Sob a dúbia premissa de forçar o
empolgamento do poder pelo chavismo, Nicolás Maduro se lança em perigosa trilha
com vistas a afastar do quadro político a Assembleia Nacional Venezuelana, a
própria Constituição vigente, e, em consequência, implantar a ditadura.
Quando o Povo da Venezuela lhe
perguntar em que direito ele baseia sua pretensão, a resposta do Ditador
tentará expressar que se tratará do mandado imposto pela nova realidade
encarnada pela Assembleia Constituinte.
Embora armado e com tropas
distribuídas pelo país, Maduro convidou a oposição a participar de "uma
mesa de paz" e reconciliação antes das eleições. Com esse murcho ramo de oliveira, ele pediu à
oposição que "abandone o caminho da insurreição", volte seu foco
para a Constituição e participe de uma "mesa de diálogo, acordo nacional e reconciliação da pátria".
Às melífluas palavras introdutórias
de uma paz peculiar, que tem sido repudiada pela população nas ruas, praças e
avenidas das cidades venezuelanas,
Maduro não tardaria em aditar o que quase todo o Povo da terra de
Bolívar de há muito entrevê e prevê: se sua proposta não for aceita, ele entregará à Constituinte "todo o
poder de convocar de maneira obrigatória um diálogo nacional de paz com uma lei
constitucional". E aditou: Vocês
escolhem, disse Maduro, dirigindo-se aos líderes opositores.
Em desafio ao governo, a coalizão
opositora Mesa da Unidade Democrática
(MUD) anunciou que estenderá a toda a Venezuela a mobilização que havia
convocado para hoje (28 de julho) em
Caracas, como parte da pressão para que
o Governo desista de reformar a Constituição.
Consoante o líder opositor
Henrique Capriles : "Diante de outra violação dos direitos do povo, amanhã
será a tomada da Venezuela, não de Caracas." Ex-candidato a presidente, Capriles confirmou
que a marcha ocorrerá em todo o
país, e não apenas na capital, como previsto.
No esforço de empunhar as
achas da guerra, o ministro do Interior, o general Nestor Reverol, segundo a
intenção de engessar os órgãos estaduais, as Forças Armadas assumirão o
controle de diversos órgãos dos Estados e dos municípios. Não tarda de resto a
desvelar-se a verdadeira intenção da manobra: "Temos uma equipe de membros
credenciados das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, que será responsável e
terá controle operacional da polícia estadual e de 19 corpos policiais
municipais."
Como um elefante na
sala, o controle operacional das polícias estaduais e de corpos municipais
aponta claramente para medidas preventivas para ter dominadas eventuais
tentativas de resistência nos estados.
Tudo isso, além das medidas usuais para os dias de
votação, como o controle reforçado nos acessos fronteiriços, a proibição de
venda de bebida alcoólica e de deslocamento de maquinária pesada. Também
ratificou a proibição da comercialização de fogos de artifício...
Como é notório, no
entanto, a eleição dos membros da Assembleia Constituinte está prevista para ocorrer em meio a inúmeros atos de
desobediência civil promovidos pela Mesa da Unidade Democrática (MUD) com
vistas a criar condições para impedir o processo, que a justo título a oposição
qualifica como fraudulento.
Maduro, com seus
generais e chefes policiescos, tenta impor a paz dos cemitérios na terra
venezuelana. Para que os acólitos dessa
intentona se conscientizem de que não está morta a resistência democrática,
várias circunscrições de Caracas e outras cidades amanheceram ontem, 27 de
julho, com escombros e barricadas em diversas ruas, no segundo dia da greve
proclamada para 48 horas.
Quatro pessoas
morreram nos confrontos dos manifestantes com as forças da segurança - três na
quarta-feira e uma ontem. Em consequência, se eleva a cento e sete o número de
mortos nos protestos desencadeados desde o primeiro de abril. Há centenas de manifestantes presos pela
polícia e por membros da chamada Guarda Nacional Bolivariana- mais uma força
repressora com que o ditador mancha o nome do Libertador.
Enquanto
a Oposição avalia em 92% a adesão à greve do dia 26 de julho, não obstante que
o governo a taxe de fracassada, valendo-se para tanto do funcionamento da
indústria petrolífera que o Governo controla.
Em ambiente
surrealista, diante do crescimento das pressões internas e externas, Maduro buscou convocar os partidários para o encerramento da campanha
pela Constituinte. O governo procurou
reagir contra o anúncio do governo americano de sanções contra treze funcionários venezuelanos por minar a democracia na Venezuela,
Conforme à
cartilha chavista, Maduro pediu aos
venezuelanos que votem em massa na eleição dos 545 integrantes da Constituinte
que serão responsáveis por reformar a Carta Magna e hão de liderar a Venezuela
por tempo indefinido com poderes absolutos.
De uma parte, o
governo busca reiterar que a sua
Constituinte é "o único caminho para a paz" em meio à grave crise política e econômica. De outra, a voz da Oposição recorda que o governo de
Maduro, que é reprovado por 80% dos venezuelanos, busca com a Constituinte perpetuar
o chavismo no poder.
* *
Há poucas dúvidas sobre o grande
movimento popular de resistência ao ditador. A sua incompetência, tanto
política, quanto administrativa, a desonestidade de seus apelos à concórdia,
em que, contando com o apoio dos chefes castrenses, pensa servir-se do braço
armado do exército para fundamentar o próprio governo - com os braços da
corrupção e da origem militar do já
deformado regime chavista. A tal constituinte é uma ideia de Maduro - o que já
lhe desmerece a capacidade intelectual. Na verdade o que ele pretende implantar
à força é um regime firmado em frágil base, porque destituído da legitimidade
do voto universal, que ele tratou de adulterar com o recursos aos
subúrbios e às bases dos chamados coletivos, neles buscando a unicidade de
pensamento radical, sem outra ligação que aquela ao poder chavista. Nesse
sentido, a convocação dessa falsa Constituinte se inicia com o repúdio -
subentendido é claro - ao universalismo, que é a base de toda a Constituição
digna de tal nome. Por isso, o tal livrinho que os tais constituintes
escolhidos com a lisura da nossa República Velha deverão aprovar é apenas o
chão em que se pisoteia a democracia,e que como todo o Povo deve sabê-lo só
preserva a respectiva autenticidade e respeito ás aspirações populares com
diferente pleito, que responda aos princípios que constituem a ossatura de um
organismo livre, por homens livres formado, e não um Frankenstein que nada mais
é que cartilha mal copiada de ditames já gastos e desmoralizados.
Como pode ser democrático e,
por conseguinte, cativar o demos, se
outras forças o instituem, como a de quem se pretende Chefe máximo, e que tem
governado, com notável coerência, apoiado na corrupção, na conivência das
igrejinhas, e no chavascal dos regimes que se dizem democráticos e que se
refocilam no populismo e da demagogia. Para que continue vivo carece do apoio
das forças armadas, aquelas que prezam os luzentes uniformes, as regalias que
lhes enchem a mesa, e costumam engordá-los muito além do militar viril, que
honra à Constituição e à Democracia.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )