quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Trump e a Coreia do Norte



         Tem-se a impressão de que a Coreia do Norte, ao presenciar-se as desatinadas reações do Presidente dos Estados Unidos ao desafio colocado pelo regime de Kim Jong-un, representa um dado desde muito firmado, quanto à respectiva ameaça colocada por Pyongyang à superpotência, seja em ataque à base americana em Guam, no Pacífico, seja em bombardeio nuclear à extremidade norte-oeste dos Estados Unidos.
         Como essa aparentemente absurda utilização de armamento que pode pôr em risco a sobrevivência da Humanidade, ou no mal ainda terrível e impensável de ser empregada por um estranho provocador, que chega a imaginar o seu uso como arma tática, seja em fim de contas tão demencial, que tende a tornar qualquer avaliação dos riscos envolvidos extremamente problemática.
          A análise desse enfrentamento nuclear se torna ainda mais difícil pelas multifacéticas características que o problema coloca.
          Este redondo fracasso do esquema de não-proliferação nuclear estabelecido pelos Estados Unidos da América, com a anuência das demais potências nucleares, nos desvela outra falha colossal, i.e., que Pyongyang, fundado em infraestrutura pobre e deficiente, haja conseguido burlar o decantado sistema de antiproliferação, para chegar à construção e à experimentação de um artefato nuclear, a que o subdesenvolvimento do país não constituíu obstáculo de maior monta. Que um rogue cientista ou não haja conseguido burlar o esquema de prevenção montado pelo Tratado de Não-Proliferação implica na acusação mais séria quanto à inépcia de tal sistema, ou a hipóteses ainda piores no que respeita à capacidade dos Estados Unidos e do Ocidente de barrar o desenvolvimento de um artefato que constituía um profundo desejo de afirmação do regime que preside sobre a geral miséria da população norte-coreana.
           Nesse contexto, qual foi a participação da China Comunista? Como uma espécie de legado do último conflito mundial, a liderança chinesa sempre procurou surgir em posição de potência protetora da Coreia do Norte. A própria participação de Beijing na guerra da Coreia, com a entrada no conflito como 'voluntários' de suas forças, já mostra a relevância que tem Pyongyang para Beijing.
             Nessas condições, o fato de o regime de Kim Jong-un viesse a constituir através dos anos o desafio para a Paz mundial que ele ora representa não pode escamotear a gravíssima falha no esquema de prevenção da nuclearização norte-coreana.
              Outro complicador do problema da Coreia do Norte está no estilo Trump de enfrentá-lo. Por vezes, Donald Trump, seja por limitações pessoais, seja pelo próprio temperamento, não tem lidado com o desafio da maneira que seria a empregada por um Presidente preparado para agir de forma mais profissional, e não através de rompantes, como o mais recente sondagem da CBS News veio patentear. Há certo ar de bravata, de cowboy perante um rival pistoleiro, e mesmo nas ameaças do presidente ao desafiante Kim Jong-un, sem sequer consultar os canais competentes que para isso existem, inclusive numa necessária imersão junto à burocracia responsável pela matéria. Aliás essa carência de seriedade e profissionalismo já se desvela nas pessoas que Trump escolheu para assessorá-lo, como no caso do fugaz Assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn, que principiou mentindo para o Vice-Presidente Mike Pence, acerca de contatos com o embaixador russo  - o que determinou a exoneração do Assessor.
                 Além desse ar de cowboy em cavalo branco, que fala - ou melhor que tuíta antes de pensar - e, por conseguinte, não consulta aqueles que têm experiência do problema em termos de chancelaria, para que a sua eventual reação possa expressar o sentir da burocracia especializada na questão, com o aval presidencial. Ao invés, o seu comportamento transmite forte impressão de improvisação, como se lá estivesse como o velho cowboy John Wayne,  que ali está seguro de si, e que na hora h sabe puxar primeiro, como se o enfrentamento fosse simples reedição daqueles do velho Oeste.

                   Não é à toa, por isso, que 61% dos americanos estão incomodados com a maneira pela qual o presidente Donald Trump está enfrentando a crise com a Coreia do Norte, segundo pesquisa da CBS News.



( Fonte:  O  Estado de S. Paulo )




Nenhum comentário: