terça-feira, 25 de maio de 2010

A Coreia do Norte

A Coreia do Norte – ou deveríamos chamá-la a Coreia da China ? – é o estado-bandido por antonomásia. A sua população é refém de um exército que cresceu muito além dos parâmetros normais. Com armamento atômico e mísseis, constitui um parasita que literalmente retira da infeliz população a nutrição necessária. As hostes armadas em que se sustenta a dinastia comunista dos Kim, bem fardadas e alimentadas, além da ameaça à paz que representam, significam um peso cruel para os pobres habitantes do único enclave estalinista sobrevivente no mundo.
A República Democrática Popular da Coreia será talvez o exemplo remanescente de o que significam as democracias adjetivadas. Na verdade, ao designá-la como Coreia do Norte estaremos muito mais próximos da realidade. Ela é decorrência da última guerra mundial, com a invasão tardia pela União Soviética de um Japão nas vascas da derrota final. Nomeado pró-consul Kim Il Sung, surgia a dinastia comunista dos Kim, que o atual Kim Jong Il continua.
Cristalizada pela guerra – em que o norte de Piongyang invadiu o sul - a divisão política entre a Coreia do Sul e a do Norte está cristalizada, desde então, no paralelo 38, após o armistício entre as forças dos Estados Unidos e os ‘voluntários’da China de Mao.
Face ao progresso da Coreia do Sul, o anacronismo político e econômico da Coreia de Piongyang só persiste por duas razões básicas, v.g., a proteção outorgada pela China e a bomba atômica possuída pelo exército norte-coreano.
A Coreia do Norte poderia ser exemplo clássico do comportamento estatal esquizoide. Alterna fases de contestação exacerbada com breves períodos de suposta boa conduta.
Inseridas nessa trajetória peculiar estão os recuos da ditadura dos Kim, durante as negociações do chamado grupo hexapartite, de que participam, além das duas Coreias, os Estados Unidos, a República Popular da China, Japão e Federação Russa.
A alegada desnuclearização da Coreia do Norte estaria entre os escopos do grupo, embora os resultados reflitam um farcesco ir e vir, que desafia a paciência dos diplomatas ocidentais.
O último episódio desse comportamento atípico da Coreia do Norte está no afundamento por um torpedo de nave de guerra da Coreia do Sul, que se achava em águas internacionais.
A Secretária de Estado Hillary Clinton, em visita à protetora oficial do regime de Piongyang, tem batido na tecla que a comunidade internacional não pode admitir as atitudes belicosas e na contramão das normas básicas das relações internacionais desse país.
Como a Coreia da Norte tem um único aliado – a República Popular da China – na sua situação de protetorado virtual de Beijing, o seu comportamento caracteriza as limitações desse gênero de relação. Como um jovem rebelde, pode receber repreensões de sua aliada e protetora, mas sabe que, por motivos de prestígio, os eventuais castigos jamais tenderão a pôr em perigo a respectiva hierarquia. O que, na prática, equivale a um salvo-conduto para re-incorrer em prazo futuro de conveniente distância nas mesmas demonstrações de atitudes antissociais. Afinal, as bestas selvagens, inclusive as domesticadas no circo, têm a inerente tendência a eventuais reincidências.
A situação na Coreia só seria resolvida em base permanente com a reunificação das duas partes da península coreana. Ora, rebus sic stantibus, politicamente não há condições presentes para prognosticar como provável, em curto espaço de tempo, essa reunião do povo coreano.
Se o desfazimento da União Soviética, precedido da queda do Muro, não era evento que a estirpe dos sovietologistas – e leitores-intérpretes de fotos e comunicados do então Politburo – sequer considerasse, haverá sempre espaço para a esperança, posto que, por vezes, os tempos da inescrutável História não sejam assim tão breves e favoráveis.

Um comentário:

lila disse...

Não conheço bem a situação da Coréia do Norte mas ter como grande aliado a China, um monstro que cresce descabidamente, é um perigo.