sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Segurança sobre as águas ?

                              

       A foto do bebê inerte, mas ainda vivo, levado pelas mãos do socorrista, evoca lembrança do menino de tenra idade que parece repousar nas areias de praia do Mediterrâneo oriental.
        O que tem Davi Martins, de seis meses de idade, com Aylan Kurdi? Talvez sejam vítimas da indiferença dos homens. No caso do garotinho de três anos que se encolhe, com o rosto encoberto, nas ásperas areias de praia esquecida do Mediterrâneo  oriental, o veredito será demasiado fácil.  Aylan Kurdi dá a impressão de dormir,  eis que um naufrágio de refugiados  sírios devido à superlotação nos faz crer que o gurizinho foi docemente empurrado para aquele canto que a placidez da imagem  nos grita sobre o sacrifício dos inocentes.  
         Pode-se dizer que os socorristas  do bebê Davi Martins tudo fizeram para salvá-lo de destino tão perverso quão incompreensível.  No entanto, não atravessamos nenhuma guerra civil na Síria que o mar cruel lançou para a praia esquecida, onde o seu corpo foi dar empurrado pela maldade dos poderosos.
         Não. Ele e o irmão mais velho estavam ao lado da mãe, na lancha superlotada. O pessoal encarregado fez questão de dizer e reiterar que todos os requisitos de segurança foram atendidos. A lancha, dizem as autoridades, apesar de levar muita gente, os limites de segurança estavam preservados.  Muita, muita gente ía nela, porque queria viajar para a ilha de Itaparica...
            Logo que zarpou, no entanto, uma onda mais forte a sacudiu, e a mãe não pode reter o filho menor, que a fúria das vagas fez cair no mar...
            Que tipo de segurança é essa em que os barcos vão superlotados e bebês de colonos são arrancados dos colos maternos  pela fúria das ondas? Onde estão os equipamentos de segurança? Onde está a segurança da embarcação?
              A mãe chora copiosamente e se sente culpada de que não segurou mais forte a Davi Martins? Mas se é para perguntar,  onde estão os cintos de segurança para quando o mar estiver encapelado?
                  Quantas vidas estão ao deus dará nesses barcos como o de Pará, que era clandestino, apesar de estar lotado de passageiros? E Davi Martins, que recebeu todas as atenções com o carinho e a devoção de que nossa gente é capaz ?  Regras mais estritas, barcos menos carregados de gente, observância pelas autoridades das condições de segurança, evitam o efeito Bateau mouche... Alguém se lembra daquela gente alegre que embarcara na baía de Guanabara para curtir o novo Ano?  A situação dos barcos e as suas regras de segurança, tanto dos passageiros, quanto da própria embarcação foram realmente melhoradas, tornadas mais adequadas para esse mar que pode ser azul e límpido, como cinzento e encapelado?
                    O Povo brasileiro é único pelo seu coração grande, tão grande que até uma baleia Jubarte consegue salvar, enquanto outros povos a transformariam em carregamento de sushi?
                     O que falta ao povo brasileiro é a consciência  de que se Deus é nosso co-nacional, por vezes ele exige um pouco de atenção, respeito e a canseira das providências da segurança que podem ser trabalhosas e enfadonhas,  mas estão longe de ser faina   inútil. Juntemos a esse sopro bom e generoso que nos anima e alegra um pouco, uma pitada quem sabe de cuidado e atenção com a segurança.

                   
                     Assim como baleias, brinquemos também de salvar vidas humanas.     

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