domingo, 30 de julho de 2017

Trump ou o erro capital

                              
                                  

       Não carece ser especialista em Washington para notar-se que algo está muito errado na capital federal, ou no que chamam o Belt-way. E não é necessário ser experto nos assuntos do governo estadunidense para determinar a causa do pandemônio.
       Esta causa, óbvia e evidente, reponta em quase todas as páginas e, sobretudo, nas folhas de rostro e nas colunas políticas. Foi necessária grande operação político-legislativa para torná-la possível. Como dizem os nossos irmãos hispânicos, no acredito en brujas pero que las hay las hay.

       Para desmontar a candidatura real da primeira mulher à Presidência, muita coisa foi necessária. De início, a entrada em cena de estranho chefe do FBI, que começou por destratar gratuitamente a candidata a Presidente, ao referir-se com desdém sobre a maneira que ela tratava a correspondência por e-mail.  Hillary Clinton em má hora julgara oportuno utilizar terminal privado de computador. Em seguida, e a fortiori, as estranhas comunicações de Comey ao Congresso que, de forma ainda mais surpreendente, só levantavam suspicácias acerca de possíveis irregularidades na tal correspondência oficial que nunca foram encontradas a posteriori.

        Não contente com isso, a estranha figura de James B.Comey deixaria para levantar estranhíssima lebre junto aos eleitores - justo na hora da votação antecipada - quanto a possíveis irregularidades no computador do marido afastado da secretária (de Hillary) Huma Abedin. Para tanto, o republicano que Barack Obama colocara no FBI não atentou, nem para as disposições da Secretaria de Justiça, nem para o próprio juízo pessoal, em não levantar problemas políticos no período eleitoral, mormente quando inexistiam quaisquer elementos de prova contra a Secretária do Departamento do Exterior. Pelo visto, James B.Comey era experto em levantar lebres, a despeito das explícitas disposições oficiais que o proibiam de fazê-lo. E quão acertadas eram tais disposições, os fatos o comprovariam, pois ao zelo denunciatório de James Comey, não correspondeu nada de concreto! 

      O que ele fez, com singular desrespeito das normas do próprio Departamento, foi levantar lebres sobre a candidata, o que realizou nas horas mais apropriadas para causar o maior dano possível à candidatura da democrata.  Que tais denúncias tenham sido todas elas falsas e sem qualquer apoio na realidade, como dizem os italianos, qui se ne frega? (quem se importa?).  Pois posso dizer que a visada Hillary se importou e muito, pela descomunal injustiça que lhe foi feita.

      James B. Comey receberia a paga de quem mais ajudou, ao ser demitido do FBI por Donald J.Trump, pouco depois que este assumisse a Presidência.

      Sequer vale a pena sublinhar o que perderam os Estados Unidos ao ser forçada a eleição de Trump, com todos os escândalos que ora pululam na Administração Federal.

      Mas infelizmente outros contribuíram e muito para a derrota de Hillary Clinton na votação indireta (mas não naquela direta, em que ela venceu, mas não levou)... Temos a famigerada intervenção russa através do hacking de computadores (com atenção especial para o Comitê eleitoral democrata, aquele do partido de Hillary), sem falar de outras invasões russas da cibernética, todas elas levantando alto o galardão republicano de Trump...

        O amigão Vladimir Putin logrou o próprio objetivo, colocando o cupincha Donald Trump na Casa Branca.  Mas se o eleitor americano  errou,  o engano foi ainda maior pelo estranhíssimo silêncio daquele por quem Hillary renunciara - muito contra a opinião do próprio marido, o ex-presidente Bill Clinton - em gesto de grandeza[1] que terá sido difícil para muitos captar, tão rara é tal atitude nos tempos que correm.

         Por mais opositor que alguém seja de Hillary Clinton, parece difícil - pois depõe contra a própria inteligência - afirmar que o candidato republicano estivesse mais preparado do que a primeira mulher a disputar, com grande chance de vitória, a presidência dos Estados Unidos.

           Acima desfiei muitos dos responsáveis por esse triste resultado eleitoral, em que a melhor candidata foi preterida pelo pior que imaginar-se possa para a Casa Branca.
            Talvez o Povo americano, mal-informado que o foi, por estranhíssimas intervenções como as dessa polêmica figura de James Comey, que surgem como cometas, cumprem a sua missão, e sóem desaparecer para sempre. Mas dentre os autores desse crime sem sangue, mas com marcas visíveis - de que os Estados Unidos hoje se ressentem - cumpre-me acrescentar o inefável ex-favorecido de Hillary, que a repagou estranhamente com olímpico, sepulcral silêncio, a despeito de todas as alvoratadas solicitações do Comitê Democrata.

               Nunca tantos ficaram devendo tanto a um só personagem, que preferiu, por motivos que a razão desconhece, guardar silêncio. 

                O resultado está aí. As cavalariças de Augeas estão sujas de novo. E como estão!


( Fontes: The New Yorker, The New York Times, Trabalhos de Hércules )   




[1] Hillary disputara todas as primárias com Barack Obama. Às portas da Convenção, achou mais apropriado renunciar à própria pré-candidatura, pois via no seu jovem adversário democrata mais condições de vencer ao candidato republicano. E com isso não concordava o seu marido Bill Clinton...

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