Esperada por gregos e troianos, petistas e tucanos, a nova pesquisa do Datafolha acabou chegando na noite de sexta-feira, treze de agosto. Para os supersticiosos, não será decerto a mais propícia das datas, eis que a conjunção de sexta com o número treze não semelha de bom augúrio para muitos. Se se acrescenta o mês agosto - que na história do Brasil está marcado por tragédias e tropeços - a associação já há de afigurar-se excessiva. Daí, o ainda mais generalizado sentimento que lhe é votado, devendo assim, no que possível for, ser evitada a todo custo.
O Datafolha goza de geral respeito. O que vem do seu cesto é piamente aceito pela esmagadora maioria, dada a inexcedível lisura do respectivo trabalho, como o próprio deputado Cyro Gomes teve a oportunidade de asseverar com proverbial franqueza.
Assim, os três principais candidatos, no limiar do horário eleitoral gratuito, ocupam posições definidas diante dessa penúltima barreira antes dos comícios de três de outubro. Dilma Rousseff (PT) tem 41% (e 26% na resposta espontânea) dos votos; José Serra (PSDB) tem 33% (e 16% na espontânea), e Marina Silva (PV), 10% (e 5%).
Por primeira vez, Dilma supera Serra de forma inequívoca. Depois de longa liderança, o tucano cede agora o lugar à petista. Por sua vez, a despeito de toda a simpatia que lhe é prodigada, a Senadora Marina Silva continua empacada nos dez por cento.
Depois dos reclamos e queixumes do comando petista acerca da suposta ‘proteção’ atribuída a José Serra pela dupla do Jornal Nacional, com os seus quarenta pontos de audiência, sobreveio um satisfeito meio-silêncio, que está aparentado aos temores do salto alto. A acenada vitória deve ser comemorada a portas fechadas, para não provocar os deuses e seus insondáveis caprichos.
Serra, que não é marinheiro de primeira viagem, já antecipara a pouca sorte de vir em terceiro no sorteio do JN. Segundo o alto tucanato, a maior exposição de Dilma teria bem impressionado todo o arco do eleitorado, cabendo a Serra apenas um terço do público com a oportunidade de assistir a seu bom desempenho. Tudo por conta da química desfavorável entre pesquisa e aparição no jornal da Globo.
Consoante testemunho dos diretores da pesquisa Datafolha, ela carece de ser vista como um divisor de águas. Para tanto, se assinalaria por duas características: (i.) a liderança isolada de Dilma Rousseff na disputa presidencial e (ii.) uma redução importante da influência do presidente Lula como cabo-eleitoral de sua candidata.
Não havendo dúvidas sobre o primeiro dado, cabem esclarecimentos sobre o segundo: “o índice que reflete o potencial de crescimento da petista, com base no poder de transferência de votos que o presidente demonstra ter junto aos eleitores, é o mais baixo desde que o instituto passou a monitorá-lo em dezembro passado. Na ocasião, 14% dos brasileiros queriam votar em um candidato apoiado por Lula, mas não escolhiam Dilma por não associá-la ao presidente. Oito meses depois, esta taxa está em 7%. Comparado com o levantamento anterior, (...) há uma queda de três pontos percentuais nos últimos 20 dias.”
Que conclusões devem ser tiradas da queda do índice ? Ainda de acordo com Paolino e Janoni, do Datafolha: “A ex-ministra cresceu justamente nos segmentos nos quais a força do cabo eleitoral Lula é maior: entre os habitantes do Nordeste, menos escolarizados e com baixa renda. O percentual que agora sobra desse segmento fiel ao presidente é bem menor e tem baixo acesso à informação. É um estrato ainda mais difícil de ser alcançado. Daqui em diante, o conjunto a ser disputado é o dos que cogitam votar em um candidato apoiado por Lula, mas não estão certos disso. Hoje, eles são 22% do eleitorado e votam mais em Serra (36%) do que em Dilma (31%). Para esses, o desempenho do presidente não é suficiente para convencê-los a eleger sua ex-ministra. Sai de cena o protagonismo do criador. É a vez da criatura.”
Consoante os pesquisadores, as incógnitas recaem na passagem da maior influência à criatura (Dilma) e não mais ao criador (Lula). Complicadores no quadro são ao menor percentual para efeito de manobra, mas também e a fortiori, no baixo acesso à informação desse segmento de indecisos. Para tanto, os generosos dez minutos de horário gratuito não seriam de muita valia.
De tudo o que precede, há indicações que aconselham uns e outros a pôr as barbas de molho. Com tanto tempo ainda pela frente, parece prematuro declarar as sortes como lançadas.
Para vencer ainda no primeiro turno, a Dilma interessa o enfraquecimento da tertius Marina e a manutenção dos nanicos abaixo do um por cento. Evitar-se-ía, assim, o fenômeno Heloisa Helena e Cristovam Buarque que forçou Lula ao segundo turno, em 2006, contra Geraldo Alckmin.
Serra tem de motivar o eleitor e evitar maiores sangramentos. Dispõe de tempo suficiente no horário gratuito para tanto.
A candidatura de Marina, no momento, é uma afirmação de validade para pleitos futuros. O seu baixo teor de rejeição pode ser uma faca de dois gumes.
Tudo está pronto, portanto, para um grande esforço final do Presidente e de todos os seus homens.Sem excluir o aparelhamento do Estado, como a recente incursão do Ministro Mantega nas estatísticas de FHC e Lula tende a demonstrá-lo.
Mas cuidado, Senhor Presidente! Na aplicação demasiado profusa de tal medicamento, há instâncias históricas que o desaconselham, porque os eventuais abusos podem ter efeitos perversos.
Em outras palavras, há mouros na costa, mas os jogos ainda não estão feitos.
( Fonte: Folha de S.Paulo )
domingo, 15 de agosto de 2010
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