segunda-feira, 24 de maio de 2010

CIDADE NUA III

Doce Ilusão (08)


O ônibus não demorou. Como Alberto acenasse em pagar-lhe a passagem, ela interviria prontamente.
“ Nem pensar !”
Havia assento vazio do lado do corredor. Não sabia por que ela tinha ficado para trás. Ao chamá-la para ocupar o lugar, sentiu a sua relutância.
Durante a viagem, embora estivesse quase que colada nele, não disse palavra. E nem se ofereceu para pôr no colo o embrulho que ele segurava.
Por sorte, o passageiro da janela saltou no Leblon. Como ela hesitasse em dar-lhe lugar, ele se fez de desentendido.
“ Gardênia, acho que é o caso de você ir para o outro assento.”
Se bem que remanchasse, acabou cedendo.
“ É que não sei quem de nós vai saltar primeiro...”
“ Ora essa! vamos saltar juntos ! Não combinamos um programa ?”
Devagar, aqueles olhos grandes o fitaram. Para ele, um espelho seria mais expressivo. Pelo menos, refletiria a sua surpresa.
“ Alberto, nunca combinei programa algum com você.”
Ele sorriu, enquanto tocava de leve com os dedos na mão cuja delicadeza admirava.
“ Meu bem, não sejamos tão formais. Falamos, sem compromisso, de uma saída...”
Uma das coisas, pensou, com que ela convivia mal era a familiaridade do carioca. Até um atendente desconhecido de tele-market podia sapecar com um ‘minha querida’...
“ Posso saber qual é a sua ideia ?”
Ouviu com prazer a pergunta. Por primeira vez ela lhe passava a bola. Não podia perder aquela oportunidade. Tinha que impressioná-la. Por isso, não era hora de economias sujas.
“ Você gosta de comida francesa ?”
*

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