A frase evangélica: 'dize-me com quem andas e te direi quem és'
pode ter significados que vão muito além de o que pensara a irrepressa ambição
de Xi Jinping.
Já falara alto a sua inegável
admiração por Mao Zedong. E, não obstante, grande foi o dano que o poder ilimitado de Mao
trouxe para a República Popular da China.
No entanto, nas administrações que
sucederam a Mao, se as diferenças são por vezes marcantes na ambiência
democrática, uma delas se aproxima bastante da democracia, quando o Primeiro
Ministro Zhao Ziyang, com o apoio de Deng Xiaoping, foi Primeiro Ministro e
Secretário-Geral do Partido. A má-sorte e o oportunismo do grupo de Li Peng
levou, na ausência de Zhao (em viagem oficial à Coréia do Norte), a que esse
grupelho prevalecesse sobre Deng, que assinou um comunicado claramente
provocatório contra os então manifestantes na Praça Tiananmen, publicado no
jornal do regime.
De volta à China, e instado por
Deng a aplicar o que então chefe informal do Poder assinara, embaído na
provocação pelo grupo direitista de Li Peng, Zhao Ziyang, como verdadeiro herói
trágico se recusa a fazê-lo, o que levou ao massacre da praça de Tiananmen, com
o Exército chinês se transformando no executor dos estudantes. A queda de Zhao
- que perdeu todas as suas posições, mas não a honra - levaria à sua prisão na
própria residência em Beijing, onde morreu em 2005. Dada a sua
popularidade, o regime cuidou de que o
seu enterro fosse secreto.
Com isso, mais uma vez um
capricho da História evitou que as forças democráticas prevalecessem na China.
A própria Imperatriz viúva Ci-Xi que
governara sob um regime democrático, no final de seu longo reinado, não pôde
viver o suficiente para legar à democracia a força necessária para afirmar-se após
sua definitiva partida.
Xi Jinping, com o seu culto a
Mao, já antecipava o que traria para a RPC. Pena que a sua admiração desmedida
a Mao Zedong o terá obnubilado acerca dos desastres para a China que trouxe o
poder ilimitado desse líder
revolucionário. O poder absoluto não pressagia tampouco com otimismo qual será
o ambiente e as condições prevalentes durante a sua guarda do mando supremo.
O longo estirão do império de
Mao se caracteriza pelo falso conformismo, pela insegurança quase absoluta -
como nas revoluções dentro da revolução que o tirano se comprazia em trazer à
superfície - e a penosa situação em que a sua suposta onipotência trouxe para o
Império do Meio.
O que mais prejudica nessa
situação de poder absoluto será a influência desmedida dos cortesãos e do seu
estreito círculo, que costuma viver sob a tensão dos alcagüetes.
A censura na RPC é
infelizmente uma presença que está em toda a parte. Zhao Ziyang punha muita fé
na democracia, como meio de controlar a corrupção, que grassa com demasiada
força nesses regimes fechados. Zhao acreditava até em controlar o Partido
Comunista Chinês através da liberdade de imprensa. Esse conúbio - que matou o
pobre Liu Xiaobo (e que mantém até hoje
a sua mulher Liu Xia em prisão
domiciliar) - pode ser terrível, mas Zhao confiava em derrotá-lo através da
verdade. Pena é que tal, pelas circunstâncias acima descritas, não lhe tenha
sido possível fazer acontecer, o que explica, de resto, a razão pela qual o
governo hodierno da China tenha caído uma vez mais nas mãos de um admirador de
Mao Zedong.
Mas há solitário aspecto
que poderá um dia fazer repontar outra oportunidade para o grupo libertário de
que Zhao Ziyang é o símbolo. Daí o medo e a ânsia que acompanha os poderosos,
como este que ora surge, Xi Jinping.
Como eles podem confiar em governança serena e tranquila, se a nuvem da
desconfiança está em toda parte, como se vê no coitado do censor desse regime,
de quem se exige tal ingrata faina?
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang,
Empress Dowager Cihi, de Jung Chang )
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