A seleção do Brasil para a Copa do Mundo é assunto que nos concerne a todos. No meu entender, não há donos da seleção. Se existe um dono, é obviamente o Povo brasileiro. Não há país no mundo que invista tanto em sua seleção, em termos de apoio e de torcida, quanto a brava gente brasileira. Por isso, o processo de escolha dos jogadores a integrarem a nossa seleção – e sobretudo para o máximo certamen, que é a Copa do Mundo – deveria ser mais aberto.
A indicação dos jogadores não é questão de foro íntimo, ou oportunidade para sinalizar aqueles atletas que gozem da especial simpatia do técnico.
Muito se tem falado da importância da manutenção de um chamado ‘grupo’, de um ‘coletivo’ de jogadores que merecem a confiança do selecionador, e que, por sua parte, se consideram membros de uma sociedade que preza a respectiva coesão.
Não discordo da importância da manutenção da disciplina ao se pensar no todo que é a seleção brasileira. No entanto, tais critérios de privilegiar o sentido grupal e a respectiva adesão a uma suposta integração em mentalidade de mosqueteiro – um por todos e todos por um -, tais critérios, repito, devem ser necessariamente precedidos pelo julgamento da capacidade técnica e atlética de cada jogador.
Ao formar a seleção do Brasil – a única a levar no peito as cinco estrelas da copa – cumpre aferir as possibilidades individuais de cada jogador. Não estamos montando aqui nenhuma falange macedônica ou legião romana, em que o valor individual cede a primazia ao conjunto. Por isso, para cada posição, o técnico deve indicar o melhor jogador brasileiro, consoante a sua capacidade técnica, controle emocional e regularidade de desempenho. Não há lugar para favoritismos pessoais.
Quando tais critérios foram quebrados – e nesse contexto é oportuno lembrar a não-convocação de Romario em 1998, a pretexto de uma contusão, da qual o jogador tinha tempo para recuperar-se – pagamos muito caro esse tipo de decisão personalista. Perdemos a partida final contra França porque não tínhamos um substituto para Ronaldo, que entrou em campo claramente sem condições psicológicas.
Assistir hoje, às treze horas, pela Rede Globo, ao anúncio dos 23 convocados representou exercício não só de paciência, senão de perplexidade. Paciência por verificar consternado que a obtusa teimosia do selecionador imperaria inconteste, primando em designar os fiéis representantes do grupo. Não desmereço das conquistas alcançadas ao longo das eliminatórias e a reação havida, após a derrota de um time que se sentia pequeno diante do Paraguai.
Não se deve decerto esquecer a série de vitórias atingidas. Tenha-se presente, porém, que a Copa do Mundo é a competição mais difícil, pois aí todas as melhores equipes se acham reunidas. Dessarte, o que mais convém ao Brasil ? Manter o conjunto anterior e a sua mentalidade grupal de autodefesa, ou pensar grande, e procurar trazer para esse time todos os melhores jogadores em suas respectivas posições ?
Os lugares na seleção não são cativos em virtude da preferência subjetiva do treinador, porém carecem de ser decorrência do valor pessoal e atlético de cada jogador. Ninguém deve ali estar por simpatia pessoal do técnico, e sim porque é craque ou, na falta desse requisito maiúsculo, por ser um elemento esforçado e capaz de manter o equilíbrio do conjunto.
Ao ouvir o sólito locutor da Rede Globo elencar os nomes do grupo de Dunga e apressar-se em seguida a afirmar que não havia surpresas na convocação, como poderia definir a minha reação de telespectador brasileiro ?
Senti a decepção e a perplexidade do torcedor ao se deparar com a gritante injustiça de Dunga que ignora a recuperação de Ronaldinho Gaúcho. É o caso de uma negativa premeditada, que obedece a outros insondáveis critérios que não a capacidade técnica do craque. Chega a desconhecer o apelo de Parreira, seu antecessor na seleção. A convocação de Ronaldinho Gaúcho se sustenta não só no desempenho do jogador em seu clube italiano, mas também e sobretudo porque é indispensável dispor de um reserva à altura para Kaká. Se algo ocorrer com o meia do Real Madrid, vamos inventar a quem como armador da seleção ? Alguns dos brucutus volantes de que é rico o coletivo ?
Por outro lado, ignorou os jovens valores recém surgidos no Santos, campeão paulista. Se tivéssemos Dunga como selecionador em 1958, ele faria como Feola, convocando o jovem Pelé, de dezessete anos ? O mais provável é que se fiaria em Dida como titular. E quem perderia, por não ousar convocar o estreante Pelé ? Certamente o Brasil.
Tampouco agiu como Parreira em 1994, que convocou Ronaldo, também com dezessete anos. Dessa vez, o jovem Ronaldo não foi necessário, pois Romário cuidou do recado. Mas valeu a intenção, na coragem de chamar uma jovem e grande promessa.
Não há surpresas na lista de convocados, disse o locutor da Globo, dentro da linha oficialista que caracteriza a Rede. E os ‘comentaristas’ presentes captaram bem a deixa, silenciando sobre as gritantes omissões de Neymar e Ganso.
Somente Casagrande entremostrou um pouco de irritação. Houve uma reclamação rubronegra de Júnior, reclamando da barração de Adriano. Se o desconhecido Grafite só é pensável em um esquema de Dunga, a não-convocação de Adriano se justifica, pelo que o jogador não vem apresentando ultimamente. Mas para outra pessoa com um sopro de grandeza o espaço deixado por Adriano poderia ser preenchido pelo novato Neymar.
Dunga privilegia o grupo, põe o coletivo acima do valor individual dos jogadores, e fomenta a atitude de uma grande família que está fechada a seu redor.
O Brasil não se pode dar ao luxo de, em sua seleção, pensar pequeno. Ele não é uma falange ameaçada por todos os lados. A par da coordenação da equipe, o valor individual e a contribuição de verdadeiros craques é insubstituível.
Na hora das decisões, será que veremos outra vez levantar-se algum algoz de equipe estrangeira, e inchar a nossa rede, como o fez o craque Zidane, em 1998, e o ligeiro Thierry Henri, em 2006, sob as vistas de Roberto Carlos, arrumando as próprias meias?
Gostaria de ser desmentido na África do Sul. Mas se convocar é chamar para a seleção os melhores em cada posição, já começamos mal em muitas delas.
terça-feira, 11 de maio de 2010
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