quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (08)

Preferiu ir buscá-la de carro. A garagem do prédio não tinha estacionamento marcado. Como havia vindo mais cedo, ele estava bem parqueado. Mas não se importou, pois queria levá-la para um restaurante mais longe.Nada de escolher um das vizinhanças e dar de cara com algum conhecido.
Eudóxia lhe dissera que buzinasse da rua. Apesar do movimento, não via problema em que parasse em frente do edifício, que ela estaria esperando e desceria logo.
*
Falara que viesse esportiva, que era uma saída simples, só pra eles se conhecerem melhor.
Ao vê-la descer os degraus da entrada do prédio, ficou a um tempo surpreso e encantado. Além das sandálias douradas de salto alto, vestia minissaia e um top que mostrava a barriguinha.
Posto que para seus padrões fosse um traje vistoso, a impressão que lhe deu não foi negativa. Muito pelo contrário. Para ele, a roupa não brigava com a juventude da moça. Assim, ao invés de incomodá-lo, admirou de pronto o modo com que ela escolhera começar a relação dos dois.
Como houvesse um guardinha por perto, não desembarcou do carro, como se dispunha a fazê-lo. Para evitar a multa, o peito curvado, o semblante risonho, os olhos compridos, espichou o corpo para abrir a porta direita, acolhendo, entre animado e ansioso, a bela passageira.
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“ Parece que acertamos os nossos relógios !”
“ Que engraçado ! Parece que cronometramos...”
Quando se deram conta de que haviam falado ao mesmo tempo a mesma impressão, ambos acharam graça. E a consonância de ideias os fez trocarem um olhar cúmplice, satisfeitos em quebrarem a cerimônia do primeiro programa a dois.
Persistiu em Álvaro algum nervosismo, que se traduzia em certo exagero nos gestos e nas palavras. A cálida placidez da acompanhante, que lhe retribuía com ternura as atenções, não tardou , porém, em livrá-lo da incipiente insegurança.
Não desagradou a Eudóxia aquele resquício de timidez, que ela interpretou como mais uma mostra do interesse dele em cativá-la.
“ Você gosta de comida italiana ?”
“ Sou fã...”
“ Então, vamos até a Barra. Lá tem uma ótima trattoria, a Da Giuseppe, e o local é muito simpático.”
A parada no sinal lhe permite fitá-la mais longamente.
Mergulha prazeroso nos suaves e meigos olhos, que a ele se dão inteiros.
Por indefinido instante, os dois se contemplam. Até que a buzina do carro de trás os desperte para a servidão do tráfego.
E enquanto o Parati avança, a dupla ri, feliz, embalada pela sensação de compartilhar a descoberta das primícias de mútuos encantos.
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