Para a vitória do Brexit no
plebiscito passado, pesou bastante o voto da velha geração, saudosa do século
XX, de suas guerras e sobretudo da amarga vitória britânica sobre a Alemanha e
o continente europeu. Nisso a glória conta muito mais do que o desastre humano
e as misérias dessas grandes guerras.
Por isso, o voto das gerações que já
passaram pelo Cabo da Boa Esperança contou deveras para a surpresa dessa
vitória estiva, em um plebiscito ineptamente lançado por David Cameron, que decerto
já tem assegurado o próprio lugar na petite
histoire pelo incrível êxito resultante de um cálculo estúpido (valer-se da
convocação do que seria fatídico referendo para livrar a pauta desse primeiro
ministro de questões que desejava evitar politicamente). Nunca tantos ingleses
iriam pagar por tanta isolada elefantina burrice.
Agora Theresa
May singra nos Comuns os mares revoltos de MPs já insatisfeitos ou contrários,
beirando a rebelião da bancada contra essa sucessora de Cameron, cuja mediocridade
e consequente falta de liderança têm indisposto bom número de deputados
conservadores, no que tange às confusões que apronta e o panorama pouco
animador que proporciona tal chefia que faz rolarem na tumba Thatcher e muitos outros guias de pulso mais
forte e visão mais clara.
Os deuses, no entanto, têm sido caridosos e pacientes com
as insânias dessa velha-medíocre liderança,
e para os que têm olhos para ver, ouvidos para escutar, e mentes para
buscar esquivar-se dessa trampa grosseira - mas que promete muito atraso e
relativa pobreza - que a singular dupla Cameron - May soube reviver dos
pântanos de uma nostalgia que já cheira mal, antes que se abolete nos condados da
antiga Ilha.
Que os jovens e a esquerda ora
ponham as próprias viseiras na esperança de se verem livres do nostálgico mofo
e bolor das velhas conquistas que o passado comeu. É próprio das novas gerações
que acreditam não no passado e nas remembranças de alfarrábios, castelos e
pesados in-octavos, mas no projeto luminoso de políticos que
porfiaram duramente contra os dragões franceses de De Gaulle e os seus
repetidos vetos, que a obstinação de
políticos de muito mais esclarecidos do que os presentes (que a May também
personifica) ofereceu ao Povo inglês.
Enquanto o ideal vive - e a estupidez
pode ser esmagada - toda a luta contra os macróbios, os aproveitadores como
Boris Johnson e que tais, como ela vale a
pena de ser empenhada!
Viva a Inteligência ! Abaixo a
Burrice e a Estupidez Nostálgica!
(
Fonte: O Estado de S. Paulo)
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