segunda-feira, 24 de julho de 2017

Nove mortos em um caminhão

                          

       A notícia está em todos os jornais, nacionais e estrangeiros. Não é de estranhar. Para interesse do leitor, ela parece ter todos os elementos indispensáveis.  A morte, o número nove, o fato de ser carga humana, largada em estacionamento do Walmart, e a cercania da fronteira com o Mexico - os infelizes tinha chegado até San Antonio, no Texas.
       Há mais detalhes que incrementam o interesse pela notícia da agência. O extremo calor ambiente, as condições em que é feito, a continuação do tráfico humano - a polícia americana diz que este não é um caso isolado.                
        É um episódio de um tipo de transporte clandestino que pela procura - ditada pela fome e a ambição de uma vida melhor - prossegue impávido, malgrado a crueldade dos coyotes (que podem ter outro nome no Mediterrâneo), do caos da Líbia para os incertos portos de países como a Itália, que estão mais perto, mas no fundo tem a maldade própria do negócio e a gélida indiferença de outros traficantes, talvez um termo mais adequado para as gerais características que presidem a esse negócio de carne humana. Quem não se enterneceu com as muitas crianças sufocadas em um veículo herméticamente cerrado, que passava pela nada acolhedora nação de Viktor Orban, o fascistóide duce da Hungria.
          Não, não é o caso presente, embora o sistema não pareça ser muito diverso.

          Aí, quando temos uma notícia como essa, inclusive com as quantas pessoas que morrem ou de sede, ou da canícula fabricada  pelo temor dos coyotes de serem descobertos e enjaulados. Todos que se inteiraram do incidente ficaram abalados. Horrível! Que condições inumanas presidem a esse tráfico que também é de carne, mas viva. Ainda que abandonada ao deus-dará, até que alguém avise a polícia. Ela cuidará decerto da necessidade de providenciar a expulsão desses infelizes. Poderá até dar-lhe atendimento médico. Os coyotes, que são verdadeiros animais, decerto já fugiram. Mas não tenho dúvidas de que estarão disponíveis para transportar mais uma vez outra carga do mesmo gênero, que, apesar de conhecer os riscos, está disposta a enfrentar o desafio.  

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