segunda-feira, 26 de março de 2018

De volta a Guerra Fria ?


               

        Vladimir Putin, o operador glacial, terá acaso errado na dose? Ter-lhe-á porventura passado pela cabeça que, ao mandar aplicar novichok no ex-agente duplo Skripal, homiziado na esquecida cidadezinha de Salisbury, na Inglaterra, tudo lhe sairia a contento, como acontecera com a eliminação por gás polonium do antigo desafeto de gospodin Putin, em 2006? Se Londres aguentara o tranco de operação contra o agente Litvinenko, que morreu em hospital inglês, vítima de clara ação de guerra fria, sob as presumíveis ordens do Kremlin? E ainda por cima, este assassínio diplomático seria quase abafado, deixando-se a lorde inglês, muitos e muitos meses depois, a ingrata tarefa de discreta repreensão diplomática, daquela atrevida operação punitiva, feita nas barbas do Gabinete de Sua Majestade?
           Putin, o de nervos de aço, recém-reeleito - após o afastamento do concorrente Navalny, por suposto dolo determinado por juiz interiorano - terá ido além de o que lhe recomendaria a prudência, pensando que a operação por sucedâneo da antiga KGB, aplicando um tardo castigo a um agente duplo também passaria em branca nuvem, como, na prática, acontecera com o infeliz sucesso mencionado no parágrafo acima?
           Até o amigo Donald Trump determinou a expulsão de sessenta russos dos Estados Unidos nesta segunda-feira, juntando-se à operação conjunta da OTAN, feita em apoio a Theresa May.
           No que tange à surpreendente medida pelo amigo de Vladimir Putin, i.e. Donald Trump, ela inclui doze agentes de inteligência russos, sediados na Missão junto às Nações Unidas em New York, assim como o fechamento do Consulado em Seattle. Eles têm sete dias para deixar a terra americana.
            Também participam da operação de retaliação, dentre catorze nações da União Européia, os seguintes países: Alemanha, França, Itália, Dinamarca e Polônia. Por sua vez o aliado Canadá expulsará quatro russos.  
            Por trás deste atentado de Salisbury, o ministro do exterior polonês Jacek Czaputowicz considerou o incidente de Salisbury "um ataque sem precedentes contra civis com o emprego de armas químicas", o que não se via desde a Segunda Guerra Mundial.  O Ministro polonês declarou que o Embaixador russo e mais três diplomatas foram considerados "personae non grata", concedendo-lhes prazo de partida até três de abril para deixar o solo polonês.
             Por sua vez, a Alemanha anunciou planos para expulsar quatro diplomatas russos até a próxima semana. Além da solidariedade com o Reino Unido, especula-se que o novo chefe do Auswaertiges Amt[1], Heiko Mass, possa ter postura mais afirmativa contra Moscou que o respectivo antecessor. Mas, por ora, tal não passa de vã especulação da mídia.
              Além do tropeço de Putin, logo após a sua reeleição, a reação de Trump dá-lhe oportunidade de obter substancial ganho político-diplomático que vai bastante além da solidariedade com Theresa May. Mas isto é matéria para blog subsequente.

( Fonte: The New York Times )   


[1] Relações Exteriores.

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