segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (15)

No dia seguinte, se resolveu a dar mais um passo na relação. Acreditava mesmo, se a sua leitura de algumas atitudes de Eudóxia fosse acertada, que já deveria tê-lo feito antes. Hesitaria talvez menos por timidez do que por padrões da própria geração.
“ Estava pensando em um programa diferente para o fim de semana...”
Fez uma pausa, enquanto a fitava fixamente, buscando antecipar-lhe a reação. A expressão dela, no entanto, permaneceu impassível.
“... há um hotel muito simpático nos arredores de Teresópolis...”
Com sorriso indefinido nos lábios, o olhar de Eudóxia se demorou, por um longo instante, nos olhos ansiosos de Álvaro.
“ Boa ideia”, respondeu, quase num sussurro.
*
“ Pai ?”
“ O que é, filha ?”
Ao contrário do seu hábito dos últimos tempos de fechar-se no quarto, Raquel o esperava na sala.
“ É verdade o que a Zélia me disse ?”
“ E o quê foi que ela lhe disse ?”
“ Não tou querendo acreditar...”
“ Se entendo bem, você não está querendo acreditar no que ela lhe disse ?”
“ Pai, tudo tem um limite...”
“ Minha filha, não vou ficar aqui dando voltas em torno de uma estória contada pela empregada.”
“ Então, por que o senhor não pára com esse teatrinho ? Basta confirmar o que sabe muito bem o que é...”
“ Raquel, se você está querendo me perguntar se vou passar o fim de semana fora, a resposta é sim.”
“ Pai, passar o fim de semana fora com aquela mulher... Pai, mamãe morreu não faz nem seis meses... será que o senhor não é capaz de sentir um pouco, um pouquinho só, de vergonha ?”
“ Filha, me dá licença...”
Incontinente, caminha para o quarto e cerra a porta. Mas não a tempo de não ouvir a exclamação:
“Coitada da mãe ! Não merecia isto !”
*

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