Maricá, na Grande Rio, cinco jovens foram assassinados neste fim de semana.
            De acordo com o aplicativo mais usado, o OTT (onde tem tiroteio) nos primeiros 27 dias  da ação federal, foram registrados  354 tiroteios. Nos 27 anteriores, foram 404 ocorrências (redução de 12,4%).
             Já outro aplicativo, o Fogo Cruzado registrou 672 disparos nos 27 dias depois da intervenção, ante 620 no período anterior (alta de 8,3%). Na mesma comparação, o número de mortos foi de 114 para 149 (30,7% mais).
              O Gabinete da Intervenção diz que muitas ações estão sendo postas em prática e que os primeiros resultados devem ser sentidos  nos próximos meses.

Criticas.  

              Para especialistas contactados pelo Estado de S. Paulo, as frequentes mudanças de rota indicam falta de planejamento.  Foi cogitado, v.g., o uso de mandados coletivos em favelas e fichamento de moradores - que foram abandonados após críticas.  Na última semana, foi iniciada nova fase da intervenção, com ações em rodovias federais e em Angra dos Reis. Já a Vila Kennedy será desocupada pelas tropas nas próximas semanas.
             "É atropelo em cima de atropelo", critica antropólogo e coronel da reserva da PM Robson Rodrigues, ex-coordenador-geral das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). " E o R$ 1 bilhão (prometido pelo governo federal), sem estratégia, não adianta nada." Outras operações com militares, segundo ele, não tiveram efeito significativo.
              Por fim, Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes, crê que ainda haverá uma sensação de "alívio" momentâneo. "Existia um problema de vácuo de comando. Isso pode melhorar, mas mesmo uma pequena melhora não é sustentável. Estamos dando um passo para o abismo."

               Dentre os depoimentos colhidos pela reportagem, vale ter presente o testemunho de um comerciante e morador da Vila Kennedy: "Os moradores da vila Kennedy foram pegos de surpresa pela informação de que as tropas devem deixar a região em três semanas. O comando da intervenção afirmou várias vezes que a comunidade serviria de 'laboratório' para ações não apenas de patrulha-mento e retirada de obstáculos, mas também de ocupação social.

               Todos acreditaram que a ação iria durar mais tempo.  Agora, o medo impera na comunidade. Quando as tropas chegaram foi um alívio. Ninguém aguentava mais, ninguém conseguia sair de casa.

                Nós perdemos o direito de ir e vir com tantas barricadas (colocadas pelos traficantes para bloquear o acesso) e bandidos apontando armas, sem respeitar nenhum morador. Não quero que eles (meus filhos) passem pelo  que eu estou passando.  Nosso temor é as coisas  voltarem ao que era antes.

                Quando as tropas chegaram, os bandidos sumiram e, quando apareciam, era sem tanta força, sem armas. Nós estamos todos com muito medo. Vou pedir muito a Deus para que (os militares) mudem de idéia." 


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

                Será que se gastou esse dinheiro todo com a alegada intervenção no Rio de Janeiro para nada?

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