quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Que fazer de Maduro?

                              

        A Venezuela é país grande demais para perdurar em ser tratado como tantas outras economias fracassadas por esse mundo afora. Tampouco o governo Nicolás Maduro pode continuar a afrontar princípios e regras fundamentais que norteiam o funcionamento dos Poderes do Estado como se devessem eles depender unicamente do bestunto de um bandido, e encarar as linhas traçadas nos mapas como barreiras inamovíveis, em que a disparidade na sorte das sociedades demográficas respectivas seja ditada por tão brutal quanto cínica diferença no destino de seres humanos, criados pelo mesmo sopro divino a que a sociedade interamericana como hobbesiana e cruel divindade reserva a uns muitos na desgraçada Venezuela o inferno de Dante, e a outras terras menos desafortunadas, ainda que no mesmo continente, prodiga  destinos que podem atingir às delícias de terras europeias e americanas.
        Se na Europa e na América do Norte, o mundo panglossiano não está sempre presente, há cínica, descomunal e inaceitável diferença no que tange à atual situação da Venezuela. Se há muitas ditaduras por esses continentes afora, nenhuma delas - nem mesmo a Coréia do Norte - é tão miserável nas condições de vida em extremo negativas quanto aquelas lançadas para a multidão dos infelizes que se arrasta por armazéns vazios de víveres e remédios, enquanto a latrocracia cuida do imundo e lucrativo tráfico de entorpecentes, que enriquece os poderosos de turno, e a extrema maldade reserva o nefando comércio do craque para os miseráveis de Victor Hugo, a que destina com a cruel bondade de redivivos Pablos Escobar a escapada sem volta para os desgraçados da Terra.    
      Toynbee nos ensina que para toda a sociedade humana há desafios, e a maneira com que ela os enfrenta e soluciona, é a premissa fundamental para que o governante olhar-se possa no severo espelho da opinião publica. As ditaduras, seja fundadas nas ideologias de turno, seja nas razões que o senso comum e a ética desconhecem, estão condenadas a serem consumidas pelas próprias distorções, a começar pela insana dificuldade de sustentar-se pelas estranhas, caprichosas, pérfidas regras que proliferam na penumbrosa falta de liberdade. Se de todas as cracias, a única que se salva é democracia,  como em todo o remédio, só se salva aquele em que palavras e atos se conjugam, em composição de que o respectivo invólucro anuncie propósitos e meios a serem atingidos pelo sentir da maioria, respeitados os direitos das minorias.
     Se como dizia Churchill a democracia é o pior de todos os regimes, excluídos no entanto todos demais, com isso o estadista inglês enfatiza os desafios do regime, nascidos da própria abertura às diferenças e aos confrontos, sempre que inevitáveis ou necessários.
      Por isso tudo, se há na atualidade um desafio para a civilização, e em particular na sua cultura latino-americana, ele se situa na pobre Venezuela, hoje vergastada tanto pela corrupção do narcotráfico e quejando, quanto por versão especiosa de um medicamento adulterado, que proporciona a felicidade das drogas - que enriquece os traficantes e dilacera os usuários - tudo isso sob a regência de um governo ilícito, filho da manipulação, e que a tudo recorre nos extremos da corrupção, seja na pirotecnia das apurações, seja na mentira e na crueldade, que são seus princípios tutelares, que tudo explicam enquanto as condições prevalentes neste particular inferno, que ceva os poderosos, alicia àqueles de que carece para eternizar um regime maldito, em que poucos florescem, e os muitos estão destinados a viver sinas piores que os mais execráveis e pútridos regimes a história nos haja desvelado.


( Fontes: Dante, T. Hobbes, Voltaire, Montesquieu, Victor Hugo, W. Churchill, A. Toynbee, George Orwell )  

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