terça-feira, 25 de maio de 2010

CIDADE NUA III

Doce Ilusão (09)

O jantar não correspondeu à sua expectativa. Embora estivesse fazendo um senhor sacrifício – deixava para depois pensar em como lidaria com a dívida no cartão de crédito -, Gardênia não lhe passou a impressão de que se sentisse lisonjeada pelo convite para aquele tipo de restaurante.
Na verdade, se a princípio ele confundiria o seu constrangimento, como se traduzisse reação até favorável ao gesto de trazê-la a um lugar fino, não demoraria muito para que ela lhe mostrasse a extensão do próprio engano.
“ Essa, francamente, eu não esperava...”
“ Não tou entendendo o que você quer dizer com isto, Gardênia.”
“ Bem, não quero que se ofenda,”disse, ensaiando um sorriso amarelo.
“ Não se trata disso... Você me parece um pouco incomodada... Garanto que não há de se desapontar... muito pelo contrário.”
“ Nada contra você, Alberto... Só que estou achando este nosso programa meio fora de propósito...”
“ Não atino com o que possa aqui desagradar você... Dê pelo menos ao cozinheiro a chance de fazê-la mudar de ideia...”
Surpreso com a sua atitude, ele procurava controlar a irritação por trás de alguma ironia.
Como ela não quisesse pedir entrada, logrou, com certa insistência, que os dois partilhassem de melão com presunto de Parma.
Para o prato principal, o garçom sugeriu o steak au poivre.
Alberto a viu indecisa.
“ Se você gosta de filé-mignon com pimenta...”
“ Ah, é com pimenta ? Muito forte ?”
“ Não”, interveio o garçom, “realça o sabor da carne, mas é bastante leve...”
“ Então, tá bem, fico com o filé-mignon...”, disse ela.
“ Como você quer : ao ponto, bem-passado, mal-passado ?”, perguntou Alberto.
Na dúvida, ela lança olhar de indagação ao garçom.
“ Para o paladar, o melhor seria ao ponto...”
“ Então, tá bem, ao ponto !”, confirmou, aliviada.
“ E o cavalheiro ?”
Tournedos, ao molho béarnaise.”
“ Ao ponto ?”
“ Sim.”
“ Ótima escolha. É uma das especialidades da casa.”
Para beber, Alberto consegue demovê-la do refrigerante que ela pediu de cara. Com bastante relutância, acaba aceitando uma taça de vinho chileno cabernet sauvignon.
“ A senhora não preferiria meia garrafa ?”
“ Senhorita, por favor.”
“ Desculpe...”
Irresoluta, Gardênia volta-se para Alberto.
Com a meia garrafa de vinho chileno, a conta ficaria ainda mais salgada, pensou ele. Na certeza de que ela vá beber pouco, decide atalhar a questão.
“ Creio que será melhor escolher a taça de vinho, não acha ?”
“ Tá bem, pra mim assim tá ótimo !”
“ Então, estamos acertados. Ah, traga primeiro a água mineral, e depois, com o segundo prato, as duas taças...”
*

Um comentário:

Jose Marcos disse...

Estamos gostando e muito curiosos para ver o que vai acontecer.
Cristina e J.Marcos