domingo, 30 de julho de 2017

Trump & Foggy Bottom (1)

                                

       O New York Times publica longo artigo de Roger Cohen sobre "O desespero de nossos diplomatas".
       Dado o transtorno que o Presidente Donald Trump está provocando nas várias Secretarias, não surpreende decerto o que esteja ocorrendo no Departamento de Estado. Como o seu último chefe foi Hillary Clinton, a primeira reação é a de atribuir à implicância derivada de sua eventual relação conflitiva com a candidata democrata.
       Afinal, dentro da confusa lógica de Mr Trump ali estava o reduto da rival que ele simpaticamente chama de "crooked Hillary"[2]. Decerto, a sua raiva aumenta porque, nos meandros da própria mente, essa versão de Con Man (vigarista)[3] que o multimilionário Trump tentou pespegar em Hillary não pegou no público americano, malgrado os comoventes esforços do atual presidente nesse sentido...
        Mas voltemos ao que hoje é - frise-se que o título da reportagem é "o desespero de nossos diplomatas" - o State Department. Rex Tillerson é o sucessor de Hillary, mas ao contrário dela, o respectivo conhecimento diplomático nesse nível é muito fragmentário e incipiente, apesar de haver sido embaixador em Moscou, junto ao bom e grande amigo (de Trump) Vladimir Putin. Tampouco parece que Tillerson esteja muito interessado em manter contato maior com os chefes do Departamento...   
      Não me surpreenderia se, na presente administração, com exceção do Departamento de Defesa, que é chefiado por alguém com grande experiência (e dispõe do natural apoio do Presidente, que não tem queda por diplomacia, e sim por secretarias como a da Defesa, que a seu ver melhor refletem o poderio americano), os eventuais despachos preferidos do presidente com os seus secretários tendam para o tempestuoso, quando não para o enfado do Grande Chefe.
            O caos que hoje prevalece no Departamento de Estado não é decerto fruto do acaso. É decorrência de seu temperamento belicoso, com laivos infanto-juvenis, eis que Trump não tem tempo a perder (perdoe-me o leitor a linguagem, mas intento refletir o pensamento presidencial) com conversas fiadas e outras frescuras do gênero.
            Nos tempos que correm, é decerto difícil encontrar alguém no quadro dos líderes mundiais menos predisposto às visões intelectualizadas de uma diplomacia da realidade pragmática. Armado do respectivo anti-intelectualismo militante, entende-se porque o seu relacionamento com líderes articulados e com muitas idéias na cabeça seja difícil. Para isso, a impressão da Chanceler Angela Merkel a  seu respeito, com todo o seu passado de experiência com líderes dos US, pode talvez servir de exemplo indicativo...
             A propósito, porque Trump se entendeu tão bem com Theresa May, a Primeiro Ministro de Sua Majestade, que pela própria incompetência política o terá enternecido, a ponto de segurar-lhe a mãozinha?... Já com Frau Merkel, alguém imagina Trump tendo uma relação, não digo terna, mas cordial, tipo aceitar o cumprimento da Chanceler, que é a decana dos estadistas do Ocidente?
             Ouço a propósito a discordância de que a reunião com Emmanuel Macron, o novel Presidente da França, correu a contento. É verdade, mas como me parece bom demais para garantir que assim  vá continuar, tenho para mim que, dados os antecedentes, eu agiria no capítulo como o técnico de nossa equipe de volley-ball, em momento de tensão em match internacional : eu pediria tempo...


( Fontes:  The New York Times,  Rede Globo )



[1] Foggy Bottom é o cognome coloquial do Departamento de Estado, que apositamente estaria localizado em lugar baixo com muitos nevoeiros.
[2] algo como "a delinquente Hillary".
[3] Na verdade, seria "Con woman", mas o termo não semelha usual.

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