quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (07)

Durante a tarde, não lograva concentrar-se. Sentia que o trabalho não rendia. Volta e meia, pensava nela. Na sua presteza, domínio da situação, mas sobretudo no carinho demonstrado.
A princípio, intenta controlar-se. Lembra-se da diferença de idade e de tudo o que pode implicar.
Batalha por varrê-la da mente. Busca distrair-se nas tarefas da rotina.
Em vão. Diante dele, a imagem radiante, envolvente, que lhe enche as medidas.
Por duas vezes, ele lhe telefona. São comunicações breves que, na verdade, não passam de pretextos para ouvir-lhe a voz.
Até que lá pelas cinco, ele se decide.
“ Eudóxia ? Tou com uma ideia pra hoje à noite...”
“ Sim ?...”
Tem logo presente que ela não menciona o curso noturno.
“ Queria levar você para jantar fora comigo. Assim, estaríamos mais à vontade... Tenciono mesmo terminar a refeição.”
Do outro lado da linha, a moça riu baixinho.
“ Se você quer assim...”
“ Prometo que não vou atrapalhar mais os seus estudos...”
“ Que nada...”
“ Então, passo em casa daqui a pouco e daí saimos ?”
“ Quero propor a você um esquema um pouquinho diferente...”
“ Diferente, como ?”
“ Acho que ficaria melhor que você passasse no meu apê e de lá a gente saía.”
“ É o apartamento de sua família ?”
“ Não ! Os meus pais não moram no Rio.”
Da outra parte, silêncio.
“ Moro com duas moças, que dividem o apê comigo”, completou Eudóxia, antecipando-se à pergunta de Álvaro.
“ Ah! ótimo !”, exclamou ele.
Após tomar nota do endereço, combinaram para as oito.
*
“ Vai sair pai ?”, indagou Raquel.
Álvaro passava o barbeador elétrico diante do espelho do banheiro.
“ Vou.”
“ Posso saber com quem ?”
Por uns momentos, só se ouvia o ruído do aparelho.
“ Vou jantar com a Eudóxia.”
“ Não acredito !”
Imperturbável, continuou a repassar nos pontos difíceis.
“ Não acha que é um pouco cedo pra isso, pai ?”
Sem mover um músculo da face, cruzou à frente da filha, entrou no quarto e fechou a porta.
*

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