domingo, 18 de março de 2018

Estranho artigo da Cantanhêde


                                            

           Não creio, mas tampouco excluo, que a questão tenha vazado. Sob o título "Cartada final do STF", colunista do Estado de S. Paulo, Eliane Cantanhêde informa ao público em geral  que "avançam as articulações de ministros do Supremo para, em tratativas com a defesa do ex-presidente Lula, acabar com a prisão após condenação em segunda instância e mudar os rumos da Lava Jato. Como a presidente Cármen Lúcia mantém firmemente sua palavra de não colocar a questão em pauta, a solução que emer- ge  é criativa e sofisticada.
" Habeas corpus só pode ser posto 'em pauta' pela presidência ou 'em mesa' por um deles, o que já não é usual, mas embargos de declaração em liminares podem ir ao plenário e  os ministros foram buscar uma liminar de outubro de  2016 para ancorar toda a estratégia: justamente a liminar que permitiu a prisão após a segunda instância, confirmada pelo plenário em dezembro daquele ano por 6 a 5.
"A defesa de Lula descobriu, e soprou aos ouvidos dos ministros, que o acórdão da liminar nunca tinha sido publicado e isso abria uma brecha para a revisão. Ora, ora, o acórdão acaba de ser publicado agora, em 7 de março, abrindo prazo de cinco dias úteis para a apresentação de recursos. E, ora, ora, o Instituto Ibero Americano de Direito Público entrou com embargo de declaração no último dia do prazo, 14 de março, quarta-feira passada.
"Um embargo de declaração numa liminar de um ano e meio atrás, que gerou dois meses  depois uma decisão em plenário? Tudo soa muito estranho, muito nebuloso, mas faz um sentido enorme para aqueles que articulam o fim da prisão em segunda instância não apenas para Lula, mas para todos os poderosos que estão ou estarão no mesmo caso.
"Lembram que escrevi, neste espaço, que havia um acórdão dentro do Supremo para combinar o fim da prisão em segunda instância e do foro privilegiado?  A base é uma equação: quem é contra Lula salva a pele dele para salvar a de todos os demais; quem é a favor de Lula salva a pele de todos os demais para salvar a de Lula.
"Houve uma sequência de tentativas que acabaram batendo num muro intransponível: a opinião pública, que não consegue digerir a mudança de uma decisão - que já passou por três julgamentos no STF - com o objetivo óbvio, gritante, de evitar que Lula vá para a cadeia.
"A primeira tentativa foi convencer Cármen Lúcia de por o habeas corpus preventivo de Lula em pauta, mas ela declarou que mudar uma jurisprudência para beneficiar um réu seria "apequenar" o Supremo. Depois, veio a sugestão de levar ao plenário os HCs de outros condenados, não especificamente Lula, mas ela divulgou a pauta de abril sem incluir a questão.
"A terceira tentativa foi escalar um dos outros dez ministros para, driblando a decisão da presidente, colocar a questão em mesa e forçar a revisão.  Mas quem? Gilmar Mendes já tinha o seu papel definido no script: inverter o voto e o resultado.O relator da Lava Jato, Edson Fachin, foi categórico ao dizer que não aprovava mais um julgamento sobre o mesmo assunto. Lewandowski, Marco Aurélio e Toffoli avisaram que não entrariam nessa bola dividida.
"Criou-se até uma torcida para o decano Celso de Mello assumir o papel e foi aí que surgiu a solução - atribuída a Sepúlveda Pertence, ex-STF e atual advogado de Lula - de publicar a liminar de 2016, gerar um embargo de declaração e levá-lo ao plenário, criando a oportunidade para Gilmar Mendes mudar o seu voto e acabar com a prisão após a segunda instância.
"Cármen Lúcia foi chamada para uma reunião na próxima terça-feira, provavelmente para discutir a ideia de, em vez da segunda instância, o plenário autorizar o cumprimento da pena após condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A prisão de Lula seria muitos meses, caso mantida; os presos após a segunda instância entrariam com HC; os futuros condenados respirariam aliviados. E a Lava Jato? O que fez, fez; o que não fez, só fará em parte."

 Eis in totum a coluna  da Cantanhêde, que fez o seu trabalho de reporter e de cronista. Estaria traçado o mapa desta solução, supostamente acordada entre Sepúlveda Pertence, de um lado, e os ministros do Supremo, do outro. A única pergunta que não quer calar será sobre o papel da presidente Cármen Lúcia. A sua suposta atuação estaria descrita no último parágrafo da coluna da Cantanhêde.  Tudo se resume em uma pergunta: estará ela de acordo com esse esquema? 



( Fonte: O Estado de S. Paulo, Coluna de Eliane Cantanhêde  )

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