Metida nas páginas internas dos jornais, a notícia não desperta a atenção que mereceria caso aparecesse em espaço mais nobre da mídia. E, no entanto, pelo seu caráter estranho, deveria decerto receber cobertura mais adequada.
Segundo se veicula, a direção da Polícia Federal determinou a superintendentes e diretores regionais o bloqueio de verbas para operações em todo o país por prazo indeterminado.
Qual a motivação ostensiva de medida tão drástica ? Em circular interna, o diretor-geral da Polícia Federal, Luis Fernando Corrêa, assinala cortes de dotações no montante de R$ 122 milhões, de janeiro a maio. Nesse sentido, não só já foram reduzidos gastos com o dia a dia das unidades, senão as diárias pagas a delegados e agentes sofreram corte de 40%.
Em março foram impostas medidas de contenção de despesas, através de decreto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que impôs à Polícia Federal redução de catorze por cento na administração das unidades, e de 36% para o Funapol, que é justamente o fundo de custeio de despesas com transporte, hospedagem e alimentação de policiais em missão.
Como se tal não bastasse, houve ulterior decreto presidencial que fez mais um corte, este de 3,5%, no limite dos pagamentos a serem feitos pela P.F.
Nesses termos, o acompanhamento orçamentário indica que o Ministério da Justiça, de que depende a Polícia Federal, só pagou até o presente R$222,6 milhões dos R$410 milhões previstos para atender às despesas de administração da unidade. Não surpreende, por conseguinte, que o seu diretor-geral alerte para a tendência de agravamento da situação. Em tal contexto, falta verba até para pagar a gasolina dos veículos.
Este estado de coisas, provocado por determinação fazendária da Administração Lula da Silva, não pode deixar de provocar muita perplexidade.
Dentro da luta contra a corrupção, a Polícia Federal constitui um dos fatores mais atuantes, como o próprio noticiário no passado ainda recente não deixa de enfatizar. Se a amplitude da corrupção nos três níveis da administração – federal, estadual e municipal – é o fenômeno da atualidade, tendo presente a peculiar inventiva e ousadia de seus múltiplos avatares.A atuação dos policiais federais vem representando o vetor mais visível e relevante da reação ética da sociedade civil contra tão deplorável ordem de coisas.
Se muitas das operações da P.F., e as prisões de dezenas de suspeitos de corrupção, são muita vez atingidas por habeas corpus concedidos pela Justiça, tais tropeços não podem ser atribuídos à Polícia Federal. Com efeito, em entorno no qual a impunidade tende a ser a regra na grande maioria dos casos, a atuação pró-ativa da Polícia Federal nos proporciona momentos de cívica satisfação em um mar de permissivismo e de agressiva arrogância dos que se crêem acima da lei.
Lillian Hellman escreveu, há muito, livro sobre a Hora dos Patifes. Reportava-se a desolador momento da história americana. Estamos sem dúvida precisados de alguém que atualize o assunto, sob perspectiva brasileira, diante da singular abundância dos patifes e quejandos nesta hora e vez, tão presentes e pululantes no quadro de pouca animadora realidade nacional.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
sábado, 14 de agosto de 2010
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