Os encarregados de nossas finanças continuam a demonstrar o quanto prezam as aparências. De que modo poderíamos definir o último e recentíssimo exemplo desses dirigentes, senão como mais uma prova de comportamento irresponsável, que os faz atuar segundo modelo de categoria a que podemos aspirar, mas ao qual ainda não pertencemos ?
Como a potência econômico-financeira que ainda não somos, o Ministro Guido Mantega anuncia que o Brasil participará do esforço financeiro para auxiliar a Grécia. Faremos aporte de US$ 286 milhões ao Fundo Monetário Internacional que participa com a União Europeia do socorro ao combalido tesouro da República Helênica. As divisas sairão das reservas internacionais do Brasil e serão transformadas em direito especial de saque no FMI.
Consoante o Ministro assinalou “o Brasil foi chamado, na qualidade de credor (do FMI) para pôr dinheiro lá (na Grécia). Vamos pegar (o dinheiro) das reservas, mas é uma conversão em direito especial de saque que volta para a reserva”.
A par da fraqueza interna e dos enormes rombos anunciados na Previdência e, por conseguinte, no Tesouro, com o descalabro da anulação do fator previdenciário e do calamitoso aumento dos aposentados, dos minguantes superavits primários, dos inúmeros artifícios fiscais empregados para mascarar os índices (V. retirada das despesas com o PAC do superavit primário, as seguidas e irresponsáveis capitalizações do BNDES,etc.etc.), há indícios de uma mudança da posição interna das finanças brasileiras.
Todas as prestidigitações nesse campo tem sido abundantemente referidas no blog. Com a casa em ordem, feitos os deveres da ortodoxia economico-financeira, a tarefa no exterior de nossas autoridades (à frente o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles) fica decerto facilitada. A aparência não substitui a realidade e se continuarmos, no plano interno, a disfarçar as espertezas de Lula e acólitos, para levantar edifícios alicerçados mais na areia das metaconstruções contábeis, do que em sólidos fundamentos, a verdade pode tardar um pouco a mostrar-se porém aparecerá fatalmente.
Sabemos que a solidez da economia tem uma base interna, que, de forma inexorável se manifestará também para o observador externo.
Depois da jogada de marketing de emprestar dez bilhões de dólares ao FMI (V. blog O Falso Credor, de 16.04.2010), os dados se tem acumulado para sinalizar uma posição ao fim deste ano, no balanço de transações correntes, não de Credor internacional, cujas vestes o Ministro Mantega volta a envergar no lance do empréstimo à pobre Grécia, mas sim de Devedor líquido.
Em função da última minicrise nas bolsas, com a inesperada queda no índice Dow Jones, tornou o dólar a constituir-se no último refúgio do especulador assustado. A cotação de nosso apreciado real despencou, passando o dólar americano a ser trocado por R$ 1,851. Na economia e no câmbio, há desastres especulativos que podem prenunciar paradoxalmente um futuro mais promissor. Posto que esta paridade esteja longe do ideal (que estaria por volta de R$ 2,5), se houver uma estabilização em um nível superior aos anteriores, já se afiguraria um pouco menos prejudicial para nossas contas. As importações não ficarão tão baratas, nem as vendas para o exterior tão dificultadas pelo real forte.
É muito cedo, no entanto, para aventurar-se a prognosticar uma salvação da forca para o real. Cabe aguardar se realmente o dólar tenderá a fortalecer-se em um prazo menos breve, e se o real se desvalorizará ainda um pouco mais, no viés indicado pela abrupta queda.
Se todas essas condicionalidades não se efetivarem, as previsões de Paulo Nogueira Batista Jr. continuarão de pé, com o magérrimo saldo na balança comercial da ordem de uns dez bilhões de dólares em 2010, o que não nos salvará de substancial débito no balanço de pagamentos, com todas as decorrências desse infausto evento, inclusive a de reaparecermos no cenário internacional não mais com a pose do fanfarrão credor, mas nos habituais andrajos de humilde devedor.
De qualquer forma que as coisas se configurem, como bonecos em teatro mambembe, os responsáveis pelo tesouro nacional podem até jactar-se dos feitos exibidos, mas em verdade deverão é agradecer à deusa Túxe (Fortuna), pois nada terão feito para deles se proclamarem autores.
( Fonte: O Globo )
domingo, 9 de maio de 2010
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