quinta-feira, 1 de março de 2018

Brexit: nostalgia em vez de progresso


  
           Para a vitória do Brexit no plebiscito passado, pesou bastante o voto da velha geração, saudosa do século XX, de suas guerras e sobretudo da amarga vitória britânica sobre a Alemanha e o continente europeu. Nisso a glória conta muito mais do que o desastre humano e as misérias dessas grandes guerras.
           Por isso, o voto das gerações que já passaram pelo Cabo da Boa Esperança contou deveras para a surpresa dessa vitória estiva, em um plebiscito ineptamente lançado por David Cameron, que decerto já tem assegurado o próprio lugar na petite histoire pelo incrível êxito resultante de um cálculo estúpido (valer-se da convocação do que seria fatídico referendo para livrar a pauta desse primeiro ministro de questões que desejava evitar politicamente). Nunca tantos ingleses iriam pagar por tanta isolada elefantina burrice.
           Agora Theresa May singra nos Comuns os mares revoltos de MPs já insatisfeitos ou contrários, beirando a rebelião da bancada contra essa sucessora de Cameron, cuja mediocridade e consequente falta de liderança têm indisposto bom número de deputados conservadores, no que tange às confusões que apronta e o panorama pouco animador que proporciona tal chefia que faz rolarem na  tumba  Thatcher e muitos outros guias de pulso mais forte e visão mais clara.
            Os deuses, no  entanto, têm sido caridosos e pacientes com as insânias dessa velha-medíocre liderança,  e para os que têm olhos para ver, ouvidos para escutar, e mentes para buscar esquivar-se dessa trampa grosseira - mas que promete muito atraso e relativa pobreza - que a singular dupla Cameron - May soube reviver dos pântanos de uma nostalgia que já cheira mal, antes que se abolete nos condados da antiga Ilha.
             Que os jovens e a esquerda ora ponham as próprias viseiras na esperança de se verem livres do nostálgico mofo e bolor das velhas conquistas que o passado comeu. É próprio das novas gerações que acreditam não no passado e nas remembranças de alfarrábios, castelos e pesados in-octavos,  mas no projeto luminoso de políticos que porfiaram duramente contra os dragões franceses de De Gaulle e os seus repetidos vetos,  que a obstinação de políticos de muito mais esclarecidos do que os presentes (que a May também personifica) ofereceu ao Povo inglês.
                Enquanto o ideal vive - e a estupidez pode ser esmagada - toda a luta contra os macróbios, os aproveitadores como Boris Johnson e que tais, como  ela vale a pena de ser empenhada!

                Viva a Inteligência ! Abaixo a  Burrice e a Estupidez Nostálgica!


( Fonte: O Estado de S. Paulo)

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