quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Rússia e EUA: cortes nas missões

                              

          Para quem estivesse desinformado sobre como avaliar as reações respectivas nos cortes de pessoal diplomático  da Federação Russa e dos Estados Unidos da América, e além disso ignorasse a importância respectiva na política mundial,  e somente dispusesse dos indicadores das medidas e contra-medidas, não haveria qualquer dúvida de que os EUA seriam,  para tais observadores, a potência menor  e a Federação Russa a nação mais forte, aparecendo como intimidadora, avultando sobre a fraca reação estadunidense.
           O Embaixador Michael A. McFaul[1], referindo-se ao entrevero, diz notadamente: a expulsão de 755 funcionários tem impacto muito maior em nossas relações diplomáticas com a Rússia, do que a ação de resposta tem nas operações russas nos Estados Unidos.        
             A diferença é gritante, e se diria própria de potência menor, diante da ordem de Vladimir Putir de retirada  dos tais 755 funcioná-rios americanos  de seu pessoal em Moscou. A resposta estadunidense é daquelas que dá uma dor no pescoço dos diplomatas americanos, eis  que manda Moscou fechar o Consulado em São Francisco e dois anexos diplomáticos, em Washington e New York.
            Mas quem parece controlar a iniciativa não dá a impressão de estar satisfeito com a débil resposta americana. Gospodin Lavrov, que é o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Kremlin, deplorou a escalada (sic) de tensão nas relações bilaterais e, não satisfeito, disse ainda que o Governo russo estudará a medida antes de decidir  sobre como irá responder.
            Sem embargo, o clima de apaziguamento - a palavra em inglês é appeasement e  me parece desnecessário recordar o que esse vocábulo traz à superfície em termos de política internacional.
            Mas as diferenças nas respostas das duas potências não param aí. Enquanto Vladimir Putin anunciou o corte ao vivo, em horário de ponta na tevê russa, o Presidente Trump preferiu delegar a resposta ao Secretário de Estado Tillerson, cabendo a explicação da medida a um funcionário de nível médio no Departamento de Estado.
              Como se deveria explicar, no entanto, a postura do Presidente Trump, quando perguntado sobre a ação russa de reduzir o pessoal americano na missão em Moscou?
              Trump chegou a expressar a gratidão (sic) ao invés de irritação (anger) para com o Sr. Putin, quando perguntado sobre a ação russa de reduzir o pessoal diplomático americano na embaixada em Moscou.
              Se interpretada à risca, não é decerto página das mais edificantes para a imagem americana: "Quero agradecer (a Putin), porque estamos tentando reduzir a folha de pagamento, e na medida em que isso me diz respeito, estou muito agradecido de que ele haja retirado um número grande de pessoas, porque a nossa folha de pagameneto ficou menor".
               Pelo exagero na deferência, mais parece tentativa de ironia, ou até mesmo de sarcasmo, de parte do Presidente Trump, ao apresentar dessa forma faceciosa o corte determinado pelo ukase[2] de Putin. De toda maneira, o presidente americano anda em terreno perigoso, ao debochar do trabalho dos quadros diplomáticos americanos, num enfoque de resposta muito diverso da tardia reação de Obama, que castigara Putin pelo inaudito êxito em influenciar as eleições estadunidenses.
               Não me parece demasiado reportar, como já referi alhures, que Barack Obama deixara de intervir no processo eleitoral americano, quando ainda seria possível revertê-lo em favor da candidata Hillary Clinton.
                Mas isso seria chorar sobre leite derramado, quando por razões ainda não de todo avaliadas - como o assinalou artigo da revista New Yorker - Obama preferiu manter-se à parte, em termos de uma ajuda mais incisiva para Hillary. São temas que a História - essa velha senhora que só costuma entrar em capítulo quando não só as paixões, senão as motivações se tornaram mais afastadas, mas também menos determinantes para o geral interesse - tende a olhar com o enfado que só a distância confere...

( Fontes:  New Yorker, The New York Times )



[1] Serviu como embaixador em Moscou na Administração Obama.
[2] decreto, ordem imperial.

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