domingo, 27 de agosto de 2017

A Venezuela agoniza

                              

        Ler mestre Mario Vargas Llosa é sempre oportuno e se o tema de seu artigo da semana  -  A Venezuela Agoniza - não é agradável, ele apresenta versão séria, sem exageros, em que a própria atenção se volta para o Povo Venezuelano, que é o grande sofredor nessa antes Tragi-comédia,  e atualmente cada vez mais tragédia,  levada pelas forças da Corrupção e do desenfreado autoritarismo, que são a triste marca do regime pós-chavista (pois nem Chávez, com todas as suas loucuras, iria tão longe e tão baixo quanto o seu dito "discípulo" Nicolás Maduro).
         Diante de nada trepida esse regime por ser baixo e indigno. A Odebrecht - que já se marcara tristemente no Brasil lulista em seu doce aconchego na corrupção - ora continua nesse triste caminhar, como indicam as notícias do reino de dom Maduro. Com a camisa de Nessus ela adentra o pântano.
           Infelizmente, quando Venezuela e Colômbia eram os únicos fanais da democracia na América Latina,  não se firmou naquela terra forte consciência democrática.
           Lentamente, a frouxidão nos costumes e na res publica foram invadindo as aras dos palácios, até que no governo de CAP - Carlos Andrés Pérez - a insatisfação da população deu o fermento necessário para tentativa de golpe militar.  Foi na década de noventa, e o tenente-Coronel Hugo Chávez pensou que, na longa lista dos liberticidas,  a porta do palácio de Miraflores estaria a seu alcance, pois, como, de hábito, o estadista CAP andava em partes estrangeiras.
              Mas esse putsch falharia, eis que, mesmo na ausência do irrequieto CAP, houve espírito militar legalista que se recusou a repetir ali a pútrida estória dos cuartelazos. Recordo-me  de estar na bela Guatemala, quando soube que meu colega embaixador, que ali representava a Venezuela, mostrara pela voz alteada o estado de espírito de um que se acreditara livre das passadas aventuras castrenses, o quanto o desestabilizara aquela inopinada tentativa de golpe.
                 A presença militar que, de sólito, tantas vezes interrompe a democracia - ou a sua aparência - nos séculos pós-independência da América Latina -  marcara o Império do Brasil, seja com o Primeiro Reinado, tão tempestuoso quanto o seu jovem titular, seja o Segundo Reinado, quando não se daria a Dom Pedro II o honroso fim que fizera altamente por  merecer, após as muitas décadas - depois de sua maioridade à brasileira, com o Quero Já! - que o levariam ao quase limiar dos cinquenta anos de serviço ao Império Constitucional - brutalmente interrompidos com a cavalgada e o ritual levantar do quépi, tão típico do subdesenvolvimento de América do Sul, e tristemente merecedora da melancólica observação de político portenho, que contemplara de longe o fim da democracia republicana, na América Latina.
                    Ao imperador-cidadão, versado em línguas e livros, homem justo e democrata, que aguentaria os excessos de  imprensa com recaídas pasquinescas, se acordaria de madrugada, no palácio da Quinta da Boa Vista, para que de imediato,e  a desoras, como se fora um réprobo qualquer, partisse, e quem o fazia era oficial de baixa hierarquia, pois para os vencidos - e ali tinham curso as palavras de Breno, vae victis![1], sem qualquer respeito o escorraçam da terra onde de Leopoldina nascera e dessarte pensavam  diminuí-lo - e desse modo vil lhe determinaram que do torrão natal partisse, como se fora alguém a quem desejavam ocultar, por simbolizar legalidade e  democracia, duas características que nos fariam muita falta, ao se dar pronta partida ao triste fenômeno do subdesenvolvimento de America Latina - aquele dos pronunciamientos e dos golpes militares.

( Fontes: O Estado de S. Paulo, Mario Vargas Llosa )



[1] O rei gaulês Breno assim se expressa (Ai dos vencidos­!) quando os cidadãos da jovem Roma reclamam das condições a que o invasor os submete. E para enfatizar - e explicitar - a ordem,ele joga na balança a própria espada, que, na verdade, constitui a razão e o suporte de sua atitude...

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