Faz algum tempo que a escolha do candidado a Vice-Presidente na chapa de Dilma Rousseff se encontra praticamente decidida. A princípio, de má vontade, o próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva alvitrou a possibilidadde de lista tríplice. A insistência do PMDB e do pré-candidato praticamente encerraram a questão. O deputado Michel Temer, atual presidente da Câmara, deverá ser o companheiro de chapa de Dilma Rousseff.
Ninguém desconhece que Michel Temer constituirá, por assim dizer, o candidato a vice clássico, eis que não acrescentará votos à candidata. O que trará será uma preciosa quota de minutos para a propaganda eleitoral gratuita, que precede o primeiro turno da eleição. O PMDB pode ser um deserto de políticos em termos de carisma e de condições para candidatar-se à presidência da república. Sendo, no entanto, o que é, uma amorfa frente partidária, rica em representação parlamentar e mesmo em governadores, oferece aos eventuais interessados a melhor parcela de tempo disponível, o que vem a calhar para Lula e sua pupila.
Por outro lado, Marina Silva é respeitada, seja por suas ideias, seja por seu passado. Constitui a candidata destinada a carrear o voto demonstrativo, aquele que os eleitores de primeiro turno privilegiam como ocasião para manifestar o seu bem-comportado protesto contra os principais candidatos em liça. Às vezes, como ocorreu na França, esse gratuito ensejo da expressão idealista pode custar caro. Prova disso foi o socialista Lionel Jospin que estultamente o incentivou para, ao cabo, ver a sua estratégia ter demasiado sucesso. Ao desperdiçar o sufrágio em uma coorte de candidatos nanicos, o eleitor francês levou o neo-fascista Le Pen para o segundo turno, causando grande gáudio em Jacques Chirac, que pôde dessarte ganhar com tranquilidade a eleição e a reconfirmação no Elysée como Presidente.
Não creio que tal ocorra dessa feita. Primeiro, porque felizmente a extrema direita não tem aqui chance de empolgar a presidência; segundo porque Marina Silva, respeitável nas suas ideias, tampouco logrou até agora sair da planície dos onze por cento de preferências.
Mas voltemos à questão do Vice. Por obra e graça de Aécio Neves, ela se coloca unicamente para o PSDB e seu pré-candidato, José Serra. Quanto à capacidade de Aécio fortalecer a chapa tucana, afigura-se lícito afirmar que o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso se tornou o porta-voz de um sentimento que é partilhado por militantes do PSDB e pelos seus adversários políticos
Quando FHC disse que a chapa ideal para o PSDB na próxima eleição é aquela formada por Serra e Aécio estava apenas expressando uma opinião geral, que se impõe pela própria evidência. A força da chamada chapa puro-sangue é unanimidade, dentro do partido e fora dele.
E, no entanto, a despeito da pressão exercida pela cúpula partidária e pela própria lógica factual, Aécio Neves vem repetindo, e para uma audiência em crescimento, a sua negativa.
Como explicar a recusa de Aécio ? Semelha pouco provável que possa ser atribuída a rancor no processo de escolha intrapartidário, visto que Serra soube conduzi-lo de forma a que se tornasse patente o apoio da maioria dos correligionários à sua candidatura.
Havendo sido voluntária a renúncia de Aécio a pleitear a cabeça de chave do PSDB, resta perguntar quais seriam os motivos de não desejar integrá-la como vice.
Haveria dois: ou a convicção de que iria para o sacrifício, haja vista uma possível derrota de Serra diante de Dilma, ou a opinião de que a sua presença na chapa teria efeito similar a de qualquer outro candidato a vice, vale dizer, não acrescentaria um contingente apreciável de votantes.
A despeito de suas iterada argumentação de que possa ser mais útil para Serra trabalhando de fora da chapa, não só o bom senso, mas também o parecer dos entendidos contrariam tal tese. A popularidade de Aécio Neves em Minas Gerais é um fator importante, e a sua presença na chapa tenderia a aumentar o total de votos nas Alterosas para o paulista José Serra.
Nesses termos, se persistir o não de Aécio Neves a formar a referida chapa puro-sangue – e não se pode excluir que, não obstante as várias negativas, possa o descendente de Tancredo Neves reconsiderar, dando mineiramente o dito por não dito – não há dúvida que José Serra partirá enfraquecido para o embate de três de outubro, seja o seu companheiro de chapa do PP ou do PTB. O candidato a vice servirá então para agregar tempo para a propaganda eleitoral gratuita.
E nada mais. Será por tal razão que as pressões sobre Aécio ainda podem aumentar. Com resultados imprevisíveis.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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