A sabedoria popular nos ensina que a mentira tem pernas curtas. Por outro lado, e com referência análoga, se diz que é impossível enganar a todos por todo o tempo.
E, não obstante, o fato de que tais ditos estejam arraigados na opinião, haverá sempre pessoas que acreditarão na possibilidade de se tornarem exceções à regra.
A pré-candidata à Presidência pelo Partido Verde Marina Silva falou nessa semana sobre a operação da Polícia Federal que prendeu altos assessores do ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, por desmatamento ilegal. Consoante lembrou Marina, foram as pressões de Blairo Maggi e do Ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) e do Secretário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, que a levaram a deixar o Governo.
É duplamente oportuno ouvir a explicação dada por Marina Silva para a sua exoneração do Meio Ambiente: “Maggi fez toda aquela disputa comigo, junto com o Ministro Mangabeira Unger e o Ministro da Agricultura. Eles se colocaram contra mim de tal forma, querendo revogar medidas de combate ao desmatamento, a ponto de eu sair do governo. Dois anos se passaram e agora a Polícia Federal mostra que eu estava inteiramente correta. O governador estava fazendo discurso pseudoambientalista e, na prática, destruía florestas.”
Releva assinalar, segundo as palavras autorizadas de Marina Silva, que por pouco o presidente Lula não atendeu a Blairo, que queria revogar as medidas que proibiam o desmatamento:
“Ele (Blairo) se colocou contrário aos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, queria que Lula revogasse as medidas, e por pouco ele não revogou (meu o grifo). Naquela hora saí. (...) Se eu não tivesse saído, Lula talvez tivesse revogado as medidas com a pressão dos governadores, de Mangabeira e Stephanes.”
Por outro lado, Miriam Leitão, na sua coluna de 26 do corrente ‘O insustentável’ se reporta à Operação Jurupari da Polícia Federal que, depois de dois anos de trabalho, levou dezenas de pessoas no Mato Grosso à prisão, dentre elas inúmeros auxiliares bastante próximos do Governador Blairo Maggi.
A dúvida que a colunista levanta quanto ao fato de Maggi não ter mudado se afigura algo retórica, similar à do português que entrevê, pela bandeira da porta, a própria mulher na cama com outro homem e exclama: ‘cruel dúvida !’
Pois dentre os presos pela P.F. estão o ex-secretário de Meio Ambiente de Maggi, Luiz Henrique Daldegan que ao dizer de Leitão “era o chefe da operação limpeza de reputação de Blairo que no passado era o maior antiambientalista e depois passou a dizer que era um defensor do meio ambiente”. Por outro lado, “o ex-secretário de Mudanças Climáticas Afrânio Migliari também está no mesmo processo, como chefe de inúmeros ilícitos. Ao todo, foram expedidas ordens de prisão de 91 pessoas entre políticos, servidores, autoridades da Secretaria de Meio Ambiente, empresários.”
E continua Miriam Leitão: “Na questão ambiental houve dois Blairo Maggi nos últimos anos. O primeiro disse que destruir 24 mil km2 de floresta num ano era pouco perto do tamanho da Amazônia; afirmou que o país não podia ficar catando coquinho na floresta; hostilizou ministros do Meio Ambiente e acusou o INPE de erro técnico. Um segundo Blairo Maggi disse que tinha se convencido de que estava errado.”
Todo o tráfico de influência posteriormente desvendado pela P.F. passava pela Secretaria do Meio Ambiente de Luiz Daldegan. O mais curioso a respeito é que o braço direito de Maggi para provar que o estado do Mato Grosso tinha virado exemplo de sustentabilidade foi igualmente o Secretário Daldegan.
“Com ele e grande comitiva, o governador foi a Copenhague participar de debates sobre créditos pelo desmatamento evitado. Alegava ter desenvolvido ferramentas modernas para detectar, prevenir e combater o desmatamento.”
As citações acima falam por si e pouco há a acrescentar, senão a satisfação com a exposição através da Polícia Federal da quadrilha antiambientalista no Mato Grosso, e o continuado cinismo do chefe do bando, seja nas afirmações pregressas contra o ambientalismo, seja na insolente e – porque não dizer – estúpida instrumentalização da consciência ambientalista, fundada na sua hubris de que lograria sempre convencer a todos da sua nova fé ambientalista, a despeito da respectiva companhia e métodos anteriores.
Há outro ponto que cabe aprofundar. Ao sublinhar que foi duplamente oportuna a explicação dada por Marina Silva para a sua saída do Meio Ambiente, desejava também assinalar o quão precária é a alegada convicção ecológica do Presidente Lula da Silva. Não é à toa que Lula não perde ocasião de prejudicar a causa do meio ambiente, para angariar votos e simpatias junto à gente como Blairo Maggi e os ruralistas.
Os poucos estudos de Lula – e a sua azia em ler a imprensa – constituem frágil barreira contra as investidas de Blairo, Stephanes, Mangabeira Unger e quejandos. Que uma velha companheira, de provada honestidade e experiência, teve de queimar-se no altar ministerial para que a nossa legislação ambiental não fosse ainda mais desvirtuada e esvaziada, diz muito mais do que as antigas suspeitas sobre a pouca valia do apreço de Lula ao discurso do ambientalismo.
( Fontes: O Globo e Miriam Leitão )
sexta-feira, 28 de maio de 2010
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