quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CIDADE NUA IV

Um bom Partido (18)

Entretidos no próprio convívio, nos mútuos agrados e nos encantos que ambos partilham, seja da permissividade do ambiente, seja das tácitas promessas da ocasião, deixam felizes passar o tempo.
Não será que belisquem os pratos que ordenaram, mas sentem que esse apetite não os domina. Apreciam o que comem, embora guardem um certo controle. Dão a impressão de que os encaram mais como um pretexto para a conversa, de que um fim em si mesmo.
Já o vinho o degustam com o vagar de quem se compraz com qualidade. Por isso escolheram a meia-garrafa. O excesso aqui não tem vez. Sem o ritual dos provadores, a maneira comedida de Álvaro vai ensinando à companheira das vantagens de mais larga convivência com a prática.
Terá sido de tantas prazerosas circunstâncias a causa de perderem a noção da hora. E acham graça nas desajeitadas desculpas do maître, que se vê forçado a apresentar, de iniciativa própria, ao cavalheiro a conta do jantar, para que a rubrica do hóspede libere afinal os garçons.
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Antes de subirem para o quarto, Eudóxia quis admirar a noite. Lá fora, no entanto, o azul profundo do céu estrelado vem acompanhado do frio serrano que pede um abrigo. De longe, a cintilante mudez do firmamento. A lua estaria em outros cantos.
Assim o inesperado desconforto do relento a faz arrepiar caminho.
Álvaro a cinge com o braço. Quer, a um tempo, acalentá-la e fruir do momento. Dengosa, ela se achega ainda mais ao namorado.
“ Meu bem, mudei de ideia”, murmura em seu ouvido. “Vamos curtir o calorzinho de nosso quarto.”
Ele se diverte. Por um instante, a retém, e talvez inspirado pela sentida beleza do cenário, a envolve em abraço que a traz para junto do ímpeto de seus lábios.
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