segunda-feira, 31 de maio de 2010

CIDADE NUA III

Doce Ilusão (13)


No fim de semana, foi no hospital retirar os pontos. Para alívio seu, não deu com o médico que lhe aconselhara a registrar a ocorrência.
Tentou ler romance que comprara faz pouco, mas não lograva avançar além dos primeiros parágrafos. Em breve a sua atenção voava para a experiência com Gardênia.
Não que houvesse muita coisa agradável a recordar.
A cada distração na leitura, ressurgia o filme já conhecido.
A dizer verdade, não sabia o que fazer da relação.
Pensando bem, será que existia alguma relação?
Naquela noite, dormiu sono inquieto, agitado, desses tão superficiais que se tem a impressão de estar acordado.
No domingo, não aguentou ficar no apartamento, como era seu hábito. Caminha a esmo pelo bairro, vai até o calçadão, porém nada encontra que o distraia.
Cogita ligar para amigo seu, mas logo muda de ideia.
Antes que retorne ao apê para preparar o rango costumeiro, espicha a andança ao bairro do Peixoto. Percorre a Anita e se detém diante de o que acredita seja o prédio em que ela mora.
Ali para por uns minutos, a percorrer a fachada como se a busca de aceno na janela. Só há de aperceber-se da estranheza da atitude, quando, de repente, se descobre objeto de olhares atravessados do porteiro.
A exemplo de menino apanhado em estrepolia, dá meia-volta e se afasta. Vai depressa no rumo de casa, refletindo na infantilidade do gesto. Pois nem sabe se a criatura mora na frente ou nos fundos !
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