terça-feira, 10 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (11)

A mesa do café está posta. Se estivesse sozinho, ou na companhia da filha, tomaria às carreiras meia xícara de café preto e sairia porta afora. Vendo, no entanto, Eudóxia sorridente a esperá-lo, se decide por um café completo.
Na frente da empregada, a dupla troca beijinhos sociais.
“ Zélia, por favor, me traga o leite quente.”
Por um momento, ela hesita, como se Álvaro lhe esteja solicitando algo incomum. O que, de fato, é o que ocorre.
“ Você me acompanha no café ?”
Eudóxia aceita e a refeição se prolonga.
De longe, a empregada espia. O comportamento do patrão a intriga. Nunca vira seu Álvaro assim, tão conversador, sem ligar pro horário do trabalho.
*
Manhã como tarde transcorreram sem maiores novidades. Meia dúzia de telefonemas de clientes, que ela, ou anotara, ou nos casos de urgência repassara para Álvaro.
Almoçou sozinha. Para estranheza da empregada, Raquel não aparecera.
Por seu lado, ela não se surpreendeu muito. Mais intuindo a reação da filha, do que informada em detalhes, Eudóxia procurava afastar o assunto da mente.
Decerto, não era tarefa fácil. Sentira que havia algo no ar, mas preferira não levantar a questão com Álvaro.
Tampouco achou por bem reagir aos comentários de Zélia. Se atrasara a refeição na vã espera da moça, ao se resolver a servi-la, não se furtou a um desabafo.
“Aonde será que a Raquel se meteu ?”
E ao retirar o pratinho da sobremesa:
“Custava dar um aviso?”
Eudóxia permaneceu calada. Como se a questão não lhe dissesse respeito.
*

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