quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os Dois Gigantes

Segundo noticia o New York Times, realiza-se atualmente encontro de alto nível, de três dias,entre representantes dos governos da República Popular da China e dos Estados Unidos. O objetivo da reunião entre a superpotência (e maior economia mundial) e o maior país em desenvolvimento (e terceira economia mundial) é o clássico de aumentar e estreitar os laços respectivos.
A delegação estadunidense com cerca de duzentos membros foi acolhida em cerimônia na ‘Grande Sala do Povo’, pelo Presidente Hu Jintao. Segundo se assinala, enquanto os representantes americanos vieram com longa lista de reivindicações, a parte chinesa estaria contente com o status quo e supostamente não teria muitas solicitações. Nesse sentido, o discurso do Presidente chinês elogiou “a cooperação mutuamente benéfica e win-win[1]” entre as duas nações.
Quanto ao sensível aspecto da revalorização da moeda chinesa, o renminbi, Hu Jintao observou que a sua administração agiria “sob o princípio de decisão independente, controlabilidade e progressão gradual”.
Sob um certo prisma, Hu Jintao nada acrescentou ao óbvio, eis que apenas discorreu sobre a respectiva autonomia governamental na matéria. Não obstante, o fato de que o presidente haja mencionado a questão poderia indicar uma certa abertura, ou reconhecimento de que oportunamente o assunto carece de ser tratado.
De seu lado, semelha não ter o principal delegado americano, o Secretário do Tesouro Timothy Geithner, intenção de tomar uma atitude mais proativa na matéria. Haveria a respeito o entendimento de que, por ora, para Washington seria melhor não forçar o parceiro chinês pondo esse tópico na mesa das negociações. Essa tática decorreria da convicção de que a valorização do renminbi já estaria de certa forma na ordem do dia, e por fatores mais econômicos do que políticos ela deverá fatalmente ocorrer. A própria menção sponte sua[2] do tema por Hu Jintao corroboraria de certa maneira essa tese.
Além disso, a chamada crise grega, que por muitas circunstâncias evoluíu para uma crise, ou pelo menos, enfraquecimento do euro, estaria atuando, e em duas frentes, para colocar em questão a atual paridade da moeda chinesa.
A presente tendência para a depreciação do euro acarreta a automática apreciação do renminbi. Como o mercado europeu é o mais importante para a RPC, superando mesmo o estadunidense, com as suas exportações mais caras a posição competitiva chinesa sofrerá em consequência.
A subvalorização do renminbi (ou yuan, como também é conhecida a divisa chinesa) constitui a chave de ouro de Beijing para abrir o acesso a vultosos saldos na balança comercial, saldos esses que se convertem no balanço de transações correntes em imensos saldos que tendem a reforçar uma sólida posição de credor de Washington, cuja importância financeira ( e política ) não carece de ser ressaltada.
Por isso, a atual crise – ou enfraquecimento – do euro, pode constituir um fator negativo para os prósperos negócios da China. Nesse contexto, manda a elementar prudência que as autoridades financeiras chinesas prefiram não mexer na atual paridade do renminbi. Essa postura de expectativa deverá ser a regra enquanto não se estabilizar a situação do euro, e não se configurar a recuperação da economia europeia.
Com o encarecimento das mercadorias chinesas (determinado pela valorização do renminbi em relação ao euro), e com o enfraquecimento da economia da União Europeia, fragilizada pela crise grega (e potencial dos demais piigs), o fluxo das exportações chinesas para aquele continente tenderá a diminuir.
Dada a perturbação dos mercados, Beijing não pretende pecar pela precipitação, alterando a paridade do renminbi, em meio a um cenário econômico-financeiro caracterizado por volatilidade não-propícia às boas decisões financeiras.

( Fonte: International Herald Tribune )
[1] ‘ganha-ganha’ ou reciprocamente favorável.
[2] por sua iniciativa.

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