sexta-feira, 21 de julho de 2017

O que fazer do Rio de Janeiro?

                            

        Não é de hoje que o Rio atravessa situação de crise. Creio que tudo começou com a transferência da capital para Brasília. Tem sido um processo longo que se estende desde a partida do Governo Federal, com o nosso JK arranchando-se na Novacap, e o Embaixador José Sette Câmara, como primeiro governador interino do Rio de Janeiro, sem mais o penacho de capital federal.
        Depois de período em que ainda muitas dependências federais permanecem no Rio - o Itamaraty foi o último ministério a sair, transferência essa dificultada, a princípio, pela questão da mudança de sede das missões estrangeiras do Rio para Brasília - esse grande movimento termina nos anos setenta, quando as coisas se foram arrumando.
        O Rio, no entanto, ficou meio capenga com a transferência para Brasília. Perdeu não só a maior parte do funcionalismo federal, mas também, e a fortiori, as naturais facilidades que lhe vinham da contiguidade do poder presidencial.
         Desacostumado a ser província, desde o Império, o Rio de Janeiro dependeria de bons administradores, e de uma aceitação da planície - vale dizer a falta da antes quase automática ajuda federal para os problemas cariocas.
         No planejamento para as Olimpíadas, o Rio através de seu poder estadual e municipal respondeu de forma a-sistêmica ao desafio. A par da habitual cara-de-pau (vale dizer prometer o que na verdade não pretende cumprir), esse comportamento calhorda e irresponsável se desenhou com linhas grossas e irretorquíveis na falta de uma preparação séria para a recuperação das águas da Baía da Guanabara.
          Jogaram pela janela a oportunidade única de notável ganho em termos de meio ambiente. O Estado - na época ainda Sérgio Cabral e depois o seu vice e, mais tarde, sucessor Pezão - nada fez, mantendo uma atitude de olímpico cinismo, se me permitem o jogo de palavras.
          Quando chegou a hora de a onça beber água, e enfrentar a situação criada pela irresponsabilidade das autoridades competentes, a cara-de-pau e o cinismo correspondente foi a resposta do Rio de Janeiro.  Muita coisa teve de se transferir para fora da Baía.Na própria Lagoa Rodrigo de Freitas, nada foi feito para acabar com a poluição causada pelos esgotos clandestinos que aí se despejam. Espanta ver o quanto baixamos em termos de cumprir compromissos.  Será a mesma gente que construíu Brasília em cinco anos?
          O pessoal da ponte de comando havia mudado e como! Para os poderes federais, estaduais e municipais, as tarefas seriam sempre grandes demais, embora em termos de Olimpíada, um dos poucos que vestiu a camisa foi o prefeito carioca Eduardo Paes, ainda que com as restrições acima apontadas, enquanto à despoluição da Lagoa.      
           Em termos de segurança, no entanto, as mudanças seriam tópicas, dentro da filosofia de tapar buracos nos lugares mais visíveis. Mandou-se para cá tropa federal e um pobre soldado seria estupidamente morto quando o motorista da tal força entrou por engano em "área proibida" de uma favela vizinha da Linha Vermelha. Aconteceu, assim, a morte de um pobre soldado que fora transferido para cá a fim de garantir a segurança do público olímpico. Pois o Rio - que continuaria lindo - está pontilhado de redutos do tráfico, redutos esses cujo ingresso representa seriíssimo perigo de morte para o turista ou o motorista que venha a cometer tal "erro capital".
             Agora, no entanto, depois de anos de corrupção epidêmica (o governo de Sérgio Cabral), enfrenta-se na antiga Cidade Maravilhosa um acúmulo de crises causadas pela conjunção de desgovernos, falta de planejamento administrativo, e ataque muito severo de corruptonite que atinge os poderes aqui sediados - eis que nem setores da Justiça estão disso livres, como se verificou em tribunais de Contas. A Lava-Jato está aqui muito bem representada pelo Juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, mas são muitos desafios para uma só equipe!
               O restante do panorama, incluindo a chamada Alerj e Câmara Municipal (a velha Gaiola de Ouro), e o governo estadual de Pezão nos mostram um quadro que contemplamos preocupados e inquietos, pois a cada momento os seus dirigentes nos decepcionam.  A falta de preparação, a miséria do funcionalismo, com os salários atrasados, a administração estadual que nos transmite pelas figuras de seus chefes, com Pezão à frente, uma imagem tão deplorável, quanto inquietante, pois não deixam de mostrar a cada passo o quão despreparados estão para os desafios do governo.
                 A segurança do Rio de Janeiro motivou uma viagem a Brasília de todos os deuses e semideuses estaduais, mas algo de muito errado há no Olimpo,  pois o time carioca não logrou deslocar ninguém para preencher os inúmeros claros da segurança no Rio de Janeiro. É verdade que o Rio - tanto em termos de dotações, quanto de problemas da criminalidade - se deixou por muito embalar na velha filosofia do Deus dará...
                 Começam por economizar as finanças do Rio de Janeiro cortando policiais.  Há muitos escândalos que provêm de uma irresponsabilidade serial. Houve governador e quem sabe também prefeito que terão determinado  que se construíssem  as escolas estaduais e municipais de forma mais econômica, fazendo, por exemplo, os respectivos muros e as paredes mais finas... Aí estaria a razão de tantas mortes de crianças e jovens por balas perdidas...
                Por falar de balas perdidas, estamos chegando ao cúmulo do problema. Há pouquíssimo tempo, na Favela do Lixão uma jovem esposa grávida de um menino, e à beira do parto , foi atingida por uma dessas balas criminosas, e até agora não se sabe se a criança - que foi atingida no ventre materno - ficará ou não hemiplégica.
                O problema da segurança no velho Rio de Janeiro já esteve totalmente sob controle várias vezes - lembram-se da histórica tomada do Alemão? e das festividades alusivas, de que participaram as três forças armadas?  - assim como do equacionamento final do desafio das favelas, com o elevado do Alemão e, inclusive, novela televisiva . Dirão que tudo no Brasil termina em novela, mas convenhamos, não nos terá assaltado o temor de que todo aquele espetáculo, com carros armados e o escambau (inclusive o emocionante hastear das bandeiras nacional, estadual e municipal) ?  Mas como tudo em Pindorama, há sempre o risco travesso que se intromete nas entrelinhas e nos diz , sabe-se lá o que. O problema hoje encerrado pode ser que reapareça nessa tela em dias seguintes...  Pois foi justamente essa reação que tivemos ao deparar com meliantes a     fugirem, por estrada de terra, saídos da favela sitiada. Exército Brancaleone, com bandidos a pé, em charretes,em caminhões, todos saídos da Favela do Alemão e correndo, correndo muito, até desaparecerem na cidade grande que, nervosa e um tanto surpreendida, os esperava lá em baixo, aonde iriam literalmente desaparecer ...  para reaparecerem dias ou semanas depois, quando todo aquele espetáculo já seria apenas estória... Mas confessemos essa verdade: não é que nos acudiu naquele momento em que pensávamos festejar a tomada definitiva do Alemão, que tudo não passasse, como no filme de Max Ophüls, de um  verdadeiro carrossel?
                 Por fim, a prefeitura...  Parece que o senhor Marcelo Crivella está mais interessado em atender aos inúmeros convites que tem recebido para visitar seminários ou o que lhes der na telha ... no Velho Continente, do que meter as mãos na massa e enfrentar os desafios do município.
                  Para cidade com os problemas do Rio de Janeiro - que vão de onde estão as estacas da antiga Perimetral, que malgrado o tamanho que as torna facilmente detectáveis, não se sabe por que artes esse custosíssimo material literalmente semelha haver-se evaporado ao problemaço de o que fazer com o antigo centro, hoje literalmente abandonado. Assinale-se que deixá-lo ao Deus dará não é solução, pois pode transformar-se em um favelaço, em valhacouto de ladrões e o que imaginar-se possa... Tampouco a menina dos olhos do Prefeito Paes - o Porto Maravilha - pode ser largado às baratas, sem a manutenção indispensável do Erário municipal. Tenho ouvido que o Sr. Prefeito Crivella é daqueles que pensa resolver os problemas com despachos em expedientes da Prefeitura. Mas veja bem, caro Prefeito: as melhorias devidas à area do Porto Mauá devem ser atendidas com o mesmo espírito que sempre presidira às iniciativas de Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, vale dizer com audácia e tino administrativo.
                    Não se resolvem os problemas, quer municipais, quer estaduais chutando para a frente, como aquele beque do Flamengo, o Pavão que pensava afastar os ataques do time adversário mandando a bola literalmente para as alturas...


(Fonte: Rede Globo)

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