Nada mais convincente da postura do PT com respeito a PLP 518/09, o projeto de lei de iniciativa popular contra os fichas-sujas, de que a foto do líder do partido governista, Deputado Candido Vaccarezza (PT/SP). A sua cara redonda arremeda não só a máscara da tragédia no teatro, com os lábios cerrados em forma convexa, mas também a irritação parlamentar com tal projeto, de iniciativa do Movimento contra a corrupção eleitoral (MCCE).
A declaração dada por Vaccarezza à imprensa é mais reveladora do que muitas das tramoias maquinadas contra a PLP 518/09: “ O governo vai ficar distante, não é tema para dar orientação”.
Se a contraposição com o PT do passado, moralizante e intransigente, não pode ser mais eloquente, a atitude do lider Vaccarezza se afigura melancolicamente coerente com as repetidas atitudes do seu líder máximo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como se poderia definir o exemplo de repetidas intervenções do Presidente, tantas vezes contrárias a posições éticas e moralizantes ? Que modelo Sua Excelência prega para os brasileiros, quando recomenda um tratamento de privilégio ao Senador José Sarney, ao ensejo dos escândalos do Senado Federal: “ele não é um cidadão comum” ? Ou quando ousa dizer que “as imagens não falam por si”, diante do videoteipe das confrangedoras cenas do escândalo do mensalão do DEM em Brasília ?
Depois do trabalho do relator do PT, Deputado José Eduardo Cardozo (SP), que introduziu novas mudanças no projeto, acredita-se que a PLP 518 possa ser votada ainda nesta semana.
Assinale-se que, por força das repetidas incursões contra o projeto, ele já se acha bastante desfigurado, enfraquecido nos dispositivos que vedavam o ingresso de fichas-sujas no Congresso. Agora, ao invés de impedir a entrada dos condenados em primeira instância, em atendimento também a pleito do Presidente da Câmara, Michel Temer (que é objeto de ação em primeira instância), se passou a barra para os condenados em segunda instância (órgãos colegiados).
No entanto, pulula ainda o descontentamento de Suas Excelências. Nesse sentido, se reputa cabível outra mudança, que prevê a possibilidade de os condenados em segunda instância recorrerem a instância superior para tentar suspender a inelegibilidade...
Malgrado essa nova e salvadora emenda haja sido bem recebida nesses círculos, não se exclui a perspectiva de o projeto não ser aceito. Com a declaração do líder Vaccarezza de que o governo vai ficar distante, é o caso de perguntar-se se as manobras de esvaziamento do plenário – é lógico que os opositores da PLP 518/09 não desejam que se saiba os nomes dos cabecilhas que armam essa sabotagem contra projeto de quase dois milhões de eleitores – terão afinal êxito.
Se o painel eletrônico de hoje, terça, ou quarta-feira – os únicos incríveis dias em que os deputados exercem as próprias funções no Congresso – exibir a derrota do projeto contra os fichas-sujas, estaremos vivenciando a mais despudorada e descarada afronta à vontade da grande maioria do eleitorado, manobra esta que terá contado com a cumplicidade dos líderes partidários, e com o PT à frente, na sua compacta oposição a um projeto que visa apenas escoimar o Congresso.
Se autocondenação fosse acaso exigida, não disporia o Povo brasileiro de manifestação mais explícita.
( Fonte: O Globo )
terça-feira, 4 de maio de 2010
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