A irresponsabilidade humana tem limites demasiado flexíveis. O comportamento recente da Petrobrás é mais uma vez prova dessa estranha tendência de que o infortúnio e o desastre de outrem são julgados não como oportunas advertências, mas como eventos alheios que não lhe dizem respeito.
Tome-se a catástrofe da plataforma da British Petroleum no Golfo do México,com o vazamento do poço, e as suas ruinosas consequências não só para todo o entorno dessa região, mas também para a própria companhia, sobre que pesa uma dívida gigantesca e a possibilidade da falência.
O acidente da B.P. não foi raio que de repente atingiu a empresa saído sem nenhum pré-aviso de um sereno céu azul. O estouro na plataforma fora precedido de ocorrências que inquietaram as turmas encarregadas da operação, sendo objeto de comunicações aos respectivos superiores.
Movidos pela cega ganância, as instâncias responsáveis optaram por ignorar as sinalizações dos operadores. Com os resultados amplamente conhecidos.
O que é difícil de entender terá sido a atitude a princípio impérvia da Petrobrás.
Partindo da soberba empresarial – como se a experiência pregressa fosse um ativo inatacável se não aplicada ao presente – a estatal brasileira agiu de início, quando confrontada com a explosão na plataforma P-33, como se a questão estivesse na prática superada.
Assim, a parada para reparos, marcada para julho último, não aconteceu, segundo verificado pelo auditor fiscal do trabalho José Roberto Aragão. Consoante divulgado na imprensa a seriedade da situação é comprovada por fotos da P-33 com pontos de risco e equipamentos enferrujados. Como se não bastasse, já houve nove acidentes de trabalho nessa plataforma.
Na vistoria, os fiscais do Ministério do Trabalho encontraram onze situações de perigo e cinco autos de infração foram lavrados.
Contrariando declarações emanadas da Petrobrás, sobre uma suposta normalidade, petroleiros da P-33 informaram sobre tubulações remendadas com massa epóxi. Além disso a Marinha divulgou um início de incêndio, debelado, na P-35.
Agora, a Petrobrás anuncia que interromperá em outubro as operações da P-33 na bacia de Campos. A companhia terá suas razões, mas dados os prenúncios, quanto mais cedo ocorra a intervenção reparadora, melhor será.
A Petróleo Brasileiro S.A., este grande legado do Presidente Getúlio Vargas, é um patrimônio do Brasil, e deve ser cuidada com atenção e responsabilidade. O cego intento de maximizar os ganhos pode sair pela culatra, como aconteceu com a B.P. A atitude soberba do “isto acontece com os outros” é má conselheira.
A Petrobrás já perdeu uma plataforma na Bacia de Campos, a P-36 com onze vitimas fatais. Conforme relatório técnico, o sinistro de 15 de março de 2001 se deveu a falhas no projeto e na manutenção. À luz da passada trajetória e de seus ensinamentos, ao invés de marcar para outubro p.f. a suspensão dos trabalhos na P-33 o mais prudente seria interromper de pronto a operação, para que os devidos consertos sejam realizados. Decerto que eles custam caro, mas há muito mais do que danos materiais em jogo. Bem sabemos, e não só por cortesia da B.P., que há muitas considerações humanas em jogo. A ameaça do desastre é razão suficiente para não mais procrastinar a indispensável intervenção. Tudo valhe a pena para evitá-lo.
( Fonte: O Globo )
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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