Um bom Partido (12)
Embora a frequência noturna na faculdade lhe atrapalhasse os programas, Álvaro optou por respeitar o esquema de Eudóxia. Preferiu acatá-lo, se bem que não lhe agradassem as noites que tinha de passar longe dela, na companhia contrafeita de Raquel. Entre o maçudo silêncio da filha e a torrente de recriminações que tal mutismo represava, não tinha dúvidas em aferrar-se ao primeiro.
Caso, entretanto, as comportas se abrissem, em geral, se abstinha de retrucar. Ou se levantava para recolher-se, ou, enquanto lhe fosse possível, se autocontrolava, em exercício que, ao fim e ao cabo, lhe consumia talvez mais energia do que lançar-se em bate-bocas e destampatórios.
Mais pensasse sobre a questão, mais se capacitava de que o ambiente se lhe tornava insuportável pela básica razão de que os papéis respectivos se haviam invertido. Do dia para a noite, como se fosse de novo adolescente, tinha o comportamento questionado pela própria caçula. Seria ridículo se não lhe exasperasse, a ponto de dar-lhe palpitações.
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Na segunda semana, como o chorrilho não cessasse, achou que chegara a hora de pôr um termo àquela situação. Não aguentava mais com tudo aquilo. Apesar de não mencionar o embaraço para Eudóxia, sentia que ele, de certa forma, pesava na relação. A par disso, tampouco podia iludir-se com a causa do problema. Por não querer ou saber impor-se, permitira que a insegurança de Raquel diante de sua resolução de levar avante a vida sentimental transformasse o convívio de pai e filha em verdadeiro inferno doméstico.
Muitos limites haviam sido transpostos. E, infelizmente, o desrespeito cria suas próprias regras, e a primeira delas é a impossibilidade de reconstituir o vaso quebrado pela discórdia.
Foi então que lhe acudiu ter uma conversa com a comadre.
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quarta-feira, 11 de agosto de 2010
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