O Primeiro Ministro Gordon Brown, em declaração feita ontem perante a sede do governo, reconheceu a própria responsabilidade no resultado do pleito. Como o julgamento do eleitorado havia sido desfavorável à sua liderança, anunciou a decisão de não pleitear a permanência à testa do gabinete.
Dada a recusa de Nick Clegg, líder dos liberais, de manter conversações com Brown sobre uma eventual aliança de governo, a resolução do líder trabalhista se afigura como lógica. Não deseja servir de empecilho a um entendimento com os liberais-democratas.
A principal reivindicação de Clegg é a da mudança do sistema eleitoral, que passaria a ser proporcional. Para tanto, se concertaria um referendo em que os eleitores do Reino Unido manifestariam a sua eventual concordância. Tenha-se presente que os liberais democratas foram os principais prejudicados pelo atual sistema majoritário. Ao invés dos 57 deputados eleitos, os seus quatro milhões de votos dariam, segundo o sistema proporcional, mais de uma centena de representantes.
Liberais democratas e trabalhistas têm plataformas de governo não muito diversas. A resistência dos trabalhistas, outrossim, ao voto proporcional não é tão acentuada, quanto a dos conservadores.
De qualquer forma, a posição de Nick Clegg é determinante para decidir a formação do novo gabinete. Posto que a aliança com os trabalhistas determinaria a inclusão de pequenos partidos (de Gales e da Escócia, entre outros), e não teria, portanto, a coesão que seria dada por uma coalizão com os conservadores (a que faltam apenas vinte votos para atingir a maioria absoluta), a solução definitiva dependerá sobretudo de Nick Clegg.
Diante da abertura do jogo político ensejada por Gordon Brown, grande parte da imprensa britânica que, seja por simpatias aos conservadores de Cameron, seja por pertencer aos jornais do magnata Rupert Murdoch, despejou suas vitriólicas manchetes contra o Primeiro Ministro, a quem qualificou de ‘sem teto’ (squatter) e de “esquálidas” as eventuais negociações.
Dentro das características dos tablóides ingleses, essas ofensas não espantam, nem fogem da norma.
Agora caberá aos trabalhistas reunir o respectivo congresso para eleger o novo líder. Não é processo rápido e o fato de o partido não dispor de chefe com plenos poderes criará uma eventual incógnita que pode facilitar os propósitos dos ‘tories’ de David Cameron.
De qualquer forma, as propostas de Cameron aos liberais terão de ser mais amplas e generosas, com a inclusão do referendo para a decisão popular de eventual novo sistema de aferição dos sufrágios, se almeja ter a preferência do ‘árbitro’ Nick Clegg.
Como o de 1974, a duração do gabinete que sair das negociações possivelmente não será muito longa. Se, no entanto, for precedida do referendo sobre a votação proporcional, esse ‘hung parliament’ terá influência duradoura sobre os futuros resultados das eleições no Reino Unido.
( Fonte: CNN )
terça-feira, 11 de maio de 2010
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